Iphan/RJ vai para o Teleporto até conclusão da restauração de sua sede
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Até o final desta semana, a superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pretende transferir todos os seus departamentos para o Centro Empresarial Cidade Nova, mais conhecido como Teleporto, na região central do Rio de Janeiro. A mudança é devido às obras de restauração no edifício Docas de Santos, que foi inaugurado em 1908 na antiga Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, e que abriga a sede do Iphan desde a década de 1980.
O superintendente do Iphan, Manoel Vieira, destacou, em entrevista à Agência Brasil, que além de ser um bem federal tombado, o prédio é também tombado pelo estado do Rio de Janeiro. “Tem dupla proteção”. O edifício foi construído para sediar a Companhia Docas de Santos e reflete a beleza e a importância que essa empresa teve no passado. “Importância histórica. E isso está refletido nos ornamentos, nas decorações, em toda a parte artística da arquitetura do prédio”.
O projeto de restauração ficou pronto no início de 2019, mas o Iphan conseguiu recursos do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para começar a obra só em meados do ano. O custo inicial do projeto atingia R$ 18 milhões, mas depois da licitação, a empresa contratada (Concrejato) reduziu o valor para R$ 12.967.660,73. “O processo licitatório foi super bem-sucedido”, disse o superintendente.
Atualmente, mais de 80% do material já foi transferido para o Teleporto, e Manoel Vieira acredita que a partir da próxima segunda-feira (3), todo o sistema do Iphan-RJ estará funcionando no novo local.
Inicialmente, a previsão era que as obras de restauro do prédio-sede da superintendência durassem 30 meses, considerando que os funcionários permanecessem no local. Vieira explicou que como não podia haver garantia mínima de salubridade nos ambientes de trabalho, optou-se por transferir temporariamente os departamentos do Iphan-RJ. “Isso, obviamente, vai reduzir o tempo de obra”. Vieira afirmou que isso significará, no mínimo, redução da obra em seis meses. A expectativa é que o Iphan volte a funcionar no edifício no começo de 2022.
Patrimônio
O Iphan já procedeu à identificação de todo o patrimônio artístico e histórico do prédio durante a elaboração do projeto de restauração. “Do que tinha que descobrir, 90% já foram descobertos”, afirmou o superintendente. Informou que as obras começaram a ser planejadas há mais de 20 anos, quando o prédio ainda garantia uma condição de conservação boa. “A gente não esperou o prédio entrar em deterioração para começar a planejar os serviços de conservação. Isso, além de reduzir os gastos com as obras, garante também que a gente vai ter uma quantidade menor de surpresas à frente”.
Nas paredes do edifício, o Iphan identificou diversas pinturas ao longo do tempo. Destaque para as pinturas mais próximas ao período de origem do prédio, “onde você tem um estilo associado à Belle Époque, a alguns movimentos de arte do início do século 20”, destacou Vieira. A Belle Époque foi um período ocorrido na Europa e compreendido entre 1871, final da guerra franco-prussiana, e 1914, ano do início da Primeira Guerra Mundial, caracterizado por grande produção artística, literária e bom desenvolvimento tecnológico.
Encobertas por camadas de tinta branca desde a década de 1960, as pinturas internas do antigo Prédio da Companhia Docas de Santos são atribuídas ao artista Del Bosco e a Benno Traidler. De estilo eclético, o imóvel foi projetado pelo engenheiro paulista Ramos de Azevedo e construído pela empresa Antonio Januzzi, Filho & Companhia. Ostenta portas entalhadas, executadas pela Marcenaria Tunes. O prédio possui pisos em mármore de Carrara, além de ser decorado com temática marítima, referência à vocação naval da Companhia Docas de Santos. Na fachada, em cantaria e argamassa pigmentada, podem ser notadas proas de navios e gárgulas decorando os andares superiores. A estrutura interna é em ferro fundido.
O tombamento do imóvel ocorreu em 1978. Oito anos depois, em 1986, tornou-se sede da Fundação Pró-Memória, que em conjunto com a então Secretaria do Patrimônio, deu origem ao atual Iphan.
Acesso gratuito
O superintendente do Iphan-RJ revelou que no andar térreo do edifício Docas de Santos serão instalados a biblioteca e o arquivo do órgão. O objetivo é colocar todo o acervo do Iphan disponível gratuitamente para o público de maneira mais facilitada. Esse acervo contém todas as informações referentes ao trabalho do Iphan no Rio de Janeiro ao longo de todas as décadas. A superintendência já está em processo de contratação da digitalização de todo o acervo para disponibilizá-lo também à distância. “Ou seja, a pessoa que tiver interesse em alguma informação específica terá condições de fazer essa pesquisa também de forma remota”. Serão beneficiados com isso, especialmente, arquitetos e museólogos que estejam desenvolvendo algum trabalho de restauração sobre um bem que esteja tombado, porque terão acesso mais facilitado a todo o histórico desse bem.
Inaugurado em 1908, o Docas de Santos é um dos primeiros edifícios da Avenida Rio Branco. São da mesma época o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, todos construídos na mesma rua.
As obras de restauro do edifício-sede do Iphan-RJ englobam toda a parte de fachada, cobertura, interior, elevadores, ar-condicionado, combate a incêndio, parte hidráulica. “Tudo vai passar por revisão, modernização ou instalação nova”. Em relação à parte elétrica, a revisão foi efetuada há dez anos. O serviço foi bem realizado e não há nenhum problema com relação à parte elétrica, disse o superintendente.
Não será possível recuperar todos os detalhes originais do prédio, porque ele sofreu muitas modificações ao longo de seus 11 anos de existência. Não há informação de como eram alguns ambientes no passado, disse Manoel Vieira. Algumas salas são ricamente ornamentadas e muito escuras e, como se trata de uma área de trabalho do Iphan, e não um museu ou biblioteca, não seria possível dispor de um ambiente adequado de trabalho nesses espaços, explicou Vieira. Nessas áreas de trabalho, a opção foi manter o estado de revestimento atual, que são paredes pintadas de branco. Em outras áreas de circulação, no auditório e salas de reunião, o Iphan vai prezar por uma restauração mais fina.
Visitação
Como o Rio de Janeiro é oficialmente a Capital Mundial da Arquitetura para 2020, de acordo com anúncio feito em 2018, em Paris, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Manoel Vieira pretende iniciar um processo de visitação para que alunos de arquitetura, turistas e pessoas interessadas possam visitar as obras e “conhecer o prédio em suas entranhas, nos seus recantos, locais a que, provavelmente, não teriam acesso”.
O prédio será uma maneira de o Iphan apresentar à população as novas técnicas e o que há de mais atual nos procedimentos de recuperação. “Vai ser um momento muito importante para o Iphan e para a sociedade também entender que o Iphan não só cobra, mas também busca garantir os cuidados necessários na sua própria sede”.
A ideia é iniciar a visitação no final de fevereiro, após o carnaval. A intenção é disponibilizar dez vagas para que as pessoas possam se inscrever. As cinco primeiras vagas serão exclusivas para estudantes de arquitetura, museólogos e profissionais da área de patrimônio. As cinco demais vagas serão abertas para o público em geral. A visitação, entretanto, será conjunta.
Manoel Vieira considerou a troca entre alunos e população em geral importante porque vai ter um guia para fazer a visita orientada e perguntas tanto de pessoas que estão estudando determinados assuntos, como pessoas que não têm formação específica na área. Isso vai gerar curiosidades completamente diferentes e que poderão levar a outras reflexões, avaliou.