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O Caminho do Pódio - Robert Scheidt quer deixar vela olímpica após Rio 2016

Aos 43 anos, o velejador é o atleta brasileiro com mais medalhas
Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 05/05/2016 - 07:02
Brasília
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© COB/Divulgação

Robert Scheidt

Aos 43 anos, o velejador Robert Scheidt é o atleta brasileiro com mais medalhas olímpicas  Fred Hoffmann/Divulgação

A vela não está entre os esportes mais populares do Brasil, mas o nome de Robert Scheidt está. Quando o assunto é Olimpíada, poucos brasileiros têm tanta intimidade com o pódio. Foram cinco medalhas em cinco edições de Jogos Olímpicos disputadas – ouro em Atlanta (1996) e Atenas (2004), prata em Sidney (2000) e Pequim (2008) e bronze em Londres (2012). O desportista nunca foi a uma Olimpíada sem voltar com uma medalha na bagagem.

Nenhum atleta brasileiro tem mais medalhas olímpicas do que ele. Apenas Torben Grael, também velejador, tem o mesmo número de pódios.

O reconhecimento veio com a escolha do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para que o velejador paulistano levasse a bandeira brasileira na Cerimônia de Abertura dos Jogos de Pequim, em 2008. Scheidt chegou à China com a bandeira nas mãos e saiu de lá com uma prata no peito.

Em agosto, nas olimpíadas do Rio, Scheidt pode se tornar o maior medalhista brasileiro da história.

“Tracei como objetivo deixar a vela olímpica após os Jogos do Rio de Janeiro e continuar velejando em classes de barco que exijam menos do corpo e mais da cabeça. Mas não estou pensando em aposentadoria agora”, disse o atleta de 43 anos à Agência Brasil.

O Caminho do Pódio é uma série de entrevistas com nove medalhistas olímpicos brasileiros que a Agência Brasil publicará até o dia 10 de maio.


Agência Brasil: Qual é a sensação de subir em um pódio olímpico?
Robert Scheidt: É sempre uma emoção enorme e tive vários momentos que me marcaram muito. Acho que o mais emocionante foi a conquista da segunda medalha de ouro, na Olimpíada de Atenas, em 2004, porque era uma medalha que estava "engasgada", por assim dizer, desde Sydney, em 2000. Também foi emocionante ter sido escolhido porta-bandeira na Olimpíada de Pequim, em 2008. Ali foi uma emoção diferente, de representar o país mesmo.

Agência Brasil: O significa ser medalhista olímpico no Brasil, um país onde os atletas, principalmente no começo, ainda têm muita dificuldade para viver só treinando e competindo?
Scheidt: Sinto-me muito honrado e feliz, principalmente por estar representando bem o Brasil. A vela representa o meu esporte, a minha profissão e o meu prazer, porque ainda gosto muito do que faço.

Agência Brasil: Como foi o seu começo no esporte? Quais dificuldades você enfrentou até as primeiras vitórias?
Scheidt: Meu pai já praticou muitos esportes e fez questão de ensinar vários esportes aos filhos. Meu irmão já foi campeão mundial de pinguim [uma classe da vela] e minha irmã também velejou e pratica outros esportes. É um meio de as crianças se sentirem saudáveis. Comecei a velejar aos 9 anos, na [classe] Optimist. Tínhamos um grupo de crianças muito unido, com muitos amigos, começando juntos e eu ia velejar pela farra e não pela competição. Tinha um espírito de brincadeira e eu velejava para fazer uma atividade recreativa e aos poucos começamos a correr regatas.

Agência Brasil: Qual é a motivação de uma atleta tão vitorioso, que já subiu ao pódio em cinco Olimpíadas, sendo dois ouros, e já foi campeão mundial tantas vezes?
Scheidt: A motivação é fazer mais um ciclo olímpico em alto nível e tentar ganhar a minha sexta medalha olímpica. Tenho prazer em velejar e gosto de aprender a cada dia e tenho o objetivo de representar bem o Brasil

Agência Brasil: Esse ano você participa da sua sexta Olimpíada. Esta será a sua última, se depender de você?
Scheidt: Tracei como objetivo deixar a vela olímpica após os Jogos do Rio de Janeiro e continuar velejando em classes de barco que exijam menos do corpo e mais da cabeça. Mas não estou pensando em aposentadoria agora. Quando chegar a hora vou definir o que fazer. Esta será minha Olimpíada mais difícil, pelo momento que estou vivendo, e o equilíbrio na classe. Claro que vou brigar por mais um pódio, sei que ainda tenho muita lenha para queimar, e estou velejando de igual para igual com os principais adversários. Tenho boas chances de medalha, sim. Mas o meu foco, agora, está em me preparar o melhor possível e treinar de forma a alcançar o auge da minha forma física nos Jogos.

Agência Brasil: Velejar em uma Olimpíada no Brasil tem um sabor especial? Há uma ansiedade extra para colocar logo o seu barco na água?
Scheidt: Na verdade, esta é a primeira Olimpíada a que eu chego sem ser favorito. Isso tira um pouco o peso das minhas costas, joga a responsabilidade mais em cima de outros atletas. O fato de a competição ser disputada aqui no Brasil ainda trará uma emoção maior, com o calor da torcida, dos amigos. Além do mais, estou bem acostumado com as cobranças. Tento encarar a Olimpíada como mais um campeonato. O fundamental é se preparar o melhor possível e se manter focado para executar bem aquilo que você treinou.

Agência Brasil:  O que você espera encontrar nos jogos do Rio em termos de organização e de torcida do povo brasileiro?
Scheidt: Apesar de muito poluída há vários anos, a Baía de Guanabara será um belo palco para as regatas olímpicas. Digo isso pois acredito que o lixo flutuante, que pode comprometer a performance dos barcos, será retirado pelos eco boats, como no evento-teste em agosto do ano passado. Além disso, a Olimpíada acontecerá no inverno, período de menos chuvas e, portanto, menos poluição nas águas da Baía. A vela é pouco divulgada porque o acesso do público é restrito, isso acaba fazendo com que se perca um pouco o interesse. As regatas normalmente são disputadas longe da costa. Normalmente, a gente entra em contato com fãs e torcedores antes e depois das regatas, quando recebemos o incentivo ou os parabéns. Na Olimpíada é diferente, a proximidade com o público é maior, e isso conta muito.

Agência Brasil: A vela é um esporte pouco popular no Brasil, mas isso não tirou você desse caminho. O que você pode falar para aqueles jovens que querem seguir uma carreira em esportes com pouco apoio no país?
Scheidt: Como foi comigo e com a grande maioria, sempre se começa como recreação, sem o propósito de virar competição. Não pode haver uma cobrança por resultados, até porque, às vezes, não alcançar o resultado leva à frustração, e a pessoa acaba desistindo. Acho que o segredo é muito treino e dedicação, além de foco e determinação para atingir os resultados. Eu acredito que a Olimpíada pode trazer uma visibilidade muito maior para a vela no Brasil, incentivando mais jovens atletas a praticar, além de aproximar o público do esporte.