Instituto Sou da Paz critica que polícia compre armas de calibres mais potentes
O Instituto Sou da Paz criticou a compra de armamento com calibres mais potentes para policiamento no estado do São Paulo, defendida ontem (11) pelo secretário de Segurança Pública do estado, Mágino Alves Barbosa Filho. Segundo Barbosa Filho, a secretaria está negociando com o Exército o acesso a armas de grosso calibre.
“Não faz sentido a polícia ir aumentando seu armamento e aumentando o calibre porque isso não dialoga com que eles encontram nas ruas e tem um problema grande de inadequação desse tipo de armamento para o policiamento do dia a dia”, disse o coordenador da área de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani.
Pesquisa feita pelo Sou da Paz, que mapeou mais de 14 mil armas apreendidas no estado com o crime, mostrou que nove em cada dez armas que a polícia apreende na rua são as chamadas armas curtas. “A principal arma apreendida no crime ainda hoje é o revólver calibre 38. A arma que a polícia usa é a pistola semiautomática calibre 40, [que] já é superior a esse armamento. Então, na esmagadora maioria dos casos, o armamento que a polícia está usando é superior ao armamento da criminalidade e é um armamento adequado ao policiamento, não é um armamento de guerra”, disse.
Segundo o coordenador, é importante que as polícias tenham equipes especializadas que vão atuar em casos mais graves e que elas tenham um equipamento mais potente, porém, ele diz que o estado já tem o armamento para essas situações especiais.
Licitação internacional
O secretário Mágino disse também que a negociação com o Exército inclui a possibilidade de que o estado faça licitação internacional para compra de armamentos – atualmente as polícias do país só podem comprar da indústria nacional. Lageani concorda com a alternativa e justifica que armas compradas de uma empresa nacional, uma das principais fornecedoras do país, tem apresentado defeitos.
“Esses problemas já estão acontecendo há vários anos. É justo que abra a possibilidade de que a polícia compre armas internacionais que sejam de melhor qualidade e que não tenham essas falhas, que são falhas muito graves”, disse Lageani. Segundo ele, as armas com defeito disparam sozinhas ou falham durante o disparo.
Policiamento comunitário
O coordenador do Sou da Paz defende o policiamento comunitário, mas admite que, por falta de recursos, não é possível instalar uma base comunitária em todos os bairros. O secretário de Segurança Pública disse ontem não acreditar que a instalação de bases não seja a melhor forma de policiamento e “é muito mais ágil ter um policiamento de duas horas, com motos, do que um policiamento estático”.
Para Lageani, mesmo o policiamento por meio de rondas com motos pode promover o modelo comunitário, em que se tenha sempre os mesmos policiais em uma região e que se crie uma relação desses policiais com a comunidade para que haja troca de informação e aumento da confiança.
“Essa troca de informação acaba sendo muito eficiente para a prevenção de crime, não só porque os policiais acabam dando orientações para a população, mas também porque a população, se tornando uma parceira da polícia, acaba trocando informações e deixando o policiamento mais inteligente”.
Mortes em confronto
Sobre o número de mortes em confronto com a polícia, Lageani disse que fica muito difícil contestar o secretário porque a informação sobre o número de confrontos não é uma informação pública. “Só temos acesso ao número de mortes que aconteceram em serviço, número de mortes que aconteceram fora de serviço, o número de suspeitos mortos e o número de policiais mortos”.
Mágino disse ontem que não poderia aceitar a afirmação de que a polícia mata. “A polícia de São Paulo enfrenta situações de confronto com criminosos, responde da forma menos letal possível e isso vem sendo demonstrado com a redução do número de eventos letais no estado de São Paulo pelo menos nos dois últimos anos”. Apesar da diminuição nos índices de letalidade policial, ele afirmou que “o número de confronto é que aumentou absurdamente nesse período”.
Para Lageani, mesmo com a redução observada em 2016, São Paulo ainda está com patamares muito elevados de mortes cometidas pela polícia. “2015 foi um ano muito alto de letalidade policial, então, de fato, havia uma expectativa de que 2016 caísse, mas precisamos cair com mais velocidade porque o número é considerado muito alto”.
O coordenador disse que não dá para tratar a letalidade policial como algo inevitável, como “algo que a polícia não pudesse fazer nada para dar conta disso, porque sabemos que o procedimento, a supervisão do trabalho policial, o treinamento com relação ao uso da arma de fogo, o treinamento com relação a como fazer as perseguições policiais, elas são decisivas para que você consiga reduzir esse número e ter mais pessoas presas do que pessoas feridas ou mortas em confronto”.
Lageani explicou que esses procedimentos não só podem reduzir a morte de suspeitos, mas também são muito efetivos para reduzir a vitimização do próprio policial. “As ocorrências de confronto precisam ser evitadas e há muitas possibilidades de se fazer isso, com o chamado de apoio e com a promoção de cercos”.