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Operação que combate pirâmide financeira que usa moeda digital prende 11 pessoas

Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 21/09/2017 - 16:52
Brasília

A Operação Patrik cumpriu, até o início desta tarde, 11 dos 13 mandados de prisão preventiva contra suspeitos de crimes financeiros por meio do uso da moeda digital Kriptacoin. De acordo com os investigadores, alguns dos acusados já foram investigados pela polícia por crimes como estelionato, associação criminosa e, até mesmo, tráfico de drogas. Estimativas iniciais apontam uma movimentação de R$ 250 milhões obtidos a partir de golpes aplicados contra cerca de 40 mil pessoas.

O número de vítimas pode ficar ainda maior com a divulgação da operação que prendeu pessoas ligadas à empresa Wall Street Corporate, bem como a algumas empresas laranjas. O nome Patrik é um anagrama (transposição de letras de palavra ou frase para formar outra palavra ou frase diferente) da palavra Kripta.

Há ainda dois foragidos, segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, que cumpriu, na manhã de hoje (21), 18 mandados de busca e apreensão em oito localidades do DF e em Goiânia. Os golpistas são acusados pelos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa, estelionato e uso de documento falso, além do crime de pirâmide financeira. O número de presos pode ficar maior, mas os nomes dos investigados correm sob sigilo. “Hoje foram presas apenas as pessoas de maior relevância. Sabemos que outras pessoas podem estar envolvidas, mas precisamos antes avaliar a conduta delas”, disse o coordenador de Repressão a Crimes contra o Consumidor, Ordem Tributária e Fraudes (Corf), delegado Wisley Salomão.

A investigação corre em parceria com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Outro lado

O advogado da Wall Street Corporate, João Paulo Todde, todas as informações que circulam sobre o caso na mídia não passam de “meras especulações”. O que há, segundo ele, são “apenas denúncias” relacionadas a um “nicho de investigação”.

Todde não quis comentar o fato de alguns de seus clientes já terem sido investigados pela polícia. “Esses processos foram apurados e já foram respondidos. É importante não vincularmos uma coisa a outra”, disse o advogado. Segundo ele, o que seus clientes praticaram foi o chamado “sistema de marketing multinível” – um modelo de remuneração que é usado para manter as vendas de produtos e serviços, onde o retorno financeiro é destinado não só ao profissional que fez a venda, mas também a sua linha patrocinadora. “São informações muito técnicas que as pessoas acabam desconhecendo e replicando de forma indevida”.

Procuradoria

De acordo com o procurador do MPDFT, Paulo Roberto Binicheski, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon), o que o advogado chama de “marketing multinível” é, na verdade, uma pirâmide financeira "porque há necessidade de trazer outras pessoas para obter lucro". “A principal diferença entre pirâmide financeira e marketing multinível é que, na primeira, não existe a venda de um produto real que sustente o negócio, ou seja, a comercialização de produtos ou serviços tem pouca importância para a sua manutenção", disse.

O procurador explica que toda pirâmide no início dá um pouco de rentabilidade para alguns, deixando-os esperançosos a ponto de reinvestir o que acabaram de ganhar. Seguindo essa estratégia, e na busca por ganhar a confiança das vítimas, em um primeiro momento os golpistas permitiram saques diários de até R$600. “Depois os saques passaram a ser permitidos apenas semanalmente, mas depois, disseram ter havido ataques cibernéticos contra o sistema, como forma de justificar a suspensão dos saques”.

Quando as vítimas começaram a suspeitar e a reclamar, foram acusadas de já estarem sob investigação por suspeitas de envolvimento com fraudes. “Quando alguma pessoa reclamasse das condutas suspeitas, eles [os golpistas] bloqueavam essa pessoa do grupo de Whatsapp, sob a justificativa de que eles [as vítimas que já demonstravam desconfiança] estavam sendo investigadas, suspeitas de fraudes”, disse Binicheski.

Rendimento de 1% ao dia

Segundo a investigação, os próprios operadores da moeda eram os que davam diariamente as cotações. "Prometiam renda desde que, inicialmente, o investidor deixasse o dinheiro um ano aplicado. Prometiam renda de 1% ao dia e ainda mais renda se cada um dos investidores trouxessem novos investidores, o que flagrantemente caracteriza uma pirâmide”, acrescentou o procurador em entrevista coletiva na Polícia Civil do Distrito Federal.

Binicheski disse que as suspeitas ficaram reforçadas ao constatarem que alguns dos envolvidos possuíam várias identidades, todas feitas no estado de Goiás. “Foi aí que tivemos a plena certeza de que havia um golpe em curso”, disse o procurador. Os investigadores dizem ter encontrado indícios de que os golpistas planejavam anunciar, no futuro, uma “maxidesvalorização” da moeda. “As pessoas então iam ficar zeradas em seus créditos”, disse o procurador.

A promotoria recomenda que as vítimas desse golpe busquem seus direitos contratando um advogado. “A promotoria não vai trabalhar para fazer ressarcimento dessas pessoas. Quem investiu vai ter de procurar advogado e entrar na Justiça para processar essas pessoas. Ao final do processo criminal, esse dinheiro vai servir para essas questões”.