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Internacional

Presidente do Facebook fala no Congresso dos EUA sobre vazamento de dados

A rede social é responsável por uma plataforma com mais de 2 bilhões
Jonas Valente* - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 10/04/2018 - 07:21
Brasília
Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook'
© MANDEL NGAN / AFP

Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook'

Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook' MANDEL NGAN / AFP

Responsável por uma plataforma com mais de 2 bilhões de perfis, o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, terá um dia cheio hoje (10). Ele falará em uma audiência conjunta das comissões Judiciária e de Comércio do Senado dos Estados Unidos (EUA). Amanhã (11), Zuckerberg dará depoimento à Comissão de Energia e Comércio da Câmara de Representantes.

Na pauta, o escândalo do vazamento de dados de mais de 70 milhões de norte-americanos para a empresa britânica de marketing digital e consultoria política Cambridge Analytica (CA). As informações foram repassadas pelo desenvolvedor de um aplicativo de teste de personalidade disponibilizado no Facebook.

Conforme revelou um ex-funcionário da empresa em reportagens publicadas pelos jornais The New York Times (EUA) e The Guardian (Reino Unido) em março, as informações foram usadas pela companhia para criar publicidade personalizada e influenciar eleições em todo o mundo, inclusive a disputa de 2016 que resultou na vitória de Donald Trump.

O presidente da Comissão Judiciária do Senado, Chuck Grassley, afirmou, em comunicado divulgado em seu site pessoal, que as redes sociais revolucionaram a forma de comunicação, usando dados para conectar pessoas em todo o mundo. “Com todos os dados circulando no Facebook e em outras plataformas, usuários merecem saber como sua informação é compartilhada e armazenada”, comentou.

“Esta audiência será uma oportunidade importante de jogar luz em questões críticas de privacidade de dados de consumidores e ajudar os norte-americanos a entender o que ocorre com as suas informações pessoais online”, explicaram os deputados Greg Walden, presidente da Comissão de Energia e Comércio, e Frank Pallone, Jr, em comunicado publicado na página do colegiado.

Facebook na mira

Antes do escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, o Facebook já entrara na mira dos congressistas norte-americanos. Uma investigação foi aberta no Parlamento do país para apurar a influência de pessoas e organizações russas nas eleições de 2016, usando contas e anúncios em redes sociais como Facebook e Twitter.

Outras investigações

O vazamento de dados de usuários do Facebook para a Cambridge Analytica levou à abertura de investigação pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês).

O episódio gerou reações também no Brasil. Segundo comunicado do diretor de Tecnologia da empresa, Mark Schroepfer, mais de 440 mil usuários do país estão entre os atingidos pelo vazamento. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios abriu um inquérito civil para apurar eventuais irregularidades, violações à privacidade e prejuízos aos internautas brasileiros.

Entenda

A Cambridge Analytica e o Facebook foram denunciados em um escândalo de proporções mundiais. A CA passou a ser conhecida por sua atuação na campanha de Donald Trump à Presidência dos EUA e no plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da Eunião Europeia (Brexit). Ela também atuou em processos eleitorais de outros países.

A atuação da companhia já vinha sendo questionada desde as eleições nos Estados Unidos. Em março, a entrevista de um ex-funcionário revelou o esquema de construção de perfis quase individualizados, a partir de questionários e jogos no Facebook (conhecidos como quiz), e de uso dessas informações sem consentimento para influenciar preferências políticas no pleito norte-americano de 2016.

O canal britânico Channel 4 veiculou uma longa reportagem, em que jornalistas disfarçados de políticos interessados no serviço da consultoria filmaram dois de seus principais diretores com câmeras escondidas. Nessas conversas, eles revelam como usam dados coletados de maneira duvidosa, e inclusive ilegal, para moldar a opinião pública durante campanhas.

O CEO (diretor-geral) da empresa, Alexander Nix, chega a mencionar a possibilidade de uso de outros recursos, como o envio de garotas de programa à residência de um candidato para fomentar escândalos que seriam explorados posteriormente. Com a revelação, Nix foi afastado de sua função pelo conselho da Cambridge Analytica.

Mas não foi somente a empresa que teve a imagem em xeque. O Facebook passou a ser contestado por autoridades dos Estados Unidos e do Reino Unido pela forma como permitiu que esse episódio ocorresse. Esses questionamentos levaram à convocação da direção da companhia para prestar explicações públicas nos dois países e resultaram na queda de preço das ações do Facebook, causando um prejuízo bilionário.

No dia 21 de março, o presidente da empresa, Mark Zuckerberg, criticado pelo silêncio ao longo da semana, divulgou um comunicado em sua página na plataforma. Ele disse que o Facebook já havia identificado o repasse de dados à Cambridge Analytica e determinado que fossem apagados.

Diante das revelações do ex-funcionário, Zuckerberg informou que foi suspensa a conta da firma e contratada uma auditoria independente para inspecionar se as informações tinham sido, de fato, eliminadas.

Além disso, o Facebook anunciou uma série de medidas de restrição a aplicativos do uso de dados de seus usuários. Segundo o comunicado, uma ferramenta será disponibilizada para informar o usuário quais os  aplicativos que estão utilizando seus dados e de que forma.

Críticas

O cofundador da Apple, Steve Wozniak, informou que está encerrando sua conta no Facebook. Em e-mail publicado pelo jornal USA Today, Wozniak disse que a empresa "ganha muito dinheiro com publicidade a partir de dados pessoais fornecidos pelos usuários" e que os lucros, baseados nessas informações, não são recuperados pelos usuários das contas.

O ex-agente da Agência Nacional de Segurança Edward Snowden - exilado na Rússia - escreveu em seu Twitter, após o Facebook ter admitido falhas, que a rede social na verdade é uma grande "empresa de vigilância", disfarçada de "mídia social".

*Colaborou Leandra Felipe, dos Estados Unidos

Matéria alterada às 10h47 de hoje (10/04/2018) para acréscimo de informações