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Denúncias contra João de Deus afastam frequentadores de Abadiânia

Prefeitura discute alternativas econômicas para gerar empregos
Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 20/12/2018 - 17:40
Brasília
Abadiânia, Goiás
© Divulgação Prefeitura de Abadiânia

Parcialmente dependente do chamado turismo religioso, a pequena cidade de Abadiânia (GO) já sente o impacto econômico das denúncias contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Segundo o prefeito de Abadiânia, José Aparecido Alves Diniz (PSD), ao menos 150 funcionários de pousadas e hotéis foram demitidos nos últimos dias.

“Ainda não temos um balanço oficial porque essas demissões não são informadas à prefeitura, mas, informalmente, soubemos que, nos últimos dias, já houve algo em torno de 150 demissões”, disse Diniz à Agência Brasil.

Desde que as acusações contra o médium começaram a vir a público, no último dia 7, centenas de mulheres de todo o país procuraram as autoridades para denunciar João de Deus pela prática de crimes sexuais. Antes de ser preso em caráter preventivo, no último dia 16, o médium esteve uma única vez no centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, onde permaneceu por menos de dez minutos e saiu dizendo ser inocente.

A partir daí, o movimento vem diminuindo dia após dia, prejudicando o comércio local. Principalmente os estabelecimentos instalados ao longo da avenida onde funciona o centro espírita em que, desde 1976, João de Deus oferece consultas, aconselhamento e cirurgias espirituais, além de vender produtos que ele próprio prescreve a seus seguidores.

Segundo funcionários da Casa Dom Inácio, entre 3 mil e 5 mil pessoas são atendidas semanalmente. Aproximadamente 25% destes frequentadores vêm do exterior. Quase a totalidade dos demais atendidos mora em outras cidades.

De acordo com o prefeito, o centro espírita emprega 40 pessoas e gera aproximadamente 1,2 mil postos de trabalho no município.

Por telefone, funcionários de pousadas, que pediram para não ter seus nomes divulgados, confirmaram que alguns estabelecimentos estão fechando as portas temporariamente, dando férias coletivas aos funcionários ou mesmo demitindo empregados. Explicaram, no entanto, que o número de frequentadores da Casa Dom Inácio habitualmente diminui nesta época do ano. Principalmente entre os estrangeiros, já que muitos retornam aos seus países de origem para passar as festas com parentes e amigos. A apreensão das pessoas ouvidas pela reportagem se deve mais aos cancelamentos de reservas para 2019.

Ao admitir ainda estar surpreso com a situação, o prefeito está buscando ajuda nos governos federal e estadual. Hoje (20), Diniz esteve no Ministério das Cidades, em Brasília. E já planeja retornar em janeiro a fim de pedir apoio do futuro ministério que reunirá, em uma só pasta, os atuais ministérios da Fazenda e da Indústria e Comércio Exterior.

“Vamos atrás de alternativas. Temos que levar indústrias e outras atividades que gerem emprego para o município”, disse Diniz logo após deixar o Ministério das Cidades. Para o prefeito, a cidade a meio caminho entre Brasília e Goiânia tem potencial para atrair atividades industriais e atrativos turísticos como a proximidade com o Lago Corumbá. “É um sonho nosso investir e aproveitar a infraestrutura turística já existente”, acrescentou o prefeito que, nas últimas eleições, derrotou o candidato apoiado por João de Deus.

De acordo com a prefeitura, há 69 pousadas e hotéis devidamente regularizadas funcionando na cidade, mas o total de estabelecimentos pode chegar a 90, se levadas em conta as residências transformadas em pensões improvisadas.

Centros logísticos

Diniz revelou que já vinha desenvolvendo um projeto com o escritório regional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para identificar atividades econômicas alternativas que possam ser desenvolvidas em Abadiânia. Além de apostar no turismo ecológico, o prefeito acredita que a localização da cidade e o fato desta ser atravessada pela rodovia BR-060, que liga as capitais federal e goiana, é uma vantagem.

As negociações com o Sebrae começaram ainda na gestão municipal anterior, mas ainda não avançaram a ponto de permitir uma ação concreta. “Começamos conversando com secretários municipais, com o prefeito à época. Planejamos identificar formas de estimular o empreendedorismo a partir da realidade local e, de fato, uma das hipóteses discutidas era desenvolver o turismo ecológico”, confirmou à Agência Brasil o gerente regional do escritório do Entorno do Distrito Federal, Masashi Hiroshima.

Há dois anos, no entanto, o atendimento à Abadiânia foi transferido ao escritório regional de Anápolis (GO). Hoje, está a cargo do gerente regional Jorge Gustavo de Souza Toledo, que diz continuar em contato com a prefeitura. “Vínhamos conversando e já tínhamos um plano inicial que, inclusive, incluía o turismo religioso. Obviamente, fomos pegos de surpresa. Agora, temos que trabalhar um novo planejamento, pensando em como estimular as micro e pequenas empresas locais”, comentou Toledo, acrescentando que a primeira coisa a fazer é definir a identidade pela qual o município quer ser reconhecido.

“Nossa preocupação é manter as atividades já existentes, aproveitando a infraestrutura hoteleira e comercial já instalada, e estimular o surgimento de outras iniciativas. Para isso, precisamos envolver a todos os atores locais, e não só a prefeitura, na discussão sobre o que fazer, no que investir, que identidade dar à cidade”, comentou Toledo.

Já há, na cidade, pequenas empresas fazendo bons negócios graças ao fluxo de pessoas que passam pela BR-060. É possível desenvolver o turismo ecológico e também aproveitar a proximidade com as cidades de Anápolis, que tem uma pujança industrial, de Goiás e de Brasília para, por exemplo, instalar centros logísticos”, acrescentou Toledo, lembrando que há, na região, terrenos suficientes para a instalação de galpões e plantas industriais.