No Rio, movimentos espalham cartazes contra violência e assédio das mulheres
O Rio de Janeiro amanheceu esta semana com imagens inspiradoras por todos os lados. Lambe-lambes com fotos de mulheres, com mensagens em favor da descriminalização do aborto e contra a violência tomaram postes, paredes e até bicicletas pelas ruas do centro da cidade, da zona sul e da zona norte. As mensagens também pedem a punição ao secretário de Governo da prefeitura do Rio, Pedro Paulo, que é deputado federal e acusado de agredir a ex-mulher.
As intervenções fazem parte de protestos e iniciativas que marcam a semana do Dia Internacional da Mulher. Hoje (8), o ponto alto será a partir das 16h, quando haverá um ato nas imediações da Assembleia Legislativa, no centro da cidade. A previsão é reunir centenas de mulheres.
As atividades da semana vão até domingo (13), englobando municípios da Baixada Fluminense e Niterói. Haverá também uma ação contra o assédio sexual no metrô. Serão distribuídos apitos para mulheres chamarem a atenção quando estiverem sendo vítimas de abusadores.
Mobilização feminina
Muitas iniciativas fazem parte do Circuito Mulheres Mobilizadas, que criou uma agenda comum de atividades, englobando ativistas feministas e voluntárias. “As mulheres pensaram nos problemas de seus territórios e ações para revertê-los”, disse Fernanda Garcia, de 20 anos, representante da organização não governamental Meu Rio, que promove a mobilização conjunta.
A iniciativa de colar cartazes com imagens de mulheres e frases inspiradoras é do projeto Feminicidade. Uma das organizadoras, a artista visual Lolla Angelucci, de 35 anos, conta que a ideia surgiu em São Paulo e foi adaptada ao Rio de Janeiro.
“Nós, mulheres, não temos muito espaço de fala na sociedade, dominada por homens. Para ter nosso espaço, nossa chance de falar, fomos ocupar o espaço público chamando para reflexão”, disse.
Entre as imagens do projeto, de mulheres jovens, idosas, transsexuais, prostitutas e profissionais liberais, por exemplo, está a da estudante paulista Marcela Nogueira. “A periferia não sabe o poder que pode ter. Nossas armas são a caneta, o lápis e os livros”, diz. A jovem, que é negra, teve uma foto publicada nas redes sociais em que aparece puxando uma cadeira escolar das mãos de um policial em meio a protestos contra a reorganização escolar do governo paulista.
Já os cartazes pela descriminalização do aborto, contra a violência e pela punição do deputado federal - acusado de quebrar um dente e agredir a ex-esposa, segundo laudo do Instituto Médico Legal, em meio a uma briga - são do movimento Mulheres contra Pedro Paulo. “Estamos começando uma campanha para que todos saibam o que a mídia rapidamente abafa: Pedro Paulo espancou sua ex-mulher em 2010”, disse o grupo, em manifesto enviado à Agência Brasil.
Uma das voluntárias do movimento destacou a necessidade de ampliar a discussão sobre o aborto na sociedade, que, para o movimento, pune mulheres por uma gestação indesejada. “Defendemos um aborto legal e seguro que acabe com as mortes infinitas de mulheres pobres, enquanto as ricas abortam [com segurança] em clínicas privadas”, declarou a museóloga Danielle Machado.
O circuito Mulheres Mobilizadas já fez debates com estudantes da rede pública, performances nas ruas e prepara para hoje a intervenção no metrô e em estações de transporte de Niterói.
Constam da agenda de domingo (13) um festival de música, com os blocos Damas de Ferro, Mulheres Rodadas, Tambores de Olokun e uma exposição da personagem Xota-K, que fala sobre sexualidade, no Arco do Teles, no centro. No sábado (12), na Quinta da Boa Vista, na zona norte, serão encenados trechos curtos de peças de teatro sobre a violência contra a mulher e temas tabus.