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Mobilidade urbana é desafio para cidades e trabalhadores

Municípios buscam melhorar a oferta de transporte público e sua
Fabíola Sinimbú - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 17/08/2017 - 11:05
Brasília
A diarista Maria Sales trabalha a 34 quilômetros de sua casa. Diarista, mobilidade urbana, ônibus, transporte público
© Reprodução/ Agência Brasil

 

Maria Sales sobe no ônibus lotado

A trabalhadora doméstica Maria Sales trabalha a 34 quilômetros de sua casaReprodução/ Agência Brasil

A necessidade de se deslocar diariamente para cumprir tarefas corriqueiras é muitas vezes um desafio para quem vive nas cidades. Desafio que se impõe também aos gestores que precisam planejar um sistema integrado, sustentável e capaz de atender à demanda da mobilidade dos habitantes.

A trabalhadora doméstica Maria Sales é uma dessas milhares de pessoas que conhecem bem os problemas no sistema de mobilidade urbana. A reportagem da Agência Brasil acompanhou a rotina da trabalhadora. Atualmente, ela passa a maior parte da semana morando na casa onde trabalha. Se precisasse sair de casa todos dias para ir ao trabalho, teria que percorrer diariamente cerca de 34 quilômetros para se deslocar da cidade de Santo Antônio do Descoberto (GO) até o trabalho, em Águas Claras (DF).

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Ao longo desse percurso, Maria enfrenta pelo menos uma vez por semana quase duas horas de deslocamento, com cerca de um quilômetro de caminhada e mais dois trechos de ônibus. Ela explica que, assim como outros moradores da região, precisa acordar por volta das 4h, pois o primeiro ônibus que pega passa somente uma vez por dia. “Quando a gente perde o ônibus aqui tem que subir para a rodoviária, aí você imagina essa ladeirinha maravilhosa todos os dias”, diz, mostrando uma subida de mais de um quilômetro.

Segundo o coordenador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (UnB), Pastor Willy Gonzales, para que a mobilidade ocorra de forma eficiente é necessário que o deslocamento seja completo, sem que no meio do caminho haja qualquer imprevisto. Para isso, é necessário um sistema de mobilidade em que cada uma das partes interaja para cumprir um fim. “Qual que é o meu fim? Me deslocar com qualidade, com segurança e isso me permite realizar algum tipo de atividade no final do meu deslocamento: trabalhar, estudar, lazer”, diz.

Para chegar ao trabalho, Maria precisa pagar passagem de R$ 4,75 e outra no valor de R$ 3,50. Ida e volta significaria um custo diário de R$ 16,50. Segundo ela, o alto valor do transporte acaba sendo uma barreira para arrumar emprego, já que os patrões preferem contratar alguém que more mais perto e tenha que pagar menos pelo transporte. “A maioria do povo ali de Santo Antônio está desempregada por causa da passagem, porque os patrões não estão tendo condições, ainda mais para quem pega dois ônibus. O meu irmão mesmo foi mandado embora porque a empresa não estava aguentando pagar as passagens”.

A baixa oferta de transporte público, o alto custo das passagens, a falta de infraestrutura – como sinalização e calçadas inexistentes – e a insegurança são fatores que tornam o sistema de mobilidade urbana ineficiente. Isso tudo resulta em problemas como maior tempo de deslocamento nos centros urbanos, excesso de veículos nas vias e consequentemente maior número de mortes no trânsito e mais poluição.

De acordo com dados publicados no anuário 2017 da Confederação Nacional dos Transportes, a frota de automóveis no Brasil é de 51,2 milhões, o equivalente a um carro para cada quatro brasileiros. Outra estatística que chama a atenção é o número de mortes no trânsito, que segundo o Ministério da Saúde, em 2015, somaram 37.306 em todo o Brasil.

Segundo a gerente de projetos do Ministério das Cidades, Martha Martorelli, muitos desses impactos são resultado de um antigo entendimento de que mobilidade tinha a ver apenas com transporte. “Foi com a criação do Ministério das Cidades que se pensou na mobilidade como uma política urbana e não apenas como uma política de transporte”, explica.

Essa transformação provocou muitas mudanças na forma de pensar a mobilidade, entre elas, o caráter público das ruas, que privilegia os transportes não motorizados ou públicos e deixando de dar tanto destaque para o uso de veículos particulares. Outra mudança foi a incorporação do conceito de Ruas Completas (do termo em inglês complete streets) que define uma coexistência harmônica de diversos modos de deslocamento, com boa infraestrutura e informação para pedestres, bicicletas, transporte público e automóveis.

Segundo Pastor Gonzales, é importante encorajar as pessoas a combinarem mais de um modo de se deslocar, mas para isso os meios de transportes e a infraestrutura complementar também devem permitir isso. “A integração de cada modal é importante para que ele finalize o deslocamento. Nesse sentido, várias ações já estão sendo dadas no Brasil, com exemplos muito interessantes. Por exemplo, as bicicletas compartilhadas, elas vêm atender esse aspecto. A pessoa tem uma opção a mais para completar parte do deslocamento”, explica.

Para a trabalhadora doméstica, se houvesse mais opções que otimizassem o deslocamento, sobraria tempo para estudar e melhorar de vida. “Ultimamente, estou trabalhando em casa de família, trabalho aqui em Águas Claras, trabalho há 20 anos com o mesmo pessoal, mas o meu sonho mesmo era fazer uma faculdade de gastronomia e mexer com coisa que eu gosto que é cozinha. Eu amo cozinhar, então, para mim seria uma glória se eu conseguisse né? Então assim não dá, mesmo se eu quisesse não daria, além do horário que eu chego que demora demais e as condições também, porque fica muito difícil”, conta.