Acelerador linear para tratamento de câncer entra em funcionamento no DF
Com apenas 16 anos, Jahfé Vítro da Silva descobriu, em fevereiro, estar acometido por sarcoma de Ewing, câncer que inicialmente atacou seus ossos e, depois, outras partes do corpo, chegando à cabeça, em metástase. Para combater especificamente as células cancerígenas, ele tem sido submetido à radioterapia. O tratamento “não é muito fácil de se encontrar em todos os hospitais”, diz o jovem, que está sendo atendido no Hospital Universitário de Brasília (HUB).
No Distrito Federal, cerca de 800 pessoas estavam na fila de espera por tratamento de radioterapia, segundo dados de outubro deste ano informados pela Defensoria Pública do Distrito Federal. A Secretaria de Saúde do DF garante que agora são 380. Os pacientes que necessitam da rede pública para obter esse recurso terapêutico encontram um cenário escasso. Até o dia de hoje, apenas dois aparelhos de radioterapia estavam em funcionamento e de forma precária, dada a antiguidade.
Para assegurar os atendimentos, foi inaugurado, nesta segunda-feira (27), Dia Nacional do Combate ao Câncer, um novo acelerador linear. Moderno, o equipamento fará com que o HUB passe dos atuais 45 pacientes por dia para 65, em média, podendo chegar a 110, a depender da disponibilidade de profissionais. O equipamento foi adquirido por meio do Plano de Expansão dos Serviços de Radioterapia do Ministério da Saúde. O programa já viabilizou a compra de mais quatro aceleradores, os quais estão em funcionamento em Campina Grande (PB), Feira de Santana (BA), Maceió (AL) e Curitiba (PR).
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, participou da inauguração do aparelho. Durante a visita ao HUB, destacou que a pasta tem atuado para garantir atendimento à radioterapia, “porque a lei determina que é direito do cidadão, 60 dias depois de diagnosticado um câncer, iniciar o tratamento”. O ministro apontou que, atualmente, 30% das pessoas acometidas pela doença ainda não iniciam o tratamento no prazo, devido à falta de estrutura.
Barros detalhou que o Plano de Expansão prevê a instalação de mais 20 aceleradores até o fim de 2018. A expectativa é que o plano, que foi iniciado em 2013, chegue a 2019 com um total de 100 novos equipamentos implantados, em todo o Brasil. O prazo é o mesmo para que aceleradores passem a ser produzidos no próprio país. Isto porque o plano também prevê uma parceria com a empresa Varian Medical Systems, por meio da qual haverá a internalização da tecnologia de produção e manutenção dos equipamentos, o que deverá gerar economia de recursos.
Secretário da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Marco Fireman explicou que as iniciativas são necessárias porque o Brasil terá, nos próximos 30 anos, o triplo da população de idosos que tem hoje, o que elevará a incidência de câncer na população. Conforme citou o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, durante a inauguração, o planejamento do atendimento e a aquisição de equipamentos deve ter em vista a preocupação com o futuro da população.
Protestos
Durante o lançamento, o governador foi recebido por professores com cartazes, em protesto. Eles cobravam o pagamento de pecúnias, valores relativos às licenças-prêmio não utilizadas pelos servidores públicos que se aposentaram nos últimos anos. Rollemberg criticou o fato de o DF e Acre serem as duas unidades da Federação que transformam as licenças em pecúnias e afirmou que sua administração está pagando, de acordo com as possibilidades financeiras. “Já pagamos todas as pecúnias em 2015 e estamos pagando as de 2016”.
Os professores exigiram o pagamento afirmando se tratar de uma determinação legal e de um compromisso firmado com o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), no encerramento da greve realizada pela categoria neste ano. A professora Ivonei Calado, que se aposentou em abril, após 32 anos de trabalho, disse que as licenças não podiam ser usufruídas pela falta de profissionais que substituíssem os que se afastariam. Ela acrescentou que há verbas específicas para a educação que poderiam ser utilizadas para garantir o pagamento do direito. “Existem pessoas que trabalharam e elas têm esse direito. Não estamos pedindo favor, estamos exigindo o que é nosso”, afirmou.
Radioterapia em Brasília
O aparelho de radioterapia do HUB foi entregue em julho passado pelo ministro Ricardo Barros e levou pouco mais de quatro meses para os ajustes necessários à entrada em funcionamento. Com a construção do bunker, espaço destinado para instalação do aparelho, e a aquisição do acelerador linear, o Ministério da Saúde já investiu mais de R$ 4,3 milhões no HUB. Este é o segundo acelerador linear do hospital, que atenderá exclusivamente pacientes do SUS no Distrito Federal.