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Internacional

Contagem de vítimas do conflito no Sudão está abaixo dos números reais

Dados oficiais falam em 650 mortos; de ONG cita 1,8 mil mortos
RTP*
Publicado em 02/06/2023 - 15:13
Cartum
Cartum/ Sudão. - Fumaça ascende em edifícios após ataque aéreo, em Cartum, Sudão. Foto: REUTERS/Mohamed Nureldin Abdallah
© REUTERS/Mohamed Nureldin Abdalla
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que o número de mortos no conflito do Sudão, atualizado com base em dados do Ministério da Saúde do país, pode estar muito aquém do número real de vítimas causadas pelos combates.

O porta-voz da organização, Tarik Jasarevic, disse hoje (2) em uma conferência de imprensa em Genebra que as vítimas registadas até agora – 850 mortos e 5,5 mil feridos – correspondem apenas aos números fornecidos pelos hospitais que ainda funcionam no Sudão.

"Não se trata apenas de pessoas feridas no conflito. Há também doentes que não têm acesso aos medicamentos de que necessitam para tratar doenças crônicas", disse o porta-voz.

Jasarevic também se referiu às mais de 20 mil mulheres grávidas que não têm acesso a cuidados pré-natais.

De acordo com a organização não-governamental de monitoramento de conflitos ACLED, a guerra no Sudão já provocou pelo menos 1,8 mil mortos.

Os confrontos no Sudão opõem o exército, chefiado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), liderado pelo general Mohamed Hamdane Dagalo.

Entretanto, o chefe das operações do Crescente Vermelho no Sudão, Patrick Elliott, alertou para o fato de a situação poder agravar-se nas próximas semanas com o início da estação das chuvas no país.

Elliott disse que muitos dos campos onde se encontram as pessoas que fugiram das suas casas podem ficar isolados pela água.

A Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) viu-se obrigada a duplicar o apelo de fundos para a emergência humanitária no Sudão, que chega atualmente a mais de € 60 milhões.

Para além disso, a FICV lançou também um segundo apelo de € 41 milhões para ajudar as pessoas que fogem para os países vizinhos do Sudão.

Atualmente, o Crescente Vermelho considera que "os combates não mostram sinais de abrandamento e o número de vítimas continua a aumentar diariamente".

Esta situação está provocando uma escassez crescente de alimentos, água e combustível, bem como a destruição de hospitais, edifícios residenciais e infraestruturas de energia e água.

No primeiro mês e meio do conflito, a organização enviou 40 mil voluntários para o país africano, fornecendo alimentos a 40 mil pessoas e tratamento médico a 24 mil e procedeu à retirada de 740 feridos.

Gestantes

A falta de apoio médico e assistência hospitalar também coloca em perigo milhares de mulheres grávidas e bebês recém-nascidos.

Segundo as Nações Unidas, mães e bebês correrão sérios riscos a partir da próxima semana devido à falta de combustível utilizado pelos geradores de emergência nos hospitais sudaneses, especialmente na capital, Cartum, devido aos combates.

A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta para o fato de estes constantes cortes de energia terem levado muitos hospitais a suspender os seus serviços de emergência obstétrica e neonatal.

"Dada a extrema insegurança da situação, até o transporte de combustível é uma atividade perigosa. Continuam a registar-se tiroteios e pilhagens no país, e dezenas de instalações médicas foram destruídas", alerta o Fundo das Nações Unidas para a População (Unfpa).

A agência das Nações Unidas para a população calcula que vivam atualmente no Sudão 260 mil mulheres grávidas, 90 mil das quais deverão dar à luz nos próximos três meses.

Para responder às suas necessidades, a agência formou cerca de 27 mil parteiras que "arriscam a vida" para fazer partos em casa, numa situação crítica em termos de recursos: dois dos principais centros de cuidados em Cartum, o hospital Ombada e o hospital Saudi, completamente sobrecarregados e em pleno corte de energia, só podem realizar uma média de 54 intervenções por dia.

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