Freis franciscanos brasileiros auxiliam haitianos na busca pela reconstrução
As pessoas se aglomeravam na entrada. Uma, duas, centenas. Eram mulheres com crianças nos braços, algumas bem pequenas. Imploravam para entrar. Balançavam carteirinhas de vacinação, certidões de nascimento ou qualquer outra coisa que comprovasse que faziam parte da Missão Haiti. Estávamos em Croix des Buquets, uma região na periferia de Porto Príncipe, onde funciona um projeto coordenado por freis franciscanos brasileiros. Dezenas de iniciativas não governamentais como esta estão presentes em várias partes do país.
A missão conta com ambulatório – que tem especialidades de clínica-geral, ginecologia e pediatria –, centro de nutrição para crianças, projeto que oferece aulas para crianças e uma padaria industria, que fornece pães para a comunidade. Frei Gabriel Martins Alves é um dos responsáveis pelo projeto, que atende 650 pessoas diariamente. Chegou ao Haiti há quatro anos, um ano depois do terremoto.
“Quando cheguei aqui, encontrei um país destruído, pelo sismo de 2010, e muitas pessoas desesperadas ainda. Posso lhe dizer que após quatro anos, que eu vou completar agora no dia 22 de fevereiro, o Haiti mudou muito pouco. Muito pouco mesmo. As pessoas continuam miseráveis. Um país onde ainda não tem energia, não tem água encanada. E as pessoas estão aí, sem saber o que fazer”, lamenta.
Veja o especial completo da Agência Brasil sobre o Haiti.
Ele conta que diariamente recebe crianças já desnutridas que passam dois, três dias sem comer. Um dia antes de a reportagem da EBC conhecer a Missão Haiti, frei Gabriel nos conta que uma mãe chegou com um menino de 11 meses doente por falta de alimento. A criança não resistiu e morreu. “O principal problema que chega aqui pra nós se chama fome. As pessoas têm fome. Fome mesmo. Continua sendo um dos países mais pobres do mundo”, destacou. “A comunidade internacional precisaria entrar com boa vontade para ajudar o Haiti, porque a situação em que o Haiti se encontra é deplorável.”
Na Casa de Francisco, como é conhecido o local do projeto, as crianças também têm aula e aprendem o francês. Apesar de ser a língua oficial do país não é o primeiro idioma da maior parte dos haitianos, que ainda se comunicam em crioulo (creole, em francês). A coordenadora pedagógica do projeto, irmã Cláudia Adriana Aurieme, diz estar feliz com os resultados. “Começamos há dois anos com 25 crianças. Hoje na nossa zona distrital temos 170. A demanda é muito grande, porque nós damos duas alimentações por dia, uma educação de qualidade. Madre Clélia nossa fundadora dizia que a educação tem que passar pelo coração, é uma obra de amor. Então nós estamos aqui fazendo o nosso pedacinho. Como é interessante a alegria das crianças ao virem para a escola.”
Quando nossa reportagem visitou o Projeto, o dia era de festa. As famílias haitianas que participam do projeto se reuniram para rezar e agradecer o ano que acabava e pedir paz para o que se iniciava. A alegria era contagiante.
Em uma missa lotada, mulheres, homens e crianças cantavam e dançavam fazendo preces em crioulo. No fim da missa, filas gigantes se formaram. Todos esperavam por sacos de leite, fubá e arroz – donativos vindos do Brasil. A Arquidiocese do Rio de Janeiro conseguiu arrecadar 180 toneladas de alimentos.
Quem recebia a minicesta básica falava com gratidão. Com o saco de alimentos na mão, a costureira Naomi Camile não escondia a alegria. “Se não fosse essa doação, eu com certeza não teria dinheiro para comprar comida.”, diz. A comerciante Daniela Filogene é mãe de dois filhos e também está satisfeita com o donativo, mas desabafa: “Tudo aqui está muito difícil, porque não há trabalho”.
Frei Afonso Lambert, além de religioso, é dentista. Chegou ao país há quatro meses e também pretende auxiliar na realização do maior sonho dos franciscanos no Haiti: construir um pequeno hospital no local onde vivem, ainda em 2015. “As pessoas não têm acesso a tratamento médico de saúde. Então há muitas pessoas que deixam de ser atendidas por não ter dinheiro. Então o nosso sonho é esse e espero que Deus possa atender ao nosso apelo e sei que Ele fará isso também.”