Academia Sueca decide não entregar o Nobel de Literatura este ano
A Academia Sueca informou nesta sexta-feira (4) que este ano não será concedido o Prêmio Nobel de Literatura e que a decisão foi adiada para 2019, pelo escândalo de vazamentos e supostos abusos sexuais que a colocaram em uma crise histórica.
O que motivou a decisão da academia, algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial, foi a perda de "confiança" do mundo exterior na própria instituição, devido à crise que provocou a renúncia de oito dos seus 18 membros, dois a menos que os necessários para a tomada de decisões.
Com a medida, no próximo ano serão concedidos dois prêmios, correspondentes a 2018 e a 2019.
Embora o processo de seleção de candidatos para o Nobel de Literatura deste ano tenha ocorrido normalmente, "é necessário que a Academia tenha tempo para recuperar sua força plena, envolver um número maior de membros ativos e restaurar a confiança nela antes de escolher um novo vencedor".
Os dez membros restantes da instituição, que se reuniram ontem para discutir a questão, concordam com a necessidade de desenvolver um novo quadro, uma tarefa que já está em andamento e que inclui modernizar os estatutos e as rotinas sobre parcialidade e reforçar a confidencialidade.
O secretário provisório da Academia Sueca, Anders Olsson, ressaltou, em comunicado divulgado hoje, que a crise atual implica "altas exigências para um trabalho de mudança a longo prazo e contundente".
A Fundação Nobel apoiou a resolução da academia, cuja crise afetou "de forma negativa" o prêmio, e ressaltou que ela não afetará os outro cinco prêmios Nobel.
O escândalo se deu em novembro, quando o jornal sueco Dagens Nyheter publicou a denúncia anônima de 18 mulheres por abusos e humilhações sexuais contra o artista Jean-Claude Arnault, intimamente ligado à academia por meio do seu clube literário e marido de uma de suas integrantes, Katarina Frostenson.
A academia cortou relações com Arnault e encomendou uma auditoria sobre sua ligação com a instituição. Divergências internas sobre as medidas a serem tomadas provocaram renúncias, acusações e as saídas, entre outras, da secretária Sara Danius e de Katarina Frostenson.
Há duas semanas, a Academia Sueca decidiu publicá-la e entregá-la às autoridades, além de anunciar reformas.
O relatório descarta que Arnault tenha influenciado nas decisões sobre prêmios e subsídios, embora o apoio econômico recebido viole as regras de imparcialidade, já que sua esposa é co-proprietária da sociedade que controla o clube, O documento confirma que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi violada em várias ocasiões.
O rei Carlos XVI Gustavo, protetor da academia, anunciou no mês passado uma reforma para permitir a real renúncia dos seus membros, por vontade própria ou após dois anos sem participar ativamente, e a possibilidade de que sejam substituídos.
As renúncias são simbólicas e significam não participar de votações e atividades, uma vez que a associação é vitalícia e novos membros somente são escolhidos quando um deles morre.