Polícia Civil acredita que tiroteio foi intimidação a PMs à paisana
A principal linha de investigação da Polícia Civil de São Paulo sobre o tiroteio ocorrido na manhã de ontem (17) em Paraisópolis aponta que policiais militares à paisana, que estariam na comunidade para monitorar a agenda do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas, possam ter sido intimidados por criminosos da comunidade paulistana.
“A principal linha seria de uma eventual intimidação pela presença dos policiais militares que foram descobertos dentro da comunidade”, disse Elisabete Sato, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Esses policiais eram da P2, setor de inteligência da Polícia Militar e estavam à paisana. “A presença deles [dos policiais] não tinha nada a ver com a segurança de quem quer que seja. Eles estavam apenas monitorando o que estava acontecendo”, explicou a diretora do DHPP.
Ela ressaltou, no entanto, que essa é uma hipótese ainda em investigação, mas que, aparentemente, a intimidação foi direcionada a policiais e não ao candidato. Segundo ela, nenhum tiro foi disparado ao prédio onde Tarcísio estava. “Caberá a nós agora essa investigação para apurar o que efetivamente aconteceu: se tratou-se de uma intimidação, se tratou-se de um atentado ou de uma outra circunstância diferente. Ainda não temos essa linha”, destacou.
Em entrevista coletiva concedida na tarde de hoje na sede do DHPP, o delegado-geral da Polícia Civil, Osvaldo Nico Gonçalves, ressaltou que a Polícia Civil não descarta nenhuma hipótese para o que ocorreu ontem em Paraisópolis. “A Polícia Civil não descarta nenhuma hipótese, nenhuma possibilidade. Tudo será investigado a seu tempo”, disse.
O tiroteio ocorreu durante uma agenda do candidato Tarcísio de Freitas ao Primeiro Polo Universitário de Paraisópolis, uma das maiores comunidades da cidade de São Paulo.
Segundo o líder comunitário de Paraisópolis e presidente do G10 Favelas, Gilson Rodrigues, a comunidade não tinha conhecimento prévio sobre agenda de Tarcísio. "É importante ressaltar, contudo, que nenhum representante do G10 Favelas ou da União de Moradores e do Comércio de Paraisópolis - entidade que representa a comunidade, tinha conhecimento de qualquer agenda de candidatos na comunidade nesta data. Tampouco foi feito nenhum tipo de convite a nenhum dos nomes que concorrem a cargos eletivos neste pleito", escreveu.
Investigação
Cinco policiais militares já foram ouvidos na investigação, que teve início ontem mesmo. Segundo Elisabete Sato, com base nesses depoimentos, foi possível saber que dois indivíduos da comunidade, que estavam em uma moto, teriam notado a presença desses policiais à paisana monitorando a região. A polícia percebeu que os dois estariam armados. E o tiroteio começou.
“Por volta das 10h30, o horário não é preciso, dois policiais do P2 [à paisana] do 16º BPM/M (Batalhão da Polícia Militar) estavam no interior de um veículo descaracterizado fazendo a observação do local, na rua Manuel Pinto, quando eles observaram dois indivíduos em uma motocicleta subindo e descendo a rua. Os dois que estavam na moto perceberam esse veículo onde estavam os policiais militares, pois não era um veículo costumeiramente visto ali na região. Eles então passaram próximo de moto, filmando o interior deste carro. Neste momento, só havia um policial militar. O outro tinha ido até o local onde seria inaugurado o 1º Polo Universitário de Paraisópolis”, explicou a delegada.
“Quando esse policial [no carro] percebeu que os dois sujeitos de moto estavam gravando o interior do veículo onde ele estava, ele telefonou para o que estava lá dentro [do prédio, onde estava o candidato]. Lá de cima, pela janela, o policial [que estava dentro do prédio] percebeu que os dois indíviduos de moto estavam passando com um volume na cintura e que eles estavam armados. O alerta foi dado para a equipe do candidato e, logo em seguida, ouviu-se, no final da rua, próximo da rua Ernest Renan, uma rajada de tiros. Ali já criou-se uma situação extremamente constrangedora para todo mundo que estava ali”, disse.
Foi então que esse policial que estava no prédio desceu e foi para a rua, junto com um outro policial à paisana que também estava no prédio. Nesse momento, eles cruzaram com as duas pessoas que estavam na moto. “Ali se inicia o tiroteio”, explicou a diretora.
“O que nós temos dos relatos [dos policiais militares que já foram ouvidos] é que os dois policiais militares do P2 ficaram acuados. Nas imagens que estão sendo divulgadas e que nós também já temos, vários suspeitos em dez motos, com dois suspeitos em cada moto, ficaram circulando a rua, aquele perímetro, com armas longas. O que a gente tem até o presente momento: vários suspeitos encurralando dois policiais militares que se abrigaram em um veículo blindado até que o apoio chegasse para tirá-los dali”, explicou.
Crime comum
Em entrevista hoje pela manhã, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, descartou a hipótese de que o tiroteio tenha ocorrido por motivação política. "Aparentemente é possível descartar a suspeita de que houve um atentado. Aparentemente foi um crime comum", disse.
Uma pessoa morreu durante o tiroteio. Segundo a Polícia Civil, ele teria passagens pela polícia e seria um dos ocupantes da moto. A segunda pessoa na moto, também procurado pela Justiça, já foi identificada e está foragida. Ambos teriam passagem por tráfico de drogas e roubo a residência, disse Sato. No entanto, disse ela, nenhuma arma foi encontrada com a vítima.
O pai da vítima foi ouvido na investigação. Agora, a polícia está analisando imagens das câmeras corporais dos policiais militares e deve também ouvir os seguranças do candidato para saber se eles também fizeram disparos.
“Nós temos um policial do P2, que se apresentou aqui e disse ter efetuado o disparo na direção da vítima. Muito provavelmente seja ele o autor do disparo [que matou a vítima]. Mas não dá para afirmar porque o disparo que atingiu a vítima foi de entrada e saída e não temos projétil para fazer o confronto do projétil com a arma que foi apreendida”, disse.