Casa onde viveu Lélia Gonzalez recebe placa em sua homenagem
Neste sábado (30), a prefeitura do Rio de Janeiro e o Projeto Negro Muro lançam projeto relacionado à cultura da população negra. Imóveis de relevância histórica para a memória negra serão identificados como patrimônio cultural.
A primeira placa foi em homenagem à autora, antropóloga, filósofa e ativista negra Lélia Gonzalez, falecida em 11 de julho de 1994, aos 59 anos. A placa foi colocada no número 106 da Ladeira de Santa Teresa, na região central do Rio.
Lélia é uma referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil e no mundo, sendo considerada uma das principais autoras do feminismo negro no país. Foi pioneira em pesquisas sobre a cultura negra no Brasil e co-fundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ) e do Movimento Negro Unificado (MNU).
A diretora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Dione Oliveira Moura, lembra que a casa de Lélia era um importante ponto de acolhimento de ativistas negros. "Nos anos 80 e 90, a residência dela foi porto seguro para reuniões de mulheres e homens negros que criaram o MNU", conta Dione, coordenadora do projeto Cartas para o Amanhã - Memória de Lélia Gonzalez.
"Destacar a morada de Lélia é destacar uma morada de uma intelectual, jornalista, escritora, pensadora, dessa griô como uma grande semeadora. Ali, nesse residência, Lélia semeou muito do que vemos hoje nas gerações atuais, como a minha geração, nas gerações futuras, nascentes, resgatando a importância e o lugar de nós mulheres negras brasileiras, afro-latinoamericanas e mulheres negras transfronteiras."
Bandeira
Em 2022, o Museu de Arte do Rio (MAR) hasteou uma bandeira criada pela artista Rosana Paulino com conceito da filósofa Lélia Gonzalez. A proposta foi incentivar reflexões sobre o lugar de fala da mulher negra e a ancestralidade afro-brasileira.
A artista se baseou no conceito de “Pretuguês”, consagrado nos escritos de Lélia. Trata-se de uma junção de falares brasileiros que misturam referências das línguas africanas com referências do português clássico vindo do colonizador. “A gente teve grandes nomes em torno dessa ideia do “pretuguês”, como Clementina de Jesus, os antigos sambistas, que gravavam em uma língua que não caberia na norma culta da língua”, comentou Marcelo Campos, curador chefe do museu.
Segundo ele, quando Lélia traz a ideia do que seria o “pretuguês”, ela liberta essa relação de erro, que pode ser muito mais uma espécie de sotaque, de modo popular do brasileiro falar, do que, necessariamente, um erro gramatical.