Jungmann diz que atendimento humanitário a venezuelanos é questão nacional
O governo federal promete ampliar a ajuda ao estado de Roraima em busca de uma solução para os problemas decorrentes da presença de um grande número de imigrantes venezuelanos no estado, principalmente na capital, Boa Vista. A prefeitura estima que cerca de 40 mil venezuelanos se estabeleceram na cidade após fugir da crise econômica e política que o país vizinho atravessa.
Hoje (8), uma comitiva interministerial partiu logo cedo de Brasília com destino a Boa Vista, onde se reuniu com autoridades locais e conversou com alguns imigrantes. Participaram da missão os ministros da Justiça, Torquato Jardim; da Defesa, Raul Jungmann, e do Gabinete de Segurança Institucional, general Sergio Etchegoyen.
Ao falar com jornalistas, o ministro da Defesa antecipou que o governo estuda medidas para ampliar a participação federal nas fronteiras, além de adotar medidas que possibilitem a interiorização dos imigrantes autorizados a permanecer no país, de forma a aliviar a demanda por assistência em Boa Vista.
Jungmann também comentou a necessidade de viabilizar a realização de um censo a fim de dimensionar o fluxo migratório. “Sabemos que temos um problema a enfrentar. Para resolvê-lo, precisamos saber sua dimensão exata”, disse.
Jungmann se disse chocado com a situação dos venezuelanos, que classificou como uma “questão humanitária”, após conversar rapidamente com alguns dos cerca de 300 venezuelanos que vivem em uma praça de Boa Vista. Eles relataram que vieram para o Brasil em busca de trabalho e de dias melhores.
“Estas pessoas não estão aqui porque querem. Eles foram empurrados para cá […] É chocante e teremos que equilibrar a questão humanitária com a situação do estado. Essa é uma situação que todo o Brasil tem que abraçar, pois não é algo com que apenas Roraima e Boa Vista têm que arcar”, acrescentou Jungmann.
Após deixar a praça, a comitiva federal seguiu para o palácio do governo, onde os ministros se reuniram com a governadora Suely Campos (PP). Mais cedo, a assessoria do governo já havia divulgado uma nota em que a governadora se queixa de que, há três anos, o povo de Roraima “vem suportando sozinho o ônus de uma crise humanitária sem precedentes no país”, com impactos sobre a rotina da população.
“Na educação, a demanda de alunos aumentou em 100%. Na saúde, temos um acréscimo de 3.350% no atendimento nos hospitais. Somente na maternidade, nascem, por dia, cinco bebês filhos de venezuelanos. O governo do estado faz o acolhimento humanitário aos imigrantes com apoio exclusivamente das ONGs [Organizações Não Governamentais] e com a solidariedade do povo roraimense, que é acolhedor, que está sensível à situação dos venezuelanos, mas que está tendo dificuldades de acessar os serviços públicos por causa dessa crise”, disse Suely Campos, acusando o crime organizado de se aproveitar da vulnerabilidade dos venezuelanos para cooptar mão de obra para o tráfico de drogas e de armas pesadas.
“Nosso estado não está em condições financeiras para arcar com todo esse processo, e nem é nossa jurisdição”, alertou a governadora, destacando que a política de atendimento a imigrantes é responsabilidade do governo federal.