Falta de remédios de alto custo prejudica doentes crônicos no DF
Doentes crônicos que procuram a farmácia de medicamentos de alto custo do governo do Distrito Federal enfrentam a falta contínua de remédios para tratamento. Dos 225 que compõem a lista de distribuição gratuita, cerca de 45 estão fora do estoque.
De acordo com a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, o sindicato acompanha as licitações para compra de medicamentos muito caros e concluiu que o número de remédios comprados é menor que a demanda.
“A falta de medicação vem se agravando a cada dia de passa devido à falta de planejamento. Não se pensou a saúde pelos próximos 10, 20 anos”, ressalta a dirigente do sindicato que representa os empregados em estabelecimentos prestadores de serviço em saúde.
Em relatório ao qual a Agência Brasil teve acesso, o sindicato destaca que diversos fatores influenciam a falta de medicamentos de alto custo na capital federal. Entre eles estão a demora na tramitação de processos internos na Secretaria de Saúde, atraso na entrega dos remédios, falta de dinheiro, além da demora na tomada de decisões pelo governo local.
“Nós atendemos pacientes de vários estados brasileiros; esse é um dado importante. Há uma população carente e uma pressão do entorno do Distrito Federal, o que agrava a situação. No entanto, isso não justifica a falta de planejamento dos governos. A secretaria [de Saúde] tem um mapa de doença das pessoas, como diabetes, lúpus, câncer, e consegue fazer a projeção da necessidade local”, destaca Marli Rodrigues.
De acordo com o gerente de programação da Secretaria de Saúde, Emmanuel Carneiro, o problema está no atraso da entrega pelo fornecedor em 90% dos casos de falta de medicamentos.
“Não há falha no planejamento. Os contratos são feitos com cerca de um ano de antecedência. Muitas vezes é o próprio mercado que provoca o desabastecimento ou por uma produção deficiente e até mesmo quando o fabricante não tem a matéria-prima do remédio”, assegura.
Atualmente, a Farmácia de Medicamentos Excepcionais atende a 40 mil pacientes. Em geral, os remédios são destinados ao tratamento de doenças crônicas e têm indicação de uso contínuo.
Por meio de protocolo, o Ministério da Saúde define as doenças contempladas, entretanto, os estados e o Distrito Federal têm autonomia para acrescentar tratamentos e, por consequência, medicamentos liberados ao público.
A dona de casa Gilvete Mendes, de 38 anos, é uma das prejudicadas com a falta de remédios. Na fila de espera para o segundo transplante renal, saiu da farmácia sem remédios fundamentais para o seu tratamento, sevelamer e cinacalcete. “Há três meses aguardo os remédios, que não estão disponíveis na farmácia. Quando isso acontece, eu não tomo, pois não tenho condições financeiras de comprá-los”, disse.
A situação de Gilvete é similar à do aposentado Isaldo Neves, de 86 anos. Portador de doença renal grave, o aposentado conta com a ajuda de sua filha, Regina Neves, para buscar os medicamentos. “Estou aguardando o remédio desde 19 de fevereiro e não há previsão deles chegarem”. Segundo Regina, o custo semanal apenas com os dois remédios é estimado em mil reais.
Segundo o gerente de programação da Secretaria de Saúde, Emmanuel Carneiro, não há data certa para recomposição de todo o estoque. “Mas o processo é dinâmico e a previsão é que sejam reestabelecidos o mais rápido possível. Estamos em contato diário com os fornecedores para agilizar essa entrega”, disse.
A falta dos remédios é o segundo assunto mais procurado na Defensoria Pública do Distrito Federal. Em 2016, no mês de janeiro, foram feitos 323 atendimentos, dos quais 16 geraram ações judiciais. No ano passado, foram 3.937 atendimentos, e 474 ações na Justiça.