ONU expressa preocupação com civis em Duma após suposto ataque químico
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressou hoje (8) a preocupação com a situação dos civis na cidade síria de Duma, em Ghouta Oriental, e se mostrou "particularmente alarmado" pelo suposto ataque químico que, segundo algumas organizações não governamentais, deixou 42 mortos.
Após a "renovada e intensa violência" em Duma nas últimas 36 horas, Guterres pediu para que "todas as partes cessem os combates e restaurem a calma que havia", já que "não há solução militar ao conflito", acrescenta comunicado do porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric.
A ONU se baseia em relatórios que falam de ataques aéreos e fogo de artilharia em Duma, o último reduto rebelde de Ghouta Oriental, nos quais morreram civis, edifícios foram destruídos e vários centros de saúde ficaram danificados.
"O secretário-geral está particularmente alarmado pelas alegações de que foram utilizadas armas químicas contra a população civil em Duma", destaca o comunicado da ONU, que "não está na posição de verificar esses relatos".
A Defesa Civil síria e ONGs denunciaram que as forças leais ao presidente realizaram sábado (7) um ataque químico em Duma que causou a morte de pelo menos 42 civis e afetou outros 500. Segundo relatos, o ataque provocou na população sintomas de asfixia, pulsações cardíacas lentas e queimaduras na córnea, enquanto alguns afetados espumavam pela boca.
Guterres reiterou que, se for confirmado o uso de armas químicas no ataque, trata-se de um ato "abominável" que requereria uma "exaustiva investigação". Tanto as autoridades sírias como a Rússia negaram de maneira contundente o uso de armas químicas nos bombardeios de Duma e nenhuma outra fonte independente a confirmou.
Guterres considerou "crucial" que as partes do conflito protejam os civis em cumprimento às leis humanitárias internacionais e de direitos humanos, assim como às resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
Intervenção militar
A Rússia afirmou hoje (8) que as denúncias sobre o suposto ataque químico realizado pelas forças governamentais sírias são uma nova tentativa de justificar uma intervenção militar no país árabe. "O objetivo dessas falsas conjecturas, totalmente infundadas, é proteger os terroristas e a oposição radical que rejeita uma arrumação política e, ao mesmo tempo, tentar justificar um possível ataque militar do exterior", informou a Chancelaria russa em comunicado.
A nota adverte que "uma intervenção militar sob pretextos inventados e fabricados na Síria, onde se encontram soldados russos a pedido do governo legítimo, é absolutamente inaceitável e pode acarretar as consequências mais graves".
O governo russo considera que as denúncias são um novo caso de "desinformação" e lembrou que a fonte de tais informações, a ONG Capacetes Brancos, foi acusada de conivência com os terroristas, assim como outras organizações com base nos Estados Unidos e no Reino Unido.
O comunicado lembra ainda que a maior parte de Ghouta Oriental já foi liberada dos terroristas e que os "irredutíveis radicais" que ainda seguem oferecendo resistência em Duma "usam os civis como escudos humanos".
Investigações
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responsabilizou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o Irã, por apoiarem o governo de Bashar al Assad. "Muitos mortos, incluindo mulheres e crianças, em um ataque químico sem sentido na Síria. A área de atrocidades está bloqueada e cercada pelo exército sírio, por isso é completamente inacessível para o mundo exterior. O presidente Putin, a Rússia e o Irã são responsáveis por apoiarem o animal Assad", disse o republicano na rede social Twitter.
Na noite anterior, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert, pediu à Rússia que pare de apoiar o governo sírio e colabore com a comunidade internacional para buscar uma saída para o conflito.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, também pediu hoje para que a Rússia não obstrua a investigação sobre o suposto ataque com armas químicas na cidade síria de Duma, o qual considerou "verdadeiramente terrível".
"Os investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) têm todo o nosso apoio. A Rússia não deve tentar obstruir mais uma vez estas investigações", declarou Johnson em comunicado.
O chefe da diplomacia britânica afirmou que, apesar da "promessa" da Rússia em 2013 de garantir que a Síria "abandonaria todas as suas armas químicas", o regime de Bashar al Assad foi "responsável por utilizar gás venenoso em pelo menos quatro ataques distintos em 2014".
"Se for confirmado que o regime utilizou armas químicas mais uma vez, seria um novo terrível exemplo da brutalidade do regime de Assad e seu desprezo flagrante tanto pelos cidadãos sírios como pelas suas obrigações legais", acrescentou Johnson.
*Com informações da Agência EFE
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