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No Uruguai, patinetes fazem sucesso entre turistas e moradores

Empresas já trabalham com expectativa de aumentar serviço até junho
Marieta Cazarré – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 09/05/2019 - 07:20
Montevidéu

O uso de patinetes elétricas, que tem se tornado cena comum nos centros das grandes cidades brasileiras, também é uma alternativa cada vez mais popular entre turistas e moradores da capital uruguaia, Montevidéu. O número de veículos dobrou desde fevereiro deste ano, quando tiveram início as operações na cidade. O sucesso é tanto que as empresas já trabalham com a expectativa de aumentar a quantidade de patinetes até junho. 

Os usuários têm aprovado o serviço e aproveitam a novidade para passear pela famosa Rambla, avenida que margeia o Rio da Prata.

É o caso da dentista brasileira Camila Fernandes, 25 anos, que visita Montevidéu com a família pela primeira vez. Natural de Ubatuba, no litoral de São Paulo, ela aprovou o serviço e disse que achou muito fácil e seguro de conduzir. "Não é perigoso para nós, adultos, que temos noções de direção. Mas realmente seria perigoso para uma criança, por exemplo".

Juntamente com a mãe, a tia e o irmão, Camila baixou o aplicativo que libera o uso de patinetes e aproveitou o dia de passeio para conhecer o bairro de Pocitos.

Tia de Camila, Magali Fernandes disse que as patinetes são ótimos para quem, como ela, curte conhecer a arquitetura e o clima da cidade. "A vista do litoral é maravilhosa. Lá em Ubatuba também temos litoral, mas é muito diferente.”

Em Montevidéu, duas empresas operam as patinetes elétricas. A primeira a se instalar, em fevereiro deste ano, foi a mexicana Grin, que trouxe para as ruas da cidade cerca de 200 "monopatines" (como são conhecidas as patinetes). No final de abril, desembarcou no país a norte-americana Lime, com mais 300 veículos. Há ainda a expectativa da chegada da espanhola Movo, com outras 300 patinetes.

Poluição do ar

O diretor de Relações Governamentais da Lime para América do Sul, Felipe Daud, afirma que, além da mobilidade urbana, o uso de patinetes elétricas é um importante aliado para a diminuição da poluição do ar.

"O tema da poluição do ar é muito importante para cidades como Bogotá, Cidade do México e Santiago do Chile, cidades muito poluídas. No Chile, por exemplo, a gente acabou de fazer uma pesquisa e descobrimos que cerca de 30% a 35% das nossas viagens substituem corridas de carro. As corridas de patinete chamamos de "última milha", pois é feita para você andar mais ou menos 1 ou 2 quilômetros, por dez ou quinze minutos, no máximo. Já se sabe que muitas das viagens de Uber ou de táxi são viagens curtas, de até dois quilômetros, com apenas um passageiro. Essa viagem pode ser facilmente substituída pela patinete", defende Felipe.

De acordo com ele, a Lime é a maior empresa de patinetes elétricas do mundo, presente em mais de cem cidades. Apenas em Santiago, capital do Chile, já foram feitas mais de 700 mil corridas usando o patinete elétrico. Na América Latina, ele afirma que já foram registradas mais de 1 milhão de viagens e, no mundo, mais de 50 milhões.

"A gente estima que o mercado de Bogotá, por exemplo, no futuro, possa ter até 100 mil patinetes (sendo uma patinete para cada cem habitantes). É um mercado onde você pouparia 48 milhões de toneladas cúbicas de CO2/ano", afirma Felipe.

De acordo com pesquisas globais conduzidas pela Lime em 26 cidades, aproximadamente uma em cada 3 viagens feitas em patinete substituiu um passeio que, de outra forma, teria sido feito de carro. A empresa estima que, com isso, tenha impedido a emissão de 6.220 toneladas de carbono na atmosfera.

Segurança

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário-geral da Unidade Nacional de Segurança Viária (Unasev) do Uruguai, Adrián Bringa, explicou que o país vive um boom semelhante ao ocorrido alguns anos antes com as bicicletas elétricas. 

A regulamentação desse tipo de transporte, enquadrado com veículo elétrico, foi fruto de um trabalho técnico rigoroso para definição de regras e normas. Por enquanto, as patinetes são equiparados às bicicletas elétricas, e os usuários não estão sujeitos a multas.

Ainda segundo Bringa, os usuários das patinetes, assim como os ciclistas, devem seguir as normas de trânsito. "Devem sempre circular por ciclovias e vias, nunca nas calçadas; respeitar a velocidade máxima das vias; usar capacetes e coletes refletores. Os veículos elétricos devem ter ainda luzes dianteiras e traseiras. E apenas maiores de idade podem conduzi-los", explica.

Felipe Daud, da empresa Lime, reconhece a importância da regulamentação e afirma que a atividade também deve ser regulada ao redor do mundo. No Brasil, ainda não existem normas que regulem o uso das patinetes.

"A gente tem uma preocupação muito grande com segurança. Recomendamos, em todas as nossas comunicações e na própria patinete, o uso do capacete. Reforçamos que os usuários não devem usar calçadas e menores de idade estão terminantemente proibidos. A gente sabe que os acidentes vão ser menores quanto melhor for a infraestrutura da cidade. A gente trabalha também com isso, na criação de ciclovias, de vias de baixa velocidade. Ruas onde o carro pode transitar até 30 km, são uma solução para o patinete", afirma.

Requisitos

No Uruguai, enquanto o uso das patinetes não é regulamentado, o modal é  entendido como veículo elétrico.

Para usar a patinete, o usuário deve ter mais de 18 anos e estar com capacete. Não é permitido “dar carona” – ou seja, mais de uma pessoa por patinete. As patinetes devem andar nas ruas, o mais próximo possível do meio-fio, ou em ciclovias. É proibido circular nas calçadas.

O uso de capacetes ainda não é respeitado pela maioria dos usuários. A reportagem da Agência Brasil flagrou ainda dezenas de crianças passeando nas patinetes e diversos casos de mais de uma pessoa por veículo.

Como funciona

O aluguel das patinetes é relativamente simples. O usuário deve, em primeiro lugar, baixar o aplicativo da empresa e cadastrar um cartão de crédito para a cobrança. Uma vez dentro do aplicativo, ele consegue identificar onde estão as patinetes disponíveis mais perto. Após localizá-la, deve-se abrir o aplicativo e "ler" o código QR da patinete – essa ação destrava o veículo.

No Uruguai, é preciso desembolsar 20 pesos (aproximadamente R$ 2,50) para destravar o veículo. São cobrados ainda 4 pesos (aproximadamente R$ 0,50 centavos) por minuto de uso.

Em Brasília, o usuário paga R$ 3,50 para destravar o equipamento. A cada minuto de uso é debitado R$ 0,50.

Após destravado, a patinete está pronto para uso. Ao terminar o trajeto, o usuário entra novamente no aplicativo e encerra a “corrida”. As patinetes podem ser deixadas na rua, em local que não bloqueie a circulação de pessoas e de outros veículos, nem impeça acesso a rampas, garagens e paradas de ônibus.

Todas as patinetes são equipadas com GPS. Desta forma, funcionários das empresas conseguem identificar os locais onde foram deixadas, recolhê-las e levar para os galpões onde são recarregadas durante a noite.