Biblioteca Parque é reaberta no Rio com Salão Carioca do Livro
Depois de quase um ano e meio fechada, a Biblioteca Parque Estadual foi reaberta hoje (17) com a segunda edição do Salão Carioca do Livro (LER). Projeto modelo de equipamento cultural, com proposta de integração com a comunidade e promoção da cultura por meio do incentivo à leitura e ao conhecimento, a prestação de serviço havia sido descontinuada em dezembro de 2016, em meio à crise econômica do estado.
Segundo o secretário de Estado de Cultura, Leandro Monteiro, o recurso para reabrir a biblioteca veio do Tesouro estadual, mas a ideia do governo é buscar parcerias com a iniciativa privada, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, para manter o espaço funcionando.
“A partir de hoje nós não vamos fechar a biblioteca e nós vamos trabalhar pra trazermos empresas para investir na biblioteca. É um espaço de 15 mil metros quadrados, que custa caro para o governo do estado. Pelos cálculos que estamos fazendo chega a R$ 4 milhões por ano, para manter luz, água, telefone, pessoal, segurança. É muito caro. Mas a biblioteca está reaberta”.
Monteiro disse que a licitação para escolher a empresa que vai administrar o espaço foi homologada esta semana e a escolhida vai assumir o trabalho a partir do dia 28 de maio. “Dia 28 o pessoal terceirizado estará aqui, mas a partir de segunda-feira nós vamos manter a biblioteca aberta com o próprio pessoal da Secretaria de Cultura”, adiantou Monteiro.
Outras unidades
As unidades da Rocinha e de Manguinhos da Biblioteca Parque já foram reabertas e, de acordo com o secretário, a do Alemão será resolvida em breve. “Estou procurando um imóvel no Alemão para passar a biblioteca para esse novo espaço, porque tem a questão do teleférico, abrir a biblioteca sem o teleférico vai dificultar muito o acesso. Estou buscando o imóvel, parece que a Secretária de Ciência e Tecnologia tem um espaço no Alemão”. O teleférico do Alemão está sem funcionar desde setembro de 2016, devido à falta de pagamento do consórcio por parte do estado e ao desgaste de um cabo.
Frequentadora da Biblioteca Parque, a estudante Yasmim Saldanha foi com a escola ao evento literário e comemora a volta do espaço. “Já vim várias vezes, quando eu estudava aqui perto eu sempre vinha, já vim fazer trabalho também, de um concurso que eu ia participar sobre Machado de Assis. Eu gosto do espaço, tem vários livros, é legal. Eu gostava de vir aqui porque dava pra ver filmes, tinha estúdio de desenho. Pretendo voltar a frequentar, deve ter coisas novas”.
Salão do Livro
O primeiro dia do LER marcou a reabertura da Biblioteca Parque Estadual. O evento gratuito vai até domingo (20) com oficinas, conversas, saraus, contações de histórias, exposições e bate-papos com autores e artistas. Foram montados espaços temáticos para promover os encontros entre público e convidados, como o Espaço #Jovem, Palco da Palavra, Jardim Literário para crianças, Café do Livro, Salão Digital e o Salão do Livro, com editoras e livrarias.
Uma das diretoras do evento, Luciana Poti, explica que o LER é o salão do leitor, “um evento que tem um movimento de autores, escritores, leitores, todo o mercado junto”. Segundo ela, uma parceria entre o evento e a Secretaria de Cultura conseguiu revitalizar e reabrir a biblioteca. “A ideia é devolver esse equipamento cultural maravilhoso, que estava fechado há um ano e meio, para o nosso estado. Por isso essa parceria com a secretaria, pra juntos revitalizarmos esse espaço maravilhoso que está de volta com a LER e está de volta para a cidade, para o estado e o nosso povo”.
De acordo com Luciana, o LER é marcado pela diversidade. “É um evento 100% gratuito e que tem a diversidade como mote. A gente engloba todo o viés da literatura, tem uma parte da acessibilidade, onde o Benjamim Constant [instituto de cegos] está aqui com a gente hoje com turmas fazendo atividade para esse público. Na última edição a gente teve 80% de autores não brancos, a gente envolve as crianças, envolve os jovens, os quadrinhos, os grandes autores, ilustração, contadores de história, realmente é um evento para envolver a todos”.
O ator e escritor Lucas Sousa irá participar da mesa Novas Vozes da Periferia, no domingo. Ele organiza, com outros jovens, um trabalho de sustentabilidade e incentivo à leitura em escolas da Cidade de Deus e na Maré. Para ele, despertar a paixão pelos livros desde cedo e o próprio exemplo inspiram outras crianças a trilharem o caminho das letras.
“A gente acaba levando o que é nosso, nossa identidade, a gente não pode esquecer de onde veio, não pode apagar a nossa identidade. A arte é um pouco de nós, em mim está impresso a Cidade de Deus, eu levo isso comigo. Cada vez que vou a escolas na Cidade de Deus, remeto à minha infância e o que eu trabalhei na escola pública. Você vê jovens que amam ler, amam arte, amam o cinema e querem levar isso, querem mostrar isso pro mundo, querem publicar livros, querem fazer peças. E eu mostro que isso é possível. A gente trabalha em Cidade de Deus pra sair da Cidade de Deus”.
Entre os convidados do LER estão o ator Lázaro Ramos, a escritora Conceição Evaristo, a filósofa Márcia Tiburi, a poetisa Elisa Lucinda, o cantor e compositor Nelson Sargento, a escritora Elika Takimoto e a jornalista e escritora Thalita Rebouças. A programação completa está disponível no site www.lersalaocarioca.com.br.
*Colaborou Tâmara Freire, repórter do Radiojornalismo