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Abigraf cria grupo para reorganizar cadeia produtiva do livro

Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 14/12/2018 - 16:10
São Paulo
Brasília - 33ª Feira do Livro de Brasília. Na programação tem debates, recitais, palestras, apresentações culturais e lançamentos de livros (Wilson Dias/Agência Brasil)
© Wilson Dias/Agência Brasil

O grupo editorial da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) criou hoje (14) um grupo de trabalho para auxiliar na reorganização da cadeia produtiva do livro. O objetivo é minimizar os reflexos da crise gerada pelas grandes livrarias no setor gráfico. Com a criação do grupo de trabalho, a Abigraf sinaliza ao mercado a disposição dos empresários em colaborar. As medidas propostas vão do reajuste de preços até a exigência de que as editoras ofereçam garantias de pagamento para novas impressões.

“Existe no mercado de livros duas crises muito distintas. A primeira é a que assola o Brasil como um todo e afetou todos os segmentos. A segunda, paralela a isso, é bem pontual: é a recuperação judicial tanto da Livraria Cultura quanto da Saraiva, que é a que está afetando a indústria gráfica, com as editoras que venderam a essas duas grandes redes. Algumas grandes têm milhões para receber e a grande maioria das editoras de médio porte ficou com seu caixa zerado, não recebeu. Tem também a parte tributária, porque essas editoras emitiram nota fiscal, recolheram os impostos e depois que venderam não receberam", explicou diretor do segmento editorial da Abigraf, João Scortecci.

Segundo ele, está havendo um efeito dominó, com as gráficas sendo a última peça da fileira, já que muitas editoras estão pedindo renegociação de suas dívidas com as gráficas porque não conseguem pagar, por não recebem das livrarias. "Fora isso temos mão de obra e os impostos, que não há como fugir, e o papel. Hoje temos dois grandes fornecedores que não negociam. Ou seja, se não pagar, não tem mais papel. Toda a cadeia está interessada em negociar, parcelar, encontrar uma sobrevivência para isso, mas quando chega na indústria gráfica para porque não tem matéria prima para trabalhar".

Scortecci ressaltou que entre as medidas para tentar recuperar a cadeia é pensar quais peças da cadeia precisam ser recuperadas. A partir disso, o segmento procurou a negociação com os editores para alinhar as mesmas ideias para obter uma solução única para o mercado. "A primeira coisa foi procurar quem está negociando com os canais de comercialização, no caso Cultura e Saraiva. Conversamos, pegamos uma série de informações, passamos outras".

Leitores

Segundo Scortecci, não há uma crise livreira no país, porque o Brasil ainda tem 23 milhões de leitores. Para ele, o potencial do mercado livreiro é muito grande e é preciso atender aos leitores com honestidade, bons preços, e com produto nas prateleiras. “O livro não está em crise, as livrarias é que estão. Acreditamos que passou da hora de autores, editoras, gráficas, distribuidoras e livrarias se unirem para buscar soluções equilibradas e que beneficiem toda a cadeia. Estamos otimistas e acreditamos que essa crise é a oportunidade para redesenharmos o negócio do livro no Brasil. Há espaço para que todos cresçam, mas temos que tomar medidas conjuntas, práticas e efetivas”.

Mesmo assim, o empresário destacou que o volume de livros impressos no Brasil se mantém na casa dos 350 milhões por ano, porém a margem de lucro das gráficas caiu drasticamente, pois os empresários não conseguem reajustar os preços. “O livro no Brasil está muito barato. Em média, metade do que custa na Europa e Estados Unidos, sem falar na carga tributária elevada e do custo Brasil”.

Scortecci lembra que a venda de livros no Brasil tem aumentado de maneira tímida e que o problema está no modelo de negócio. Por isso a alternativa apontada pelo grupo de trabalho é observar os modelos internacionais, como por exemplo, Paris, onde todas as mega livrarias fecharam e foram reativadas as lojas de pequeno porte e segmentadas. "O mercado passa a ser forte a partir de quando se divide e existe o que chamamos de concentração. Os custos para manter megalojas são muito altos. Repensar esse modelo é tarefa urgente”.