Talibã proíbe mulheres afegãs de trabalharem para Nações Unidas
As autoridades talibãs no Afeganistão divulgaram decisão em que proíbem de trabalhar todas as funcionárias afegãs das Nações Unidas. Para a organização, a medida é "inaceitável e francamente inconcebível". A missão da ONU no país anunciou, nesta quarta-feira (5), que vai se reunir com representantes do governo de Cabul para discutir a medida.
“A ONU no Afeganistão expressa séria preocupação com o fato de funcionárias nacionais do sexo feminino terem sido impedidas de se apresentar para trabalhar na província Nangarhar”, escreveu a organização nas redes sociais.
“Lembramos às autoridades que as entidades das Nações Unidas não podem operar e fornecer assistência para salvar vidas sem uma equipe feminina”, acrescentou.
“Os nossos colegas, na missão da ONU no Afeganistão, receberam a notícia de uma ordem que proíbe o trabalho de mulheres do país funcionárias da ONU”, confirmou em entrevista o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas.
Stéphane Dujarric adiantou que a decisão governamental está sendo analisada e como pode afetar as operações no país. Acrescentou que estão previstas reuniões com as autoridades em Cabul.
Após a queda do poder político no Afeganistão para o talibã, em agosto de 2021, a ONU “permaneceu comprometida em ficar e ajudar, enquanto pedia apoio unificado para o povo”. No entanto, as autoridades talibãs no poder têm anunciado decisões, segundo uma “liderança fundamentalista”, incluindo a proibição de as mulheres frequentarem o ensino superior, trabalhar para organizações não governamentais e entrar em diversos espaços públicos.
Proibição inaceitável
Segundo Dujarric, as autoridades talibãs disseram que a proibição se aplica às mulheres de todo o país e não apenas às da província Nangarhar.
“Fomos informados, por diferentes canais, que a proibição se aplica a todo o país”, disse Stéphane Dujarric. “Esperamos ouvir vozes fortes do Conselho de Segurança”.
Para o secretário-geral da ONU, essa proibição é inaceitável e francamente inconcebível”. Ele denunciou a disposição de “minar as capacidades das organizações humanitárias para ajudar quem mais precisa”.
Lembrou que considerando a sociedade e a cultura no Afeganistão, "são necessárias mulheres para ajudar as mulheres", que estão entre as mais ameaçadas pela enorme crise humanitária no país,. Em muitas regiões, não é bem visto que os homens atendam as mulheres, ou vice-versa.
António Guterres condenou veementemente a proibição das funcionárias afegãs de trabalhar. "Se essa medida não for revertida, inevitavelmente prejudicará a nossa capacidade de fornecer ajuda e salvar vidas", lamentou em publicação no Twitter.
Em comunicado, a ONU critica a decisão dos talibãs, classificando-a como "a mais recente de uma tendência perturbadora de decretos" que prejudicam as organizações de ajuda humanitária no país.
“Infelizmente, é preciso dizer que a equipe feminina é essencial para que as Nações Unidas prestem assistência que salva vidas ”, disse também Dujarric. "As mulheres do nosso quadro são essenciais para que as Nações Unidas prestem ajuda vital".
As normas governamentais "violam os direitos fundamentais das mulheres e infringem o princípio da não discriminação”.
“Continuaremos a tentar todos os caminhos para alcançar as pessoas mais vulneráveis, especialmente mulheres e meninas”.
Segundo dados da ONU, entre 30% e 40% do pessoal das organizações humanitárias que entregam, geram, controlam ou avaliam a necessidade de assistência são mulheres. Dujarric acrescentou que a organização tem atualmente cerca de 4 mil pessoas trabalhando no Afeganistão, das quais cerca de 3.300 são do país, embora não tenha revelado quantas são mulheres.
A missão da ONU no Afeganistão confirmou que, nesta quarta-feira, vai se reunir com representantes do governo em Cabul, para discutir a nova interdição governamental.
“Funcionários do sexo feminino são essenciais para garantir a continuação das operações no Afeganistão", destacou a ONU no comunicado. O Afeganistão tem cerca de 40 milhões de pessoas, e as Nações Unidas têm tentado levar ajuda a cerca de 23 milhões de homens, mulheres e crianças.
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