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Caminhada em São Paulo lembra 24 anos do Massacre do Carandiru

Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 06/10/2016 - 22:55
São Paulo
São Paulo - Ato organizado por movimentos sociais e vítimas da violência do estado lembra os 24 anos do massacre de 111 presos no Carandiru (Rovena Rosa/Agência Brasil)
© Rovena Rosa/Agência Brasil

Mães que tiveram seus filhos mortos por policiais ou agentes do Estado fizeram na noite de hoje (6) uma caminhada pelo centro de São Paulo para lembrar os 24 anos do Massacre do Carandiru. A caminhada teve início por volta das 19h desta quinta-feira na Praça Tiradentes, na região da Luz, e terminou por volta das 21h na frente da sede do Tribunal de Justiça, na Praça da Sé, no centro da capital.

As mães protestam principalmente contra a anulação dos julgamentos do Massacre do Carandiru pelos desembargadores do Tribunal de Justiça. No dia 27 de setembro, três desembargadores da 4ª Câmara Criminal do Tribunal do Júri decidiram anular os julgamentos do caso entendendo que não há elementos para mostrar quais foram os crimes cometidos por cada um dos agentes. O relator do processo, o desembargador e ex-presidente do TJ, Ivan Sartori, defendeu ainda que não houve massacre e que os policiais agiram em legítima defesa.

São Paulo - Ato organizado por movimentos sociais e vítimas da violência do estado lembra os 24 anos do massacre de 111 presos no Carandiru (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Durante a caminhada, as mães cantaram músicas de protesto contra a Justiça brasileira e os policiaisRovena Rosa/Agência Brasil

“Esse ato aqui é para que nunca mais aconteça, Carandiru nunca mais. A gente vem cobrando [Justiça], desde que aconteceu os 18 anos do Carandiru porque tínhamos uma visão de prescrição do caso”, disse Débora Silva, mãe de um gari que foi morto durante os Crimes de Maio de 2006 e uma das fundadoras e líderes do movimento Mães de Maio. “Queríamos a condenação dos mandatários para que eles não continuem mandando e continuando o extermínio da nossa juventude. Esse ato é necessário e emergencial para quebrarmos o paradigma do fascismo dentro do Judiciário e para dizer que nossos mortos estão presentes e vão cobrar, junto com os movimentos sociais e com as mães”.

Durante a caminhada, as mães cantaram músicas de protesto contra a Justiça brasileira e os policiais. “Demônio de farda, só vem pra fazer mãe chorar” e “Quem que matou foi a PM com a caneta do doutor” eram alguns dos gritos entoadas por essas mães. A polícia acompanhou o ato à distância, com poucos policiais dentro de viaturas.

O ato foi pacífico e foi encerrado na frente do Tribunal, com os manifestantes escrevendo, na calçada, as palavras “TJ SP Não esquecerá – 02/10/1992”, data em que ocorreu o massacre. Por cima das letras, escritas com guache branco, foi pingada tinta vermelha, simbolizando sangue. Velas acesas e fotos dos mortos foram colocadas no chão, aos gritos de “Nossos mortos têm voz” e “Nossos mortos têm mães”.

As mães presentes ao ato perderam seus filhos em diversos massacres ou episódios de violência policial, entre eles, as chacinas de Osasco de 2015, de Manguinhos (do Rio de Janeiro), dos Crimes de Maio de 2006, entre outros. Também participaram mães de estudantes secundaristas de São Paulo que reclamam de perseguição e até tortura policial a seus filhos por terem participado de ocupações nas escolas.

O massacre

O Massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos durante uma operação policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do Carandiru, na zona norte da capital paulista. Passados 24 anos, ninguém cumpriu pena pelo crime.