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Luiz Gonzaga Belluzzo analisa atual cenário econômico no DR com Demori

Economista fala sobre desafios internacionais com as decisões de Trump
Gabriela Mendes - TV Brasil
Publicado em 11/02/2025 - 08:02
Brasília
São Paulo (SP) 10/02/2025 - Luiz Gonzaga Belluzzo analisa atual debate econômico no programa DR com Demori.  Foto Paulo Pinto/Agencia Brasil
© Paulo Pinto/Agência Brasil

A atual conjuntura econômica do Brasil e o cenário internacional, especialmente depois da posse do atual presidente dos Estados Unidos Donald Trump, foram os temas centrais da entrevista concedida pelo economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo ao jornalista Leandro Demori. Para Belluzzo, o debate econômico tem sido superficial, influenciado por discursos simplificados nas redes sociais, denominado por ele como "redes antissociais". 

O economista expressou preocupação com a predominância das visões dos mercados financeiros na condução da política econômica brasileira, especialmente no que tange ao risco fiscal e à crença de que o Brasil pode caminhar para a inadimplência da dívida pública. Segundo Belluzzo, essa crença é absorvida pelo cidadão comum como uma verdade porque se baseia em uma comparação errada com as finanças domésticas e ressaltou que o Estado possui instrumentos e responsabilidades distintas das de uma família e mecanismos para gerenciar sua dívida.

“Não existe estrutura financeira ou mercado financeiro sem a presença de dívida pública, porque ele é o ativo de última instância. É o ativo que tem mais liquidez.  Aqui já há uma parolagem. Parolagem dizendo que a dívida pública vai quebrar. Não há nenhum caso na história de dívida pública, denominada na sua própria moeda, de quebra”, afirmou. 

Investimentos

O economista ressaltou ainda que as conversas sobre os investimentos públicos no Brasil têm sido acirradas, especialmente com as pressões da Faria Lima e de setores da mídia que defendem a redução drástica dos gastos do governo. Segundo ele, para esses setores a solução para os desafios econômicos do país está em cortar despesas, interromper investimentos e adotar uma postura de austeridade fiscal.

Para Belluzzo, no entanto, ao impor barreiras ao investimento público, o Brasil corre o risco de prejudicar sua recuperação econômica, já que o governo estaria sem alternativas para estimular o crescimento. Segundo o economista, ao adotar essa visão, os setores que advogam pela limitação do papel do Estado na economia acabam desconsiderando os benefícios que os investimentos públicos podem gerar.

“À medida que a renda começa a circular você constrói uma fábrica, contrata mais trabalhadores, os trabalhadores recebem salário, gastam, incentivam a renda, estimulam a renda de outros fornecedores, de outras empresas, etc. Se a gente não entender essa coisa básica, a gente não vai entender a relação gasto-renda. Porque você vai ler os editoriais e todos eles falam da gastança. Isso denota um primarismo...”

E continua: “Você vê a ginástica que o Haddad tem que fazer para, na verdade, aumentar a receita, tratar isso do ponto de vista de maior arrecadação, criando novos impostos e, ao mesmo tempo, fazendo cortes. Ele tem que fazer isso porque é o que é recomendável? Não, porque isso é o que é possível.  E ele fez isso de uma maneira bastante eficaz nesse período do governo Lula, porque a economia teve um desempenho melhor do que era esperado”, avalia.

Internacional

A conversa também se aprofundou no impacto das políticas do governo Trump sobre o Brasil e os demais países dos BRICS. Belluzzo acredita que as ameaças de Trump de aumentar tarifas sobre produtos chineses e outros países emergentes, incluindo o Brasil, podem não passar de bravatas.

De acordo com ele, embora o presidente dos EUA faça uso de retórica agressiva, o efeito dessas medidas não é tão simples quanto parece. Ele explica que Trump, ao ameaçar sobretaxar importações da China, poderia prejudicar as próprias empresas americanas que dependem do fornecimento chinês para manter os custos baixos.

Belluzzo enfatizou ainda que a China tem se diversificado muito em suas exportações e atualmente possui uma presença global muito maior do que os Estados Unidos, com apenas 30% de suas transações voltadas para o mercado americano. Destacou ainda que a relação comercial entre o Brasil e a China tem sido bastante positiva para o país, com o Brasil mantendo um superávit em sua balança comercial com o gigante asiático, o que o coloca em uma posição confortável, apesar das ameaças externas. 

“Do ponto de vista da balança comercial, o Brasil é muito superavitário. Tem um superávit muito grande e tem superávit com a China. Do ponto de vista da estratégia americana, o que o Trump está demonstrando, é que ele está na defensiva, que ele está querendo provocar a reindustrialização americana, fazer que você tenha mais investimentos industriais nos Estados Unidos, proteger as empresas americanas”, ressaltou.

Em relação à ameaça de Trump de isolar países que decidam parar de usar o dólar em suas transações comerciais, Belluzzo mostrou ceticismo quanto à eficácia dessa medida. Ele argumentou que a dependência global do dólar é um fenômeno complexo, mas que outras moedas, como o yuan chinês, têm ganhado espaço nas transações internacionais. 

O economista sugeriu que, embora as ameaças de Trump possam gerar incertezas, o Brasil tem a capacidade de "driblar" essas dificuldades, utilizando sua flexibilidade nas negociações internacionais para proteger seus interesses econômicos

Sobre o programa

O programa Dando a Real com Leandro Demori, ou simplesmente DR com Demori, traz personalidades para um papo mais íntimo e direto, na tela da TV Brasil. Já passaram pela mesa nomes como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes; a deputada federal Erika Hilton; a cantora Zélia Duncan; e o fundador da banda Pink Floyd, Roger Waters.

O DR com Demori está disponível, na íntegra, no Youtube e no aplicativo TV Brasil Play. O programa também é transmitido em áudio, simultaneamente, na Rádio MEC, e as entrevistas ficam disponíveis em formato de podcast no Spotify.

* Matéria atualizada para complementação de informações.