Cais do Valongo é candidato a Patrimônio da Humanidade
O Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, teve candidatura aceita para ser reconhecido como Patrimônio da Humanidade, pelo Centro do Patrimônio Mundial, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A notícia foi divulgada hoje (2) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que começou a elaborar o dossiê para a candidatura com a prefeitura do Rio em 2014.
Porta de entrada mais de 1 milhão de escravos africanos no Brasil no século 19, o cais foi o maior porto receptor de escravos do mundo. Soterrado durante mais de um século, ele foi revelado em 2011, durante as obras do projeto Porto Maravilha, que está revitalizando a região portuária do Rio.
Uma missão de avaliação de representantes dos órgãos consultivos da Unesco visitará a região portuária e o Cais do Valongo nos próximos meses. O trabalho técnico terá participação da comunidade e do Comitê Consultivo da Candidatura, composto por instituições governamentais e da sociedade civil, especialmente as representativas da preservação e valorização da herança africana.
Para o instituto, o reconhecimento do cais como Patrimônio da Humanidade é importante para fortalecer o seu valor universal excepcional “como memória da violência contra a humanidade representada pela escravidão, e de resistência, liberdade e herança, fortalecendo as responsabilidades históricas, não só do Estado brasileiro, como de todos os países membros da Unesco”, diz o anúncio. “É, ainda, o reconhecimento da inestimável contribuição dos africanos e seus descendentes à formação e desenvolvimento cultural, econômico e social do Brasil e do continente americano”. O Brasil recebeu mais de 4 milhões de escravos nos mais de três séculos de duração do regime escravagista.
O Cais do Valongo foi construído em 1811. A cidade do Rio de Janeiro, em quase quatro séculos de escravidão, recebeu sozinha cerca de 20% de todos os africanos escravizados que chegaram vivos às Américas. Em 1831, o Valongo foi fechado, quando o tráfico transatlântico foi proibido por pressão da Inglaterra. Em 1843, foi remodelado com requinte para receber a Princesa das Duas Sicílias, Teresa Cristina Maria de Bourbon, noiva de D. Pedro II, e passou a se chamar Cais da Imperatriz. Com a assinatura da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, pôs-se fim verdadeiramente ao tráfico para o Brasil, embora a última remessa conhecida date de 1872 e a escravidão tenha persistido até a Abolição, em 1888.
Em 1911, com as reformas urbanísticas da cidade, o Cais da Imperatriz foi aterrado. Com as obras do Porto Maravilha, foram encontrados milhares de objetos como parte de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, jogos de búzios e outras peças usadas em rituais religiosos.
Em 2012, o cais foi transformado em monumento preservado e aberto à visitação pública e passou a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que estabelece marcos da cultura afro-brasileira na Região Portuária, ao lado do Jardim Suspenso do Valongo, Largo do Depósito, Pedra do Sal, Centro Cultural José Bonifácio e Cemitério dos Pretos Novos. Em 2013, Dia da Consciência Negra, o Cais do Valongo tornou-se patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro.