Neguinho da Beija-Flor faz seu último desfile disputando título

Exatamente às 23h47 desta segunda-feira (3), segunda noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval carioca, o público do sambódromo da Marquês de Sapucaí ouviu o tradicional: “Olha a Beija-Flor aí, gente! Chora cavaco”.
O grito de guerra de Neguinho da Beija-Flor, intérprete da escola de samba de Nilópolis, na região metropolitana do Rio, marcava o último desfile oficial dele em disputa por um título para a agremiação da qual foi a voz dos sambas-enredos por 50 anos.
Em 20 de novembro de 2024, ele anunciou que 2025 seria o último carnaval: "muito obrigado por esse carinho maravilhoso. Eu não vou falar mais para não me emocionar, se não, não consigo cantar. Só posso dizer muito obrigado!", declarou pelo alto falante antes de começar o desfile e ser ovacionado pela plateia.
Mas o intérprete, que esteve presente em todos os 14 títulos da azul e branca, deixou claro que, se depender dele, esse é o último carnaval, mas não o último desfile.
“Vai ser no sábado das campeãs”, desejou, referindo-se à noite do próximo sábado (8), quando as seis escolas mais bem colocadas voltam à Marquês de Sapucaí para celebrar o resultado.
Desfile
A Beija-Flor foi a segunda escola a desfilar e apresentou ao público o enredo Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas, uma homenagem ao diretor de carnaval que figura entre as maiores personalidades da agremiação e do carnaval carioca.
Ao fim do desfile de 77 minutos, Neguinho fez questão de colocar o público do carnaval como o grande protagonista da festa.
“Eu costumo dizer que a grande estrela da Mangueira, da Portela, do Salgueiro, do Império, do Vasco, do Flamengo é o público, é a comunidade que os prestigia. A grande estrela da festa”, disse a jornalistas.
Perguntado sobre como será passar um carnaval sem ser a voz da Beija-Flor, disse que ainda não sabe a resposta.
“Vamos esperar 2026. Vamos esperar o próximo carnaval para ver”.
História
O intérprete de 75 anos entrou na escola em 11 de junho de 1975, quando ingressou na ala de compositores.
A identificação com a Beija-Flor foi tão profunda que chegou ao ponto de ele ter alterado o nome na carteira de identidade para Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.
Na história de tantos títulos há espaço para outros momentos marcantes, como o carnaval de 2009. Neguinho fazia tratamento contra um câncer, recebeu apoio da escola e da comunidade e, no dia do desfile, momentos antes de soltar o grito de guerra, casou-se em plena Passarela do Samba.
Despedida
A porta-bandeira Selminha Sorriso, que ocupa o posto há 29 anos, disse que tentou convencer o intérprete a não se aposentar.
“Eu prefiro não acreditar. O meu coração ainda não aceita. O Neguinho é Neguinho da Beija-Flor para sempre. Nunca terá outro”, disse.
Ela brincou que tentou convencê-lo a continuar cantando na escola. “Tentei, gente, infelizmente não consegui”.
Perguntado pela Agência Brasil sobre o pedido de Selminha, o intérprete apenas brincou: “Selminha é minha irmã, ela torce muito por mim”, antes de ser novamente ovacionado pelo público e cercado por pedidos de fotografias na área de dispersão.

