Blocos de rua do Rio poderão ter patrocínio próprio neste ano

No carnaval deste ano, o bloco A Rocha da Gávea mudará o percurso, o desfile crescerá e também a expectativa de público, que deverá dobrar. Com isso, vêm também mais gastos. Na reta final para a folia, o bloco conseguiu que duas marcas se juntassem ao desfile com patrocínio e apoio.
O patrocínio foi possível graças a uma portaria publicada no último dia 10 pela Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), permitindo blocos de rua incluídos na programação autorizada do carnaval do Rio de Janeiro possam contar com patrocínio, além das marcas oficiais do evento. A medida vale apenas para este carnaval.
“Os custos aumentaram assustadoramente, porque você não pode ter o mesmo carro de som, que precisa ser maior, você tem que aumentar tudo. E acaba que os custos também foram aumentando. Então, com certeza os patrocínios são mais necessários ainda mais nessa situação”, diz a presidente do bloco, Érica Andrade.
Poder recorrer a patrocínios além dos oficiais, que nem sempre chegam aos blocos de rua, para que tenham mais recursos para desfilar, é uma demanda das associações dos blocos do Rio.
Os blocos reclamam da burocracia e dos altos custos para fazer parte da chamada programação oficial do carnaval carioca. Além disso, até este ano, eram impedidos de buscar patrocínio por conta própria. Em anos anteriores, as empresas eram multadas se, por exemplo, entregassem brindes durante os desfiles.
“A gente não quer transformar o bloco numa coisa comercial. Mas, ao mesmo tempo, entende a necessidade de profissionalizar um pouco o bloco”, diz Érica. “Tem uma coisa que eu não gosto que é tornar a camisa do bloco um macacão de Fórmula 1 [cheia de patrocinadores]”, brinca.
Segundo Érica, o patrocínio deve se integrar nas propostas dos blocos, inclusive nas cores usadas nas fantasias e adereços, para não descaracterizar as agremiações que desfilam nas ruas. “Botar logo em lona, acho que é bem tranquilo, ter ativações também”, diz. Ela antecipa, por exemplo, que uma das marcas vai customizar adereços de carnaval e a outra, distribuir protetores solares.
Novas regras
Pelas novas regras de patrocínio, as marcas poderão aparecer em estandartes, em plotagens – como o envelopamento do carro de som do bloco –, em balões infláveis, camisas e em brindes. As marcas deverão ser exibidas de maneira clara e estética, sem prejudicar a visibilidade e a identificação dos patrocinadores oficiais do carnaval do Rio em 2025.
Segundo a portaria, os organizadores dos blocos de rua devem submeter os projetos de patrocínio à Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) para aprovação prévia. A medida proíbe condicionar o acesso a áreas restritas do bloco à venda de camisetas com as logos dos patrocinadores.
De acordo com as associações dos blocos, a medida foi tomada após uma série de reuniões das ligas Sebastiana, Zé Pereira, Sambare, Coreto, Carnafolia e Liga do Centro com a prefeitura do Rio de Janeiro. A Riotur reconhece que faltava clareza nas regras para captação de patrocínio e diz que dará orientações sobre o que é necessário para viabilizar as ações publicitárias nos blocos.
“É uma medida, eu diria, revolucionária no carnaval”, afirma o presidente da Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira, Rodrigo Rezende. “O valor que um bloco precisa é infinitamente menor do que o valor de uma cota de patrocínio para a cidade do Rio de Janeiro. Então, isso permite com que empresas com menos recursos possam fazer aporte diretamente para os blocos.”
Segundo Rodrigo, a expectativa é que os patrocínios cubram os custos dos grandes blocos e que possam permitir que sigam desfilando, assim como servirão para manter pequenos blocos e blocos fora do eixo da zona sul, região mais visada pelas marcas.
“Tem marcas de diferentes tamanhos para diferentes públicos, e essas marcas poderão, a partir de agora, começar a procurar os blocos nas regiões geográficas de seu interesse”, acrescenta Rodrigo, que espera também que a medida, que vale inicialmente apenas para este carnaval, seja prorrogada para os próximos anos.
Para Rodrigo, os patrocínios não deverão afetar a identidade dos blocos. “A última coisa que eles querem é descaracterizar seus desfiles. Isso sempre foi uma luta muito grande, inclusive com os patrocinadores oficiais do carnaval.”
“São patrocínios pontuais, menores, que vão entrar de maneira orgânica, de maneira que o público e os próprios componentes [dos blocos] assimilem aquilo de uma maneira mais tranquila, não tão invasiva. Os blocos não nasceram como uma empresa que tem o objetivo de lucrar. Nasceram para desfilar para o carioca poder olhar e ser como se estivesse olhando para sua própria cédula de identidade”, enfatiza, Rodrigo.
Neste ano, o carnaval será nos dias 1º, 2, 3 e 4 de março. De acordo com a Riotur, o carnaval de rua atrai milhões de pessoas e movimenta a economia da cidade. Apenas em 2024, no total, cerca de 8 milhões de pessoas curtiram o carnaval no Rio de Janeiro. Dessas, 6 milhões participaram de 399 desfiles de blocos de rua. Foram injetados na economia carioca R$ 5 bilhões.