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Jovens de comunidades se juntam para combater impacto da covid-19 

Rio é a capital brasileira com a maior taxa de letalidade pela doença
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 11/12/2020 - 20:49
Rio de Janeiro
Complexo do Alemão
© Arquivo/Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Jovens de comunidades cariocas que participam do Programa Jovens Construtores, realizado pela organização não governamental (ONG) Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), se juntaram para combater os impactos da covid-19 nas periferias da cidade. O programa objetiva contribuir para o crescimento pessoal e profissional de jovens moradores de favelas e periferias, associado à mobilização e desenvolvimento de famílias, organizações e comunidades.

Com base em dados disponíveis no sistema MonitoraCovid-19, que apontam o Rio de Janeiro como a capital brasileira com a maior taxa de letalidade pela doença, acima da média mundial, o Programa Jovens Construtores, em parceria com a plataforma TikTok e a BrazilFoundation, vai financiar e implementar 52 propostas de jovens residentes em dez comunidades cariocas para o combate, prevenção e efeitos do vírus em seus territórios. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a população de bairros pobres é a mais atingida pela pandemia do novo coronavírus, com uma desigualdade ainda maior em função da subnotificação de casos.

Durante todo o mês de dezembro, as ações vão ocupar Complexo do Alemão, Morro dos Prazeres,  Mangueira, Borel, Providência, Pavuna, Maré, Del Castilho, Cidade de Deus e 29 de Março. 

A ideia é fortalecer a rede de graduados no Programa Jovens Construtores, para que atuem como lideranças em suas comunidades, reduzindo os impactos da covid-19 a partir de projetos que eles próprios criaram. A estimativa é de que quatro mil pessoas, pelo menos, serão atingidas por essas iniciativas, que serão divulgadas na rede social TikTok.

Projetos

Um dos projetos de ação comunitária foi idealizado pela produtora cultural Vivian Kristinny, de 25 anos, moradora do Morro do Borel. Vivian quer reunir esforços para que a cultura permaneça viva na favela em tempos de pandemia. “Sem poder fazer shows, realizar slams (poesia falada) e saraus, que são práticas muito comuns nas periferias, muitos artistas perderam o lugar de se apresentar, divulgar e trabalhar”. O projeto de Vivian foca na transmissão de lives de artistas locais, sorteios e parcerias com empreendedores e empreendedoras da região. “Minha ação é só a pontinha do iceberg em tornar o Borel um espaço ainda maior de cultura. Tem muita potência aqui dentro, mas quero tornar isso mais visível para fora. Precisamos levar a conscientização de que ainda estamos vivenciando uma pandemia, mas do jeito que a gente faz, com barulho e arte”, disse a produtora.

O motorista Rodrigo Henrique, 26 anos, jovem construtor graduado em 2012 e morador do Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, salientou que a situação do vírus em periferias é agravada pela circulação de notícias falsas. “As fake news matam. A desinformação ou a informação distorcida prejudica ainda mais a comunidade em meio à pandemia. Por isso, quero fazer um debate junto aos jovens e lideranças comunitárias, com intuito de esclarecer essas notícias em relação à covid-19, além de abordar o tema político-racial, a fim de resgatar nossa identidade nas favelas e mostrar a importância de cuidarmos das nossas comunidades”, apontou Henrique.

A preocupação com os estudos durante a pandemia é o enfoque dado pelo projeto da estudante Maria Isabely, 18 anos, residente do Morro da Providência. Ela tenciona distribuir panfletos sobre elaboração de currículos e reforço escolar. “Estudar em casa exige força de vontade. Quando tem alguém para nos apoiar é mais estimulante. Assim como eu preciso de forças para continuar a estudar, quero que crianças e jovens também recebam esse apoio. Muitas pessoas dizem que esse ano é considerado como perdido, porém precisamos começar do zero e nunca desistir”, enfatizou Maria Isabely.

A auxiliar de creches Dayana Barbosa, 23 anos, moradora da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, quer reforçar essa rede. Formada pelo programa em 2016, ela quer focar sua ação para os idosos, que constituem o maior grupo de risco da covid-19. “Os idosos precisam de mais atenção na pandemia. Na minha área, muitos vivem em situação precária. Pensando nisso, vou ajudar com produtos de higiene, máscaras e cesta básica. Afinal, hoje estou ajudando e, amanhã, pode ser eu quem precise de ajuda. Solidariedade gera solidariedade”, observou.

Programa

O Programa Jovens Construtores está presente no Brasil desde 2010. Trata-se de uma tecnologia social voltada para a formação de jovens, originalmente concebida pela organização Youthbuild e implementada nacionalmente pelo Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), com assessoria do YouthBuild International. Na avaliação de Melissa Abla, coordenadora do Programa Jovens Construtores, “é importante manter ativa a rede Jovens Construtores, composta por mais de 450 jovens no Rio de Janeiro, e demonstrar a importância e potência do protagonismo juvenil para a resolução de problemas complexos vividos nas comunidades cariocas”.

Cedaps

O Cedaps atua, desde 1993, no Rio de Janeiro. A ONG cresceu e se desenvolveu direcionando seu trabalho para comunidades, capacitando moradores locais para a identificação e a realização de ações de melhoria da qualidade de vida e de promoção da saúde. Desde 2005, o Cedaps fomenta a Rede de Comunidades Saudáveis do Rio de Janeiro, composta por 121 associações e grupos comunitários. Hoje, além de atuar na assessoria às comunidades do Rio de Janeiro, a instituição desenvolve ações de cooperação técnica em outros estados e também em outros países, a partir da metodologia Construção Compartilhada de Soluções em Saúde. As informações são da assessoria de imprensa do Cedaps.