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Meio Ambiente

Cientistas documentam corais em área de exploração de petróleo

Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 18/04/2018 - 15:21
São Paulo

Uma equipe de cientistas a bordo do navio Esperanza, da organização não governamental Greenpeace, documentou a existência de um banco de rodolitos – parte dos chamados Corais da Amazônia – na área onde a empresa francesa Total planeja explorar petróleo, a 120 km da costa norte do Brasil. Na avaliação do Greenpeace, a descoberta prova a existência de uma formação recifal na área e invalida o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da Total, que afirma que a formação mais próxima estaria a oito quilômetros de distância de um dos blocos de exploração.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão responsável por conceder a licença para a exploração, disse que o estudo apresentado pela empresa está em análise pela sua equipe técnica da Diretoria de Licenciamento Ambiental e que o instituto “teve conhecimento pela imprensa das informações divulgadas pelo Greenpeace, mas até o momento não recebeu os dados oficialmente”. A empresa Total informou que não comentará o assunto.

Banco de rodolitos na região dos Corais da Amazônia, a 180 metros de profundidade e 120 km da costa brasileira. A formação está no bloco FZA-M-86, onde a empresa Total pretende explorar petróleo
Banco de rodolitos na região dos Corais da Amazônia, a 120 km da costa brasileira - Greenpeace/Direitos Reservados

O Greenpeace protocolou ontem (17) na Procuradoria-Geral da República (PGR) a documentação comprovando a existência do banco de rodolitos – algas calcárias que formam o habitat para peixes e outras espécies do recife. A PGR deve encaminhar as informações a todos os órgãos envolvidos no processo de licenciamento ambiental da Total.

“Agora que sabemos que os Corais da Amazônia se sobrepõem ao perímetro dos blocos da Total, não há outra opção para o governo brasileiro que não negar a licença da empresa para explorar petróleo na região”, disse Thiago Almeida, especialista em Energia do Greenpeace, que integra a expedição em curso, que deve ser finalizada em 22 de maio. O navio percorrerá o setor norte dos corais, localizado na costa do Amapá e da Guiana Francesa.

Durante a primeira expedição de cientistas à região no ano passado, antes da descoberta dos rodolitos especificamente no bloco da Total, Thiago Almeida já alertava para o perigo da perfuração e exploração na região pelo risco de derramamento de petróleo, o que comprometeria os Corais da Amazônia, que configuram um novo bioma, único no mundo devido as características em que se desenvolveu – em água turva e barrenta.

“Descobrir que os Corais da Amazônia se estendem além das nossas estimativas anteriores foi um dos momentos mais emocionantes da minha pesquisa sobre esse ecossistema. Quanto mais pesquisamos sobre o recife, mais informações valiosas encontramos. Mas ainda sabemos muito pouco sobre esse novo ecossistema fascinante e o que sabemos até agora indica que qualquer atividade de perfuração de petróleo pode prejudicar seriamente esse bioma único”, disse Fabiano Thompson, oceanógrafo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Baseado em imagens do recife feitas em janeiro de 2017 durante a primeira expedição, o estudo estima que a extensão dos Corais da Amazônia seja de 56.000 quilômetros quadrados (km2). A pesquisa também indicou que, devido à sua extensão, o recife pode ser um corredor de biodiversidade marinha ligando o oceano Atlântico Sul ao Caribe, com uma sobreposição da fauna de ambos os lugares.