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Governador de SP veta lei que obriga hastes protetoras em moto

No Rio, é obrigatório o uso da antena corta-pipa em motocicletas
Ludmilla Souza e Camila Boehm - Repórteres da Agência Brasil
Publicado em 16/07/2018 - 19:56
São Paulo

 

O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), vetou o texto que obrigava que as motocicletas produzidas no Estado de São Paulo saíssem das fábricas equipadas com hastes protetoras contra linhas de pipa. Motociclistas defendem a implantação do equipamento, pois argumentam que as linhas de cerol nas pipas são verdadeiras guilhotinas e colocam em risco a vida deles. 

O Projeto de Lei 61/2004 foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Ao justificar o veto total ao texto, o governador reitera que a matéria trata de assunto pertinente a trânsito e que exige tratamento uniforme pela União e que o assunto já se encontra disciplinado pelos artigos 54, 55 e 139-A da Lei Federal nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, de caráter nacional, que instituiu o Código Brasileiro de Trânsito e que dispõe sobre equipamentos obrigatórios das motocicletas.

 

Motos equipadas com antena aparadora, que previne acidentes de motoqueiros com linhas de pipas com cerol, na Marginal Pinheiros, região oeste de São Paulo.
Moto equipada com antena aparadora contra linha de pipa  Rovena Rosa/Agência Brasil

Esforço

O autor do projeto, deputado Aldo Demarchi (DEM), disse que vai tentar derrubar o veto, com base em legislação vigente no Rio de Janeiro. Segundo ele, é um contrassenso que a Lei Federal 12009/2009 obrigue apenas os motofretistas a usar as hastes.

Em 2017, o Estado do Rio de Janeiro tornou-se pioneiro com a Lei 7.640/2017 que obriga o uso da antena em todas as motos emplacadas em seu território, seja para atividade profissional ou não.

Pelo projeto vetado em São Paulo, as montadoras teriam 180 dias para o cumprimento da nova regra a partir da publicação. No caso dos atuais proprietários de ciclomotores, o prazo chegaria a até 270 dias. Quem adquirir motos fabricadas em outros estados teria de instalar a haste nos guidões em no máximo 30 dias contados da data de emissão da nota fiscal.

Salvação

As hastes protetoras salvaram a vida de Marcelo Paz, 48 anos, que começou a trabalhar como motoboy aos 18 e hoje tem uma empresa de moto frete.

“Eu estava na Avenida do Estado, aqui em São Paulo mesmo, não tinha antena na época, faz mais de 25 anos, a linha [da pipa] veio. Quando coloquei a mão, rasgou a luva logo de cara. Eu tirei a mão e pegou na lateral do capacete, cortou o capacete quase no meio. Foi como se fosse uma serra.”

O empresário lembra como se fosse hoje o que ocorreu. “Poderia ter pegado no meu rosto. Você não sabe se freia, se acelera. Se você freia, vem um cara atrás e te derruba. É tanta coisa que você pensa.”

Marcelo Paz defendeu que paralelamente à aplicação da lei da obrigatoriedade das hastes protetores deveria haver um trabalho de educação para impedir o uso do cerol. “Se tivesse educação, nem se colocava cerol na linha. Porque ele [quem empina pipa com cerol] mata sem saber. Está puxando a linha ali, ela enrosca e a pessoa acha que é uma árvore, mas é um pescoço que ele está cortando, é uma mão ou um dedo que ele está mutilando.”

Uso do cerol

Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Distribuição de Entregas Rápidas do Estado de São Paulo (Sedersp), Fernando Souza, embora existam leis no estado que proíbam a fabricação, o uso e a comercialização do cerol, é comum se deparar com jovens, adultos e até mesmo crianças empinando seus papagaios com esses cortantes.

“Em relação a quem utiliza essas linhas cortantes, cabe a toda a sociedade denunciar essa prática ilegal. Pais devem conscientizar seus filhos a não utilizar esses elementos e os agentes fiscais e policiais precisam agir urgentemente com mais rigor”, disse Souza.

A Lei 12.192/2006 proíbe o uso de cerol ou de qualquer produto semelhante que possa ser aplicado em linhas de papagaios ou pipas. Outra lei paulista, a 10.017/1998, já proibia a fabricação e venda dessa mistura de cola e vidro moído, o cerol.

“Porém, pouco mudou de lá para cá, o que mostra que esse é um tema que precisa ser debatido de modo persistente em todas as esferas do setor público, já que é uma realidade que afeta grande parte da sociedade”, lamentou.

Levantamento

A Agência Brasil solicitou a entidades dados sobre o número de acidentes ocorridos com motociclistas associados ao uso de cerol. O Corpo de Bombeiros, a Secretaria Estadual de Saúde, a Secretaria de Segurança Pública e o Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxista Intermunicipal do Estado de São Paulo (Sindimoto SP) informaram que que não dispõem das informações.

O Detran informou que a antena entra no grupo das autuações por falta de equipamento obrigatório para motofretistas. Neste caso, somente o Detran.SP registrou 44.472 autuações em 2017, mas que não tem como especificar quantas foram para a antena, porque são inúmeros os equipamentos obrigatórios.