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Estudantes do Rio combatem machismo e racismo com projeto transformador

Alunas da Escola Municipal Levy Miranda, na Pavuna, tiveram seu
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 01/03/2017 - 08:14
Rio de Janeiro
São Paulo - Ato organizado pela Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, o machismo, o genocídio e a lesbofobia, na Praça Roosevelt, região central da capital paulista (Rovena Rosa/Agência Brasil)
© Rovena Rosa/Agência Brasil

Com o título Solta esse Black, alunas da Escola Municipal Levy Miranda, localizada na Pavuna, zona norte do Rio, tiveram seu projeto de combate ao machismo e ao racismo dentro do colégio incluído entre as ideias premiadas pelo desafio Criativos da Escola, em sua segunda edição no Brasil. Esse foi o único projeto fluminense na lista de ganhadores.

O Criativos da Escola é um movimento global que ocorre em 35 países. Ele surgiu na Índia, com o nome Design Forchange (Planejamento para Mudança). A iniciativa foi lançada no Brasil em 2015, pelo Instituto Alana, com o nome Criativos da Escola, “porque fazia mais sentido para a realidade dos alunos e dos educadores brasileiros”, disse o assessor do projeto no Instituto Alana, Gabriel Salgado.

Uma das primeiras estratégias do projeto no Brasil foi lançar uma premiação intitulada desafio Criativos da Escola, cujo objetivo é reconhecer e valorizar o que já é feito no país pelos estudantes do ensino fundamental e médio das escolas da rede pública e particular. “Valorizar o que os jovens já estão fazendo de iniciativas transformadoras”. Dez jurados selecionam os melhores projetos a cada edição.

As estatísticas mostram que cerca de 80% dos inscritos no ano passado eram de escolas da rede pública e dos 11 premiados, apenas um era de escola particular, lembrou o assessor. Na primeira edição do prêmio, 419 projetos foram inscritos, com cinco grupos premiados. Em 2016, o instituto recebeu 1.014 inscrições, premiando 11 equipes de alunos e orientadores de várias regiões do país: uma do Rio de Janeiro, três do Ceará, duas de São Paulo, duas da Bahia, uma de Minas Gerais, uma do Rio Grande do Sul e uma de Mato Grosso do Sul.

Representantes dos 11 grupos viajaram para Salvador, em dezembro passado, para desenvolver uma série de atividades e construir um projeto conjunto, passando a mensagem de trabalho em equipe. Cada grupo recebeu R$ 2 mil e cada educador, R$ 500.

Solta esse Black

A professora de artes da escola municipal vencedora do Rio de Janeiro, Pamela Souza da Silva, informou que o projeto foi iniciado por um grupo de mais de 100 meninas que a procuraram para debater questões femininas próprias da adolescência, como o que é ser mulher, o que é ser mulher na favela, como a sociedade vê as mulheres negras, gravidez na adolescência. Os debates começaram com reuniões pequenas. Um grupo de estudantes questionou sobre o cabelo, em reação a comentários machistas e racistas de colegas do sexo masculino durante as aulas. Muitas estavam na fase de transição capilar e queriam deixar de usar produtos químicos nos cabelos.

“Isso virou uma demanda nossa e decidimos partir para um projeto”. As estudantes promoveram  oficinas e debates, inclusive na internet, sobre o tema. “A gente fez um movimento lindo na escola”. A consequência foi a valorização do cabelo afro e da autoestima entre as alunas, que “se uniram para passar por aquele momento difícil de parar de passar química e deixar o cabelo crescer” e suplantaram piadas e comentários maldosos dos meninos, afirmou Pamela.

O movimento ganhou toda a escola e ampliou o número de estudantes que assumiram o cabelo crespo original, vendo beleza nisso. “O impacto na escola foi incrível. Foi além do cabelo. Até meninas que não se falavam, que tinham rixas, se uniram. Passaram a se cuidar mais, a se falar, a se olhar”, observou a professora.

Pamela inscreveu o projeto no desafio Criativos da Escola. Disse que nenhuma participante imaginava que elas estariam entre as vencedoras da premiação. “Foi importante no âmbito pessoal e está extrapolando a escola”. As estudantes querem agora levar o projeto para a comunidade. Um encontro já está marcado para maio próximo, com essa finalidade, no Complexo do Chapadão, zona norte, onde serão convocadas todas as mulheres de cabelo crespo para participar. E a coisa não fica por aí. As meninas já pensam em estender o Solta esse Black a outras escolas, para atender aos pedidos que começam a surgir para valorização do cabelo natural. “O negócio é se achar bonita do jeito que é e querer assumir o cabelo crespo natural”, disse Pamela.

Novo desafio

Entre abril e maio próximos, será divulgado o regulamento da premiação deste ano. As inscrições se estenderão até o fim de setembro, abertas a projetos que já tenham ocorrido ou que estejam em curso. Podem participar projetos transformadores e protagonizados por estudantes, que cumpram as exigências estabelecidas, como trabalho em equipe, ter criatividade e empatia, ou seja,  demonstrar solidariedade.

No caso do Solta esse Black, o assessor do Instituto Alana, Gabriel Salgado, afirmou que o projeto ressalta o acolhimento e a empatia das alunas, respondendo a uma demanda não só da identidade delas, mas da comunidade onde estão inseridas.