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Distrito Federal convive com racionamento de água há um ano

Provocado pela escassez de chuvas, desperdício, crescimento urbano
Alex Rodrigues e Dayana Vitor - Repórteres da Agência Brasil e da Rádio Nacional
Publicado em 16/01/2018 - 17:01
Brasília
Brasília - Há um ano moradores do Distrito Federal convivem com racionamento de água. Hoje (16), a Barragem do Descoberto, o maior reservatório, chegou a 38,7% do volume útil  (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
© Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília - Há um ano moradores do Distrito Federal convivem com racionamento de água. Hoje (15), a Barragem do Descoberto, o maior reservatório, chegou a 38,7% do volume útil (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Há um ano moradores do Distrito Federal convivem com racionamento de água. Hoje (16), a Barragem do Descoberto, o maior reservatório do DF, chegou a 38,7% do volume útil Marcelo Camargo/Agência Brasil

Há um ano, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) interrompeu por um dia o fornecimento de água para cerca de 480 mil moradores de Recanto das Emas, Riacho Fundo II e de parte de Ceilândia, cidades do Distrito Federal. Foi a primeira vez desde a transferência da capital do Rio de Janeiro, em 1960, que a população da região se viu às voltas com uma campanha de racionamento – ainda em vigor e sem data para terminar.

Provocado pela escassez de chuvas, desperdício, crescimento urbano desordenado e falta de investimentos, o rodízio foi sendo implementado em todas as outras regiões do Distrito Federal nos dias seguintes. Seguindo o calendário elaborado pela Caesb, o racionamento começou pelas regiões administrativas abastecidas pelo reservatório do Descoberto, o maior da capital. No dia 27 de fevereiro, a interrupção do serviço foi ampliada para as localidades cuja água provém do reservatório de Santa Maria.

Desde que o rodízio foi instituído, os cerca de 3 milhões de moradores do Distrito Federal tiveram que mudar hábitos, reduzir o consumo e se acostumar com a ameaça de não ter água em casa por ao menos um dia caso o volume acumulado nas caixas d´água residenciais não fosse o suficiente para fazer frente ao período de interrupção.

Até hoje, a cada sete dias, a Caesb interrompe o fornecimento de água por 24 horas em algumas regiões do Distrito Federal. Em tese, o abastecimento deve estar normalizado três dias após o corte semanal, mas, na prática, moradores de algumas localidades ainda reclamam que a estabilização do serviço demora mais a ocorrer.

Novos hábitos

Embora o risco de desabastecimento ainda seja uma ameaça, a decretação da situação crítica de escassez hídrica nos reservatórios, em setembro de 2016, e o consequente racionamento parecem ter surtido efeito. Testemunhos como o da cabeleireira Ana Paula Macedo se tornaram tão comuns entre a população quanto à consulta ao calendário divulgado mensalmente pela companhia de saneamento.

“Além de procurar lavar as roupas de 15 em 15 dias, procuro aproveitar a água da máquina para lavar a área, limpar a casa, lavar o banheiro”, contou a moradora de Taguatinga, acrescentando que ao menos uma vez por mês, no salão de beleza em que trabalha, o consumo de água também é reduzido ao máximo.

Motivado por campanhas de esclarecimento ou pelo temor de que a estiagem se prolongasse por mais tempo, os consumidores individuais reduziram seu consumo em cerca de 16%, se comparado ao mesmo período de 2016 a 2017. Segundo o presidente da Caesb, Maurício Luduvice, isso significa que em torno de 980 litros de água por segundo foram poupados ao longo do ano passado.

Brasília - Há um ano moradores do Distrito Federal convivem com racionamento de água. Hoje (15), a Barragem do Descoberto, o maior reservatório, chegou a 38,7% do volume útil (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Medidor do nível da Barragem do Descoberto, maior reservatório do DFMarcelo Camargo/Agência Brasil

“O comportamento da população em relação ao uso racional dos recursos hídricos mudou. Todos colaboraram, o que é fundamental para estarmos recuperando os níveis dos reservatórios”, disse Luduvice, destacando que o governo também fez sua parte, investindo mais de R$ 133,6 milhões em obras para “fortalecer o sistema de distribuição e reduzir as perdas”, como as estações de Tratamento do Lago Norte e de Captação do Bananal e o sistema de pressurização (booster) que permite que parte da água captada do Lago Paranoá seja transferida do sistema de Santa Maria para o do Descoberto.

Além do sacrifício da população e da ação do Poder Público, as chuvas que voltaram a cair com força entre novembro último e janeiro deste ano contribuíram para a melhoria da situação nos reservatórios. Embora o nível dos reservatórios ainda inspire preocupação, a ponto de não permitir o fim do racionamento, o volume de água acumulada vem subindo gradualmente.

Reservatórios

Em 16 de janeiro de 2017, o reservatório do Descoberto registrava apenas 19% de seu volume útil. Em 7 de novembro, quase dez meses após o início do racionamento, atingiu seu menor índice histórico, com apenas 5,3%. Hoje (16), no entanto, opera com 38,7% da capacidade preenchida, ou mais que o dobro do volume registrado há um ano. Já o reservatório de Santa Maria acumulava apenas 45% de seu volume útil na véspera do início do racionamento, em fevereiro de 2017. Em 25 de novembro do ano passado, o nível havia caído para 21,6%. Agora, opera com 32,9% do volume útil.

De acordo com a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), o reservatório de Santa Maria demora mais a se recuperar que o do Descoberto, o que ajudaria a explicar porque, apesar das chuvas dos últimos meses, o volume de água em Santa Maria continua abaixo do registrado há um ano, quando o racionamento começou. De acordo com a assessoria da agência, em 2017, o volume de chuvas ficou muito abaixo da média anual, comprometendo a recuperação de Santa Maria, que já em 2016 tinha alcançado o máximo de 82,4% de sua capacidade.

Para o engenheiro civil e especialista em recursos hídricos Sérgio Koide, o racionamento foi importante para garantir a segurança hídrica no Distrito Federal. “Foi necessário e acabou tendo os efeitos esperados. O que melhor exprime isso é que, realmente, houve uma redução do consumo per capta entre toda a população”.

De acordo com o presidente da Caesb, Maurício Luduvice, o consumo individual, que já chegou a ultrapassar 200 litros diários, caiu para cerca de 155 litros diários por habitante. “Independentemente da crise hídrica, essa nova concepção de que o recurso hídrico deve ser utilizado racionalmente, com responsabilidade, deve ser reforçada”, destacou Luduvice.