Áreas úmidas amazônicas passam boa parte do ano alagadas, diz estudo
“A lista com o nome de todas as espécies é a grande contribuição desse trabalho, que tem acesso aberto. Com a lista, será possível avançar em estudos futuros, pois há um vazio de conhecimento botânico sobre as áreas úmidas, principalmente nos afluentes dos rios Solimões e Amazonas. Se houvesse mais inventários, o número de espécies poderia triplicar de novo rapidamente”, disse o primeiro autor do artigo, Bruno Garcia Luize.
Para elaborar o estudo, os autores combinaram dados disponíveis em inventários florestais e coleções biológicas sobre os nove países onde a bacia amazônica está. O aumento do número de espécies é resultado da ampliação da área de investigação e dos tipos de habitat.
“Estudos anteriores focavam apenas nas florestas alagáveis das várzeas dos rios de água branca e nas planícies de inundação. Incluímos dados de igapós, de campinas alagadas e de mangues, por exemplo. Conseguimos também acrescentar dados, além da calha do Solimões-Amazonas, de afluentes importantes a partir de raros inventários florestais nos rios Purus, Juruá, Madeira e vários outros”, ressaltou Luize.
Segundo Luize, a grande sazonalidade das florestas de áreas úmidas que têm períodos de seca e de alagamento, podem deixar as árvores com até 8 metros de alagamento, o que faz com essas áreas sejam filtros ambientais que selecionam os indivíduos e espécies capazes de tolerar inundações. Mesmo assim, o total de espécies das áreas úmidas amazônicas compreende 53% das 6.727 espécies confirmadas em estudo mais recente da flora arbórea de toda a Amazônia.
Luize explicou também que a alta proporção de árvores ocorre pelo intercâmbio das espécies, que as áreas alagadas demandam um metabolismo diferente das árvores e que algumas espécies de terra firme também conseguem tolerar as condições de inundação.
“Porém, estudos mostram que as populações nos diferentes ambientes não têm a mesma performance. Basicamente, isso quer dizer que, se for plantada uma semente da mesma espécie de terra firme em uma área inundada, e vice-versa, elas provavelmente não vão vingar. Com isso, chegamos ao extremo que são espécies exclusivas de ambientes de áreas úmidas, ou que só ocorrem nos ambientes de terra firme”, disse.