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Experiências ao redor do mundo apontam caminhos para redução do lixo

Helena Martins – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 07/06/2018 - 20:22
Brasília
Brasília (DF), 12/06/2012 - Lixão da Estrutural. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
© Wilson Dias/Agência Brasil

A preservação ambiental é uma questão global, mas que ganha materialidade nas cidades. É nelas que os impactos se revelam mais nitidamente como, por exemplo, por meio da poluição, de enchentes. É nas cidades também que políticas públicas podem ser desenvolvidas para mudar hábitos e, assim, a situação global. Um dos desafios mais urgentes é a grande quantidade de lixo: plásticos, pneus, eletrônicos e outros objetos tão comuns à vida moderna têm lotado aterros sanitários e gerado problemas ambientais e para a saúde humana.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), dos 5.561 municípios brasileiros, menos da metade (2.751) declaram ter planos de gestão integrada de resíduos. Para mudar esse cenário e caminhar para uma política de lixo zero, que consiste no máximo aproveitamento e correto encaminhamento dos resíduos recicláveis e orgânicos, especialistas de todo o mundo debateram o tema no Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, realizado nesta semana, em Brasília.

Europa

Da cidade de Hernani, um município da Espanha na província de Guipúscoa, na comunidade autónoma do País Basco, foi apresentada uma experiência de interação entre poder público e sociedade para reduzir a produção do lixo e estímular o tratamento adequado dos resíduos. A mudança começou com a abordagem da coleta seletiva “porta a porta”, de acordo com o gestor público Luis Intxauspe. Ele conta que entre as ações adotadoas para se chegar ao lixo zero estão a separação dos resíduos na origem, a coleta diretamente na casa das pessoas, a efetivação de projetos de compostagem, a ampliação das ações de reciclagem e políticas de ciclo zero, voltadas ao reaproveitamento dos materiais.

Nas áreas comuns, como parques, praças e mesmo em condomínios, foram instalados recipientes para coleta seletiva e, inclusive, de produtos específicos como o azeite. Há também distribuição gratuita de sacolas reaproveitáveis. Como resultado disso, a comunidade, que reciclava 30% do lixo que produzia, passou a reciclar 80%. A cultura da própria população tem sofrido transformações. “Nós reduzimos em cinco vezes o material que vai para o aterro sanitário”, comemora Intxauspe, que detalha que a população de Hernani produz, em média, 60 quilos (kg) de lixo por ano, por habitante. Em geral, a média de municípios semelhantes é de 200 kg.

América Latina

Outra experiência compartilhada no congresso vem da América Latina. A colombiana Sandra Pinzón, integrante do coletivo Bogotá Basura Cero (Bogotá Lixo Zero, da tradução livre para o português), conta que em seu país, a taxa de reciclagem é muito baixa, de apenas 17%. Uma das formas de avançar para outra lógica foi a partir da certificação de empresas que praticam boas práticas.

O processo de certificação envolve quatro etapas: aspectos gerais da política de resíduos de cada grupo; transversais, que considera a relação com outras ações; especiais, que remonta ao tipo de negócio desenvolvido; e a apresentação de um relatório anual. Pinzón destacou que o relatório é um instrumento importante para garantir visibilidade, inclusive para organizações ambientalistas, sobre o que está sendo feito com os resíduos. “Não se trata de algo para proteger as marcas”, contou.

Leste europeu

Já na Eslovênia a situação é bem diferente: a capital Liubliana foi escolhida, em 2016, a capital verde da Europa. Atualmente, menos de 5% do lixo produzido na cidade vai para aterros. Todo o resto é reaproveitado. Diretor da empresa pública Snaga, maior empresa de gestão de resíduos do país, Janko Kramzar explica que a política de lixo zero depende, em primeiro lugar, de uma eficiente coleta seletiva de materiais. Além disso, outras ações, como uma intensa comunicação com a sociedade, também são importantes.

Kramzar defende que é importante estabelecer regulamentações sobre o tema, bem como ações de envolvimento de gestores, já que as políticas dependem de investimento financeiro e não são revertidas, necessariamente, ao longo de um mandato. Para países como o Brasil, ele indicou: “não adianta copiar modelos. Você vai ter que adaptar o sistema, porque temos diferenças em todos os lugares do mundo: diferenças econômicas, diferenças culturais e sociais”.

Um caminho para a solução dos problemas relacionados com o lixo já reconhecido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) brasileiro é apontado pelo Princípio dos Três Erres (3R’s) – reduzir, reutilizar e reciclar. O desafio é grande, mas necessário. De acordo com o presidente do Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB), Rodrigo Sabatini, “não existe nenhuma mudança que a gente possa provocar nesse meio ambiente se ela não começar pelo lixo zero, se ela não começar pela gente”