Rene Silva é liberado após depoimento e relata prisão por meio de rede social
Preso hoje (30) de manhã durante a cobertura de uma remoção para o jornal comunitário Voz das Comunidades, o jovem comunicador e ativista Rene Silva, fundador e editor-chefe da publicação, foi liberado à tarde, após prestar depoimento. O midiativista e fotógrafo Renato Moura, preso na mesma ação, também foi solto pela polícia.
A soltura foi anunciada pelo Voz das Comunidades e pelo ativista em suas contas no Twitter. Em uma postagem publicada logo após ser liberado, Rene Silva relatou o momento da prisão. “Estamos bem! Acabamos de prestar depoimento na delegacia e nos disseram que fomos levados por desobediência. Estávamos mostrando os moradores. Policiais nos levaram, dizendo que estávamos invadindo o terreno e desobedecemos a ordem de não entrar, mas eles pegaram antes meu celular. Um dos policiais arrancou o celular da minha mão e eu fui atrás, nesse momento ele me deu voz de prisão por estar desobedecendo ordem”, contou.
A prisão dos ativistas se tornou o assunto do momento no Twitter, com muitas menções e postagens sobre o assunto. Personalidades como Ana Moser e Glória Peres se manifestaram pela rede social em protesto pela prisão de Rene Silva e Renato Moura.
A denúncia da prisão foi feita ao vivo na página do Facebook de outro comunicador popular da comunidade, Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, que também acompanhava a remoção.
Procuradas, as polícias Civil e Militar ainda não comentaram a prisão dos jovens.
Presidente da organização não governamental Voz das Comunidades, Rene é um dos 30 jovens até 30 anos escolhidos pela Revista Forbes Brasil como “exemplo de um time que está reinventando um país”.
Denúncias
Os comunicadores comunitários de favelas do Rio de Janeiro vêm denunciando censura e ameaças à liberdade de imprensa e expressão por agentes do Estado, policiais ou não, e do tráfico de drogas. No mais recente relatório do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, de outubro de 2015, constam relatos de ameaças, revistas e até a necessidade de se mudar de casa.
No dossiê, a comunicadora comunitária e coordenadora do jornal comunitário O Cidadão, que circula há 16 anos no Complexo da Maré, Thaís Cavalcante, diz que fazer comunicação dentro das favelas é um desafio e pode acabar colocando a própria vida em risco. “A comunicação dentro da favela é mais delicada do que a que temos em outros lugares. Além de jornalistas, somos moradores. O cuidado é redobrado e tudo nos envolve emocionalmente também.”
Em abril deste ano, o ex-integrante do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação e comunicador Enderson Araújo, do Mídia Periférica, da favela Sussuarana, de Salvador, denunciou ter sido intimidado pela PM no Complexo do Alemão. Segundo ele, três policiais portando fuzis o revistaram e o interrogaram. Na época, notas de repúdio foram publicadas por organizações de defesa dos direitos humanos e de liberdade de imprensa e expressão.
* Com informações de Isabela Vieira, do Rio de Janeiro
*Texto ampliado às 19h26