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No Dia do Braile, deficientes visuais destacam importância e desafios da leitura

O sistema de leitura em alto-relevo para deficientes visuais foi
Marieta Cazarré - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 08/04/2016 - 09:02
Brasília
Escola melhora desenvolvimento de crianças com deficiência
© Tomaz Silva/Agência Brasil
Aimar

Aimar Gomes conta que foi alfabetizado e aprendeu ler em braile na Funadação Dorina Arquivo pessoal

O mineiro Aimar de Souza Gomes, de 46 anos, é um apaixonado por livros, principalmente por romances e biografias musicais e políticas. Nascido em Conselheiro Lafaiete (MG), aos sete anos de idade, mudou-se para Belo Horizonte, onde aprendeu a ler em braile. Aimar, que é cego de nascença, conta que seus pais eram primos em 1º grau e que, talvez por isso, três dos dez filhos do casal tenham nascido sem enxergar.

Hoje (8) é comemorado o Dia Nacional do Braile, o sistema de leitura em alto-relevo para deficientes visuais, inventado pelo francês Louis Braille, em 1827. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia no Brasil mais de 32 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, sendo 6,5 milhões com deficiências severas.

A data, no Brasil, remete ao aniversário de nascimento de José Álvares de Azevedo – o Patrono da Educação dos Cegos no Brasil. Azevedo foi um missionário que, após estudar braile na França, trouxe o sistema ao Brasil e ajudou a fundar, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos – primeiro centro de estudos para deficientes visuais no país.

O braile permite que pessoas com cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo. Cada letra, número, pontuação ou sinal é feito a partir de uma combinação de seis diferentes pontos.

No Brasil, nem todos os deficientes visuais têm, como Aimar, a oportunidade de estudar o braile. Muitos moram longe de municípios com centros especiais de ensino e acabam sem aprender a ler em braile e sem acesso a livros.

Em Brasília, o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais atende aproximadamente 350 alunos por mês e é o único do Distrito Federal e Entorno. Segundo Aírton Dutra, diretor do centro, o local recebe muitos estudantes de municípios de Minas Gerais, Goiás e Bahia.

Professoras aprendem o braille no Instituto Municipal Helena Antipoff, que promove a inclusão de crianças com deficiência na rede pública de ensino (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O braile permite que pessoas com cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo  Tomaz Silva/Agência Brasil

Mercado de trabalho

Para Milene Cristina Orifisi, deficiente visual de 39 anos, a falta de acesso à educação e a baixa escolaridade tornam mais difíceis a entrada no mercado de trabalho. Ela trabalha como gestora de redes sociais na Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), em São Paulo, e afirma que, na maioria das vezes, há um enorme desconhecimento em relação à realidade dos deficientes.

“As empresas, muitas vezes, colocam empecilhos. Acham que o deficiente visual vai ter dificuldade de adaptação, não vai dar conta do trabalho ou não vai conseguir usar o banheiro. Há uma má vontade até na hora de baixar um software para que o deficiente possa trabalhar. Além disso, as áreas de recursos humanos normalmente oferecem [aos deficientes] vagas de subemprego”, desabafa Milene.

A Adeva, uma Organização Não Governamental (ONG) fundada em 1978, trabalha capacitando deficientes visuais para o mercado de trabalho. Além de cursos de braile, são oferecidas aulas de digitação, informática e orientação e mobilidade. Segundo Milene, as aulas de orientação e mobilidade são prioritárias para a autonomia e deslocamento dessas pessoas. “Para que eles possam ir sozinhos para o trabalho, que não tenham que depender de ninguém para se locomover.”

Outra instituição que também busca capacitar pessoas com deficiência visual é a Fundação Dorina Nowill para Cegos, uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico que, há 70 anos, se dedica à inclusão social por meio da educação especial, reabilitação e empregabilidade. A ONG, com sede em São Paulo, atua em todo o país e oferece o curso de avaliação olfativa, a fim de preparar pessoas cegas e com baixa visão para trabalharem com avaliação de fragrâncias, na indústria de perfumes e cosméticos.

Dorinateca

Uma das iniciativas importantes da Fundação Dorina Nowill para Cegos foi o lançamento, no ano passado, da Dorinateca, uma biblioteca digital que permite acesso a um amplo acervo de livros. Para ter acesso aos títulos, é necessário que os deficientes visuais, ou instituições ligadas ao tema, se cadastrem no site www.dorinateca.org.br.

Susi Maluf, gerente de Serviços de Apoio à Inclusão da Fundação, explica que antes da biblioteca digital, a fundação enviava, para os cadastrados, livros impressos em braile ou CD's de áudio. “Agora, com a Dorinateca, os usuários podem acessar online. Todo o acervo fica disponível para download”. De acordo com a fundação, já são mais de mil usuários e a biblioteca tem mais de 4 mil títulos.

“Ouvir, em áudio, o livro Noites Tropicais, de Nelson Motta, foi muito prazeroso”, disse o mineiro Aimar. Ele, que há quase 40 anos frequenta a Fundação Dorina, afirma que o trabalho da instituição foi fundamental para o seu crescimento.

“Foi com o material deles que me alfabetizei, que estudei. A Dorinateca é uma ferramenta que todo deficiente visual deve conhecer. Ninguém mais pode dizer que não tem acesso a livros”, disse Aimar, que é o campeão de downloads de livros no site da biblioteca digital.