Crianças abraçam parque em São Paulo e pedem abertura do local para lazer
Em um gesto simbólico, crianças de uma escola de ensino infantil de São Paulo deram as mãos e abraçaram hoje (4) o Parque Augusta, no centro da capital paulista. O ato serviu ao mesmo tempo como atividade pedagógica da escola e também como manifestação a favor da abertura do parque, fechado há anos e que, nos últimos tempos, foi alvo de uma disputa entre moradores, que desejam que o local seja aberto para lazer, e construtoras, que queriam construir ali empreendimentos imobiliários.
As crianças que participaram do ato têm entre 4 e 6 anos e são alunas da Escola Municipal de Ensino Infantil Gabriel Prestes, localizada na Rua da Consolação, na região do parque. Depois de abraçar o parque, elas seguiram em caminhada até a Praça Roosevelt, onde o ato foi encerrado.
“Temos um projeto na escola que é explorar os espaços na cidade de São Paulo e estamos sempre fazendo essas caminhadas com as crianças. Hoje, reivindicamos a abertura do Parque Augusta para que possamos explorar esse verde”, disse a professora Erica Silva.
Além das crianças e professores, o ato foi acompanhado por militantes que defendem a abertura do Parque Augusta, artistas, vereadores, pais e moradores da região. Um grupo de capoeira se apresentou em frente ao parque e seguiu também em caminhada até a Praça Roosevelt.
Uma das participantes do ato era a bióloga e moradora da região Cristiana Engelmann. “Este ato foi em conjunto com a escola. Estamos dando um abraço no parque, coletivo e simbólico, porque queremos ele aberto. As crianças estão precisando de um espaço”, acrescentou Cristiana, mãe de uma criança de quatro anos.
“Moro aqui na região. Sou vizinha do parque. Essa é uma área de Mata Atlântica única aqui no centro da cidade e não tem nenhum parque. As crianças brincam muito na rua, em lugares pequenos, que são interessantes também, mas um parque faz toda a diferença.”
“O ato de hoje é um gesto simbólico das crianças em apoio ao parque. Estamos possivelmente no fm de uma disputa que já dura 40 anos e que, nos últimos três anos, ficou mais intenso com a ameaça de destruição da área”, informou o arquiteto, urbanista e ativista Augusto Aneas.
Paulo Maluf
Ontem (3), a prefeitura de São Paulo anunciou que conseguiu recuperar US$ 25 milhões referentes à movimentação financeira fora do país em contas de empresas offshore ligadas ao ex-prefeito Paulo Maluf e seus familiares, por meio de acordo firmado com bancos pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Esse pagamento é referente a um processo por danos morais coletivos. Do valor total, 90% serão destinados ao município. O restante será revertido para o Fundo de Interesses Difusos, Fundo Estadual de Perícias e à Fazenda do Estado de São Paulo.
Durante coletiva concedida ontem (3), o prefeito Fernando Haddad adiantou que parte desse montante será destinado ao Parque Augusta. “A homologação do acordo contempla a previsão de que uma das possibilidades do uso desse recurso é para desapropriação ou compra do Parque Augusta. Já fizemos, em audiência pública no Judiciário, uma oferta de US$ 15 milhões para adquirir 100% da gleba. Continuamos em tratativas com as duas construtoras proprietárias do bem para chegarmos a um bom termo em relação a isso, mas estamos evoluindo nas negociações”, afirmou o prefeito.
Para Aneas, a recuperação desse dinheiro pela prefeitura ajuda, embora o desejo dos militantes e moradores da região é de que não seja necessário “gastar nenhum real para desapropriar esse terreno”.
“Esse é um acordo de repatriação de verba pública desviada e foi feito um acordo para destinar essa verba prioritariamente para desapropriação do Parque Augusta e construção de creches. É uma segurança que se tem, um acordo que foi firmado e que não tem como ser manipulado. Essa é uma certeza de que vamos ter essa área.”
Polícia
Quase no fim do ato, policiais militares abordaram a diretora da escola para pedir informações sobre a manifestação. Segundo os policiais, eles receberam uma denúncia anônima reclamando da manifestação. Na abordagem, a diretora explicou que o ato fazia parte de uma atividade pedagógica da escola e que as crianças estavam acompanhadas pelos pais e também por guardas municipais.
“Os manifestantes são apenas crianças de cinco anos. Houve uma denúncia de pessoas, que eles [policiais] não citam quem são, de que as crianças estavam fazendo um movimento para abrir o parque. Diziam que era um aglomerado e o início de uma manifestação. Disse aos policiais que era um trabalho pedagógico com crianças de cinco anos, que estão com suas famílias e com [o acompanhamento] da Guarda Civil Metropolitana porque eu não saio da escola sem a guarda. As famílias estão aqui. Tenho mais de 30 pais e mães aqui. Hoje deve ter mais de 100 crianças aqui”, esclareceu Monica Galib, diretora da escola.
A diretora informou que a abordagem policial foi bastante tranquila. “Eles [policiais] estavam constrangidos quando viram o público-alvo, de pequenos manifestantes. Existe interesse das pessoas em ver que crianças estão se manifestando. Isso incomoda. Eles acham que essas crianças serão futuros manifestantes e isso talvez incomode. Essa é uma grande parte do nosso projeto pedagógico, de formar cidadãos críticos, que pensam, que têm ação, autonomia, inclusive de se manifestar. E por que eles não poderiam se manifestar?”
Procurada pela Agência Brasil, a prefeitura não se pronunciou sobre o ato e sobre o pedido de abertura do parque até a publicação da matéria.