Um ano depois, parentes lembram chacina da Pavilhão 9 e pedem justiça
Para lembrar os oito mortos na chacina da Pavilhão 9, torcida organizada do Corinthians, e cobrar justiça, parentes das vítimas, integrantes da torcida e de coletivos e movimentos sociais fizeram um ato hoje (18) no início da noite na Praça da Sé, no centro da capital paulista. A chacina ocorreu há um ano.
No protesto, os manifestantes estenderam fotos e faixas e escreveram mensagens no chão com os dizeres “Justiça para Todos”. No microfone, lembraram os nomes de todos os mortos na chacina.
Mãe e viúvas
“Estou aqui pela injustiça. Está fazendo um ano hoje. Até agora não vi nada. Para mim está parado. O que quero é justiça. Tenho certeza de que ele [o filho] não volta mais, mas quero justiça”, disse Joselita Maria Neves, 62 anos, mãe de Fábio Neves Domingos, um dos mortos na chacina. “A Justiça de Deus não é falha, mas a da terra é. Estou desacreditada. Mas vou lutar até o fim da minha vida”, acrescentou.
Joselita chorou e disse que o filho foi apontado pela mídia como o motivo para a ocorrência da chacina. Na época do crime, policiais disseram a jornalistas que Fábio era o alvo do crime por dívida de drogas e que o fato de ter recebido mais tiros que os demais mortos comprovava essa tese. A mãe nega e diz que se o filho fosse o alvo, os criminosos não teriam atacado as outras vítimas na sede da organizada.
“Disseram que os outros morreram por causa do meu filho e isso dói muito para uma mãe. Estou aqui para pedir justiça. Meu filho era um menino trabalhador. Até hoje ninguém provou nada”, disse, muito emocionada.
Milena Maia do Prado, 64 anos, mãe de outra vítima da chacina, Ricardo Junior Leonel do Prado, também foi ao ato na Praça da Sé para pedir justiça. “As autoridades não fizeram nada. Quero justiça porque todos que morreram eram inocentes. Ninguém devia nada para ninguém. Meu filho era trabalhador e não voltou mais para casa. Ele não era bandido, era trabalhador”, disse, chorando.
Lana Batista, 26 anos, viúva de Mydras Schmidt, disse que no dia da chacina o marido passou rapidamente pela sede da Pavilhão 9, onde ocorria um churrasco. “O Mydras amava o Corinthians, mas ia vez ou outra em jogos. Porém, a influência dele na torcida era baseada mais no carnaval, porque ele era cantor e compositor do bloco da Pavilhão 9. Nesse dia, ele ia cantar e passou por lá rapidamente, tanto é que falei com ele uns 20 minutos antes e ele já ia sair para cantar em outro lugar. Ele vivia da música e era isso que sustentava a gente”, contou.
“É complicado aceitar que estou vivendo isso e que outras famílias também estejam. Independente deste caso, tem outros acontecendo e que são esquecidos por envolverem policiais e sermos pobres. Isso é lamentável. Eu não durmo, tenho dois filhos, perdi minha casa”, lamentou.
Outra vítima da chacina foi Mateus Fonseca de Oliveira, filho de Roseli Maria Fonseca, 41 anos. Segundo ela, no dia da chacina, o filho tinha ido à Pavilhão 9 pintar uma bandeira da torcida. “O que soubemos é que, naquele dia, houve festa entre eles, churrasco e futebol, e que muitos policiais ficaram rondando o local. Esperaram que o local ficasse vazio e, quando viram que tinham poucos lá dentro, invadiram para fazer isso. Tiraram a vida dos outros a troco de nada. Todos os meninos lá eram trabalhadores. Meu menino era trabalhador. Me mandou mensagem dizendo que tinha saído do serviço para ir lá pintar a bandeira para o jogo no domingo”, contou.
Roseli disse que seu filho era quem a ajudava no sustento da casa. “Esse ano para mim foi muito difícil. Tenho três filhos pequenos e não estou trabalhando e quem me ajudava em casa era o Mateus, que era o único que trabalhava. Ele era o meu braço forte em casa. Aconteceu tudo isso e fiquei sem chão e sem poder trabalhar porque é muita coisa com a qual você tem que ficar correndo atrás.”
A chacina
A chacina da Pavilhão 9 ocorreu no dia 18 de abril do ano passado. Por volta das 23h, três pessoas armadas entraram na sede da torcida organizada do Corinthians. Doze torcedores estavam no local quando os criminosos chegaram. Quatro conseguiram fugir, mas os demais foram obrigados a se ajoelhar e, depois, a deitar no chão. Todos foram executados. Sete morreram no local e um, no hospital.
Duas pessoas foram presas acusadas pela chacina: o policial militar Walter Pereira da Silva Junior, que também é investigado por participação em uma chacina ocorrida em Carapicuíba; e Rodney Dias dos Santos, ex-policial militar. Silva Junior foi solto em dezembro por falta de provas. Santos continua preso no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na zona oeste da capital. O terceiro participante da chacina ainda não foi identificado pela investigação policial.