OCDE diz que populismo ameaça Agenda 2030 das Nações Unidas
O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econôico (OCDE), Angel Gurría, afirmou hoje (3), em Lisboa, que uma "onda de protecionismo e populismo, bem como um sentimento antiglobalização" está a ameaçar a exequibilidade da Agenda 2030, no quadro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A informação é da Agência Lusa *.
O líder da OCDE discursou na 49.ª Conferência Tidewater sobre Desenvolvimento, promovida pela organização e que termina nesta terça-feira (4) em Lisboa, com a presença de 36 delegações de vários países, organizações internacionais, sociedade civil, agências bilaterais e multilaterais de auxílio, bancos e ONGs.
"Em 2015, a comunidade internacional trouxe esperança às atuais e futuras gerações quando aprovou a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que devem ser implementados por todos os países até 2030., o Acordo de Paris, a Agenda de Ação de Adis Abeba e vários passos decisivos para pôr fim à evasão fiscal e outras más praticas", afirmou Gurría.
"Mas, um ano e meio depois, uma onda de protecionismo, populismo e um sentimento antiglobalização está a ameaçar esta visão ambiciosa. A esperança, de que tomamos quase como garantida antes da crise, está a ser questionada", alertou o secretário-geral da OCDE. Para ele, a mensagem a transmitir hoje “é clara" e passa pela necessidade de todos unirem esforços.
Também participante do evento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que "não haverá Agenda 2030 com êxito se os Acordos de Paris não forem executados e não haverá êxito da Agenda 2030 se simultaneamente não conseguirmos ter uma discussão racional sobre movimentos de população, sobre mobilidade humana, sobre migrações e se não conseguirmos umo debate sobre estas questões em termos decentes."
Parcerias mais fortes
"Não temos outra opção. Temos de concretizar a Agenda 2030. Para isso, precisamos de parcerias mais fortes do que nunca", frisou o chefe da OCDE, lembrando que a ajuda aos países em desenvolvimento está num bom caminho, pois aumentou 8,9%, subindo para US$ 143 bilhões.
Angel Gurría admitiu, porém, que, apesar dos esforços, ainda há muito a fazer, sobretudo pelos mais de um bilhão de pessoas que ainda vivem na pobreza, sendo também necessário combater as desigualdades, que se acentuaram sobretudo nas áreas da educação e saúde. Ele alertou que a ajuda bilateral aos países em desenvolvimento caiu 3,9% desde 2015, o que significa que o apoio a África também diminuiu. "Temos de reverter essa tendência", falou.
Gurría garantiu "total disponibilidade" da OCDE nos esforços para cumprir o estipulado na Agenda 2030, lembrando que a organização que lidera já trabalha de perto com a ONU, sobretudo com o Conselho Econômico e Social das Nações Unida (ECOSOC), para modernizar o modo como o apoio financeiro ao desenvolvimento é medido.
Por outro lado, ele destacou que a OCDE também tem parcerias com a ONU em áreas como a criação da instituição Inspetores de Finanças Sem Fronteiras, que visa assegurar que a assistência das duas organizações tenha verdadeiro impacto nos países alvo.
Segundo Gurría, vários especialistas da OCDE estão já à disposição dos países desenvolvidos para os apoiar na elaboração de planos de implementação dos ODS, dentro e fora da organização. O apoio à migração e aos refugiados são também alvo da atenção da entidade, que publicou na semana passada um relatório sobre migração internacional.
"Temos de cumprir os compromissos que assumimos em 2015. Temos de reconquistar a confiança onde ela foi perdida. Temos de manter o foco nas gerações futuras, bem como nas atuais. E temos de demonstrar, através das nossas ações, que todos beneficiarão com uma forte cooperação internacional", concluiu Gurría.
* Com informações da ONU News