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Dia de Combate à Intolerância Religiosa homenageia Abdias Nascimento

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 21/01/2018 - 17:42
Rio de Janeiro

No Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, comemorado neste domingo (21), o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) e a Cena Portuária homenagearam um dos nomes mais famosos no combate à intolerância religiosa no Brasil. O poeta, dramaturgo, político, professor universitário e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras Abdias Nascimento, também fundador do Teatro Experimental do Negro, do Museu de Arte Negra, foi um dos ícones do combate ao racismo no país.

Rio de Janeiro - A professora Elisa Larkin Nascimento, viúva do senador Abdias Nascimento, participa de conversa sobre o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Viúva de Abdias Nascimento, a professora Elisa Larkin Nascimento participa do Dia Nacional de Combate à Intolerância ReligiosaFernando Frazão/Agência Brasil

A programação envolveu exibição gratuita de filmes sobre a vida e obra de Abdias Nascimento, no Memorial Municipal Getúlio Vargas, no Largo do Russell, na Glória, zona sul do Rio, seguida de mesa redonda abordando o combate à intolerância religiosa.

Aberta ao público, o programa teve participação de acadêmicos, religiosos e estudiosos do tema. As homenagens serão encerradas à noite com performance artística Libertador.

Valorização

Viúva de Abdias Nascimento, Elisa Larkin Nascimento informou que, como parte dessa luta, o homenageado combatia também a discriminação contra as religiões de matriz africana. “Em seu trabalho, ele sempre procurou valorizar as matrizes culturais africanas, coisa que até hoje o Brasil tende a desprezar, menosprezar ou subvalorizar e designar apenas as áreas de atuação estereotipadas”.

Para Elisa, o Brasil ainda está muito atrasado no que se refere ao combate à intolerância religiosa. Nos últimos dois anos, salientou que a sociedade tem assistido a uma onda de violência contra comunidades religiosas de matriz africana, com ataques, invasões, depredações, violência “e, inclusive, até apedrejamento de meninas que vão às escolas”.

A discriminação contra crianças dessas religiões africanas nas escolas é uma coisa acintosa, apontou. “Na verdade, até hoje, essas religiões são vistas pela maioria das pessoas de forma preconceituosa e pejorativa”, afirmou Elisa.

No último dia 19, decreto do governador Luiz Fernando Pezão, publicado no Diário Oficial, criou o Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, inédito no país. Elisa Larkin afirmou que toda tentativa de criar mecanismos de combater a intolerância religiosa “é positiva e importante”.

Advertiu, porém, que um conselho estadual tem limitações na sua possibilidade de atuação. Externou seu desejo de que o conselho tenha sucesso na formulação de políticas públicas que possam, de fato, diminuir a intolerância no Brasil.

Números

No ano passado, a cidade do Rio de Janeiro registrou pelo menos um caso de intolerância religiosa por semana, segundo informação da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), cujas equipes atenderam ao todo 67 vítimas, em 2017.

A maioria dos casos ocorreu por discriminação (29%), seguida por depredação de templos (26%) e difamação (18%). As agressões verbais e físicas correspondem a 6%. A maior predominância dos casos ocorreu no município de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, que ocupa o segundo lugar no ranking de intolerância, com 14%, depois da capital fluminense (43,5%).

Em terceiro lugar aparece o município de Duque de Caxias, também na Baixada, com 6%. A SEDHMI destacou que 12% dos casos acompanhados ocorreram em ambiente virtual.

A maioria dos ataques teve como alvo religiões de matriz africana. Candomblé (45%) e umbanda (16%) foram as maiores vítimas de intolerância religiosa no último ano, revelou a secretaria.