Governo do Rio quer assumir Canecão e retomar atividades no local
O governo do Rio de Janeiro quer ter a cessão da casa de espetáculos Canecão, em Botafogo, para retomar o mais rápido possível as atividades no local, que foi fechado em 2010 após disputa judicial entre a família Priolli, que administrava o espaço cultural, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dona do imóvel.
O secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio, Ruan Lira, informou que vai formalizar em julho, por meio de ofício dirigido à UFRJ, o pedido de cessão do Canecão para o governo fluminense. “Vamos pleitear o Canecão junto ao governo federal para que possamos encontrar, o mais rápido possível, soluções para viabilizar a reabertura da casa, seja por modelos de cogestão e parcerias público-privadas ou em parceria com agentes culturais”, disse Lira.
“Temos pressa em reabilitar esse espaço que já abrigou uma das maiores casas de espetáculos do país”, acrescentou.
Segundo o secretário, esse processo vai deve caminhar da forma “célere" com que o governo estadual agiu ao sancionar a lei aprovada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no dia 4 de maio, que cancelou o tombamento do Canecão, feito em 1999. “Fica revogada a Lei Estadual nº 3267, de 7 de outubro de 1999, que determina o tombamento da casa de espetáculos Canecão por interesse histórico e cultural”, diz texto publicadonesta quinta-feira (27), no Diário Oficial do Estado.
UFRJ
O reitor da UFRJ, Roberto Leher, disse que a universidade recebeu com muita satisfação o fato de o governador ter sancionado a lei que promoveu o destombamento do Canecão e ressaltou que este é um anseio da instituição. Segundo o reitor, a universidade trabalhou a favor da mudança da lei de 1999, porque o tombamento da casa de shows criava um obstáculo a investimentos na área onde o imóvel está localizado e que também pertence à instituição.
Leher, no entanto, defende o projeto Viva UFRJ, de valorização do patrimônio da universidade elaborado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para seleção de investidores por meio de edital de licitação. “Agora, com essa etapa vencida, temos condição de iniciar de maneira mais acelerada o desenvolvimento do projeto do futuro espaço cultural e também toda a modelagem necessária à cessão de áreas da universidade, totalizando 480 mil metros."
De acordo com o reitor, isso "possibilitará investimentos extremamente estratégicos para o futuro da UFRJ, que faz 100 anos em 2020”. Leher transmitirá o cargo à professora Denise Pires de Carvalho no dia 8 de julho.
Além da reativação do Canecão, o projeto prevê a cessão de áreas dos campi da UFRJ na Praia Vermelha, na zona sul da cidade; e no Fundão, na zona norte, por até 50 anos. Em troca, os investidores que vencerem a licitação serão responsáveis pela manutenção dos prédios. Conforme o projeto, isso permitiria a construção de de restaurantes universitários e de moradias para estudantes com renda mais baixa, além da conclusão de prédios que tiveram as obras interrompidas. “Temos, infelizmente, muitas edificações que estão interrompidas e, com o desenvolvimento do projeto, poderemos concluir essas edificações”, contou Leher.
Para o reitor, o desenho do projeto permite a valorização do patrimônio da UFRJ. “O melhor de tudo é que o projeto com o BNDES, prevê que o investidor que vencer a licitação para uso dos espaços que a UFRJ está cedendo por um período de até 50 anos serão responsáveis pela manutenção desses prédios, de modo que, daqui a 50 anos, o patrimônio que for edificado a partir da cessão será um patrimônio com qualidade semelhante, muito próximo ao que nós teremos no processo de construção dos nossos ativos, que enfim, serão as contrapartidas do importantíssimo projeto desenvolvido pela UFRJ com o BNDES”, afirmou.
O Canecão, que funcionou no imóvel em Botafogo por 43 anos, foi criado em 1967, pelo empresário Mário Priolli, como uma cervejaria. Em 1969, tornou-se um palco desejado por artistas de sucesso, com a estreia de um espetáculo da cantora Maysa. Por lá, passou boa parte da história da música popular brasileira (MPB), com apresentações de cantores e compositores como Roberto Carlos, Martinho da Vila, Cazuza, Maria Bethânia, Chico Buarque, Marisa Monte, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Toquinho e Miúcha. Com o fechamento, as instalações se deterioraram, e o local hoje está em escombros.
Votação
O projeto aprovado na Alerj, que cancelou o tombamento é de autoria dos deputados André Ceciliano (PT), presidente da casa e Rodrigo Amorim (PSL). Nas discussões em plenário, Ceciliano destacou que o projeto prevê o funcionamento de uma casa de espetáculos de 1,500 lugares na área onde está localizado o antigo Canecão, o que não ocorreria, caso não houvesse o destombamento.
Após aprovação por votação simbólica, o deputado Rodrigo Amorim (PSL) estava confiante na sanção do governador. “O governador deve sancionar a lei e, aí, efetivamente, uma vez sancionada, a lei já entra em vigor, e a gente pode dar o segundo passo, que é justamente a discussão de qual será a destinação, seja administração via UFRJ através do BNDES, seja na hipótese que eu defendo, que é a estadualização, com o governo do Rio de Janeiro desenvolvendo projeto de parceria público privada”, disse Amorim no dia em que o destombamento foi aprovado.