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Cultura

Filmes brasileiros são competitivos, segundo estudo da Ancine

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 12/11/2018 - 21:55
Rio de Janeiro 

Um estudo inédito sobre gêneros cinematográficos abrangendo filmes lançados entre 2009 e 2017 em salas de exibição, divulgado hoje (12), no Rio de Janeiro, pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), mostra que os filmes brasileiros têm um retorno muito grande e são competitivos. O lançamento comemorou os dez anos do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA).

A superintendente de Análise de Mercado da Ancine, Luana Rufino, explicou à Agência Brasil que não dá para verificar uma competição, por exemplo, entre um drama brasileiro com um filme de ação estrangeiro. É preciso ver como filmes de um mesmo gênero competem entre si, para verificar se o produto está sendo competitivo naquilo que o mercado nacional se propõe a lançar de produção brasileira.

Como era de se esperar, o gênero comédia tem o melhor indicador de performance, menor que o do filme estrangeiro. Luana explicou que quanto menor é esse indicador, melhor. “Ele mostra quantos lançamentos são necessários ser feitos para que tenha um lançamento de sucesso. Enquanto a gente tem 2,3 lançamentos necessários para serem feitos para ter um lançamento de sucesso, para estrangeiros o número é 5,1. Então, em comédia, os filmes brasileiros são bastante competitivos”.

Também em drama e ação os filmes nacionais são bastante competitivos. Em ação, o indicador brasileiro é melhor que o estrangeiro. “No que os filmes brasileiros se propõem a lançar, a cada 4,3 filmes de ação de produções brasileiras, eu consigo ter um competitivo, enquanto nos filmes estrangeiros o indicador é 4,4. Em drama, filmes nacionais e estrangeiros apresentam o mesmo indicador, o que mostra que o Brasil também tem um lançamento competitivo”. Devido à insuficiência de lançamentos, a Ancine não conseguiu fazer um indicador para animação e terror.

 Abertura oficial do 20º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental.
Segundo Ancine, filmes brasileiros têm um retorno muito grande e são competitivos - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Market share

A Ancine fez também uma estimativa sobre quanto o país ganharia em termos de market share (quota de participação) se lançasse os filmes brasileiros em sua escala mínima de eficiência, ou seja, se produzisse mais lançamentos em outros gêneros cinematográficos. O resultado alcançaria 25,4% de market share ou dez pontos percentuais acima do que se tem hoje, disse Luana.

Em termos de público, a superintendente da Ancine disse que o Brasil está melhor este ano do que no ano passado. “Todos os indicadores de ‘performance’ do filme brasileiro melhoram muito este ano em número de sessões, em participação de público, em público total, em renda, em permanência do filme em cartaz. Isso inclusive retirando dessa comparação os filmes que performam muito acima da média e acabam distorcendo o resultado”.

Coreia do Sul

O estudo faz também comparação entre o Brasil e a Coreia do Sul. Luana analisou que assim como em 1994 o Brasil estava em um momento de “terra arrasada” em relação à cinematografia nacional, com baixo número de produções, market share de 3%, com apenas mil salas de exibição, a Coreia do Sul também passou por um período parecido, com market share de 2%. 

A partir da retomada de políticas públicas voltadas ao setor, Luana disse que no espaço de 20 anos, a Coreia do Sul vira uma potência no setor audiovisual, passando para um market share de 57%, em 2014, enquanto o Brasil, no mesmo período, registrou market share, em média, de 14%.

A superintendente explicou que a política do Brasil teve eficácia, mas na Coreia do Sul o caso foi “excepcional e totalmente estruturada”. Segundo Luana, a Coreia do Sul não tinha a tradição cinematográfica de nações da Europa e conseguiu dar esse “pulo do gato”. Dentre as condições observadas no avanço da Coreia do Sul no setor, o gênero teve destaque, além da escala mínima eficiente. “É uma lógica de diversificação de carteira, de atingir todos os nichos do mercado”.

O estudo mostra ainda que o gênero drama apresenta o maior número de lançamentos nacionais e estrangeiros, com média de 153,6 filmes por ano no período 2009 a 2017, enquanto a média de público é maior para os filmes de aventura (1.888.401 por lançamento). Embora seja competitivo naquilo que se propõe a lançar, falta ao setor audiovisual brasileiro ter não só lançamentos em todos os gêneros de mercado, mas também uma constância desses lançamentos, disse Luana. “Tem que ter, como na Coreia do Sul, aquele número de lançamentos mínimos por gênero para poder conquistar aquele mercado”.

Controle de bilheteria

Foi divulgado também hoje pela Ancine o Painel Interativo do Sistema de Controle de Bilheteria (SCB). Antes, a Ancine tinha dados do Sistema de Acompanhamento da Distribuição (Sadis), enviados pelos distribuidores. A partir da criação do Sistema de Controle de Bilheteria, a agência passa a contar com dados enviados diretamente pelos exibidores, que são publicados, pela primeira vez, no Painel do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA).

As publicações com base nos dados do SadisADIS ocorriam com uma semana de atraso. “A partir da data de hoje, nós vamos passar a publicar o Painel Interativo do SCB toda segunda-feira, com o resultado do final de semana cinematográfico imediatamente anterior. Já na segunda-feira, ao meio-dia, nós vamos ter o resultado do filme que foi lançado na quinta-feira”.

Luana esclareceu que esse parâmetro do final de semana cinematográfico é usado pelo mercado para ver se continua ou não com o filme em exibição, entre outros fatores, e que esse resultado que antes era divulgado por instituições privadas, hoje é divulgado de forma gratuita pelo OCA. “Já é possível olhar para os resultados de bilheteria para fazer a programação da próxima semana. Isso também é uma inovação, do ponto de vista de diminuir a assimetria de informação”

A superintendente avaliou que esse é um avanço regulatório, em função do desenvolvimento gerado pela transparência, pela publicação de dados qualificados em tempo real. “Dá para ver com uma grande granularidade também por horário da sessão, por complexo, por município, por grupo, por unidade da Federação. Tem infinitas possibilidades para explorar através desse painel”.

OCA

O Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), criado em dezembro de 2008, objetiva a difusão de dados e informações qualificadas produzidos pela Agência Nacional do Cinema, dentro do princípio aprimorar a geração e disseminação de conhecimento do setor.