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Internacional

Bombardeio no Sudão mata 34 pessoas em mercado

Quase três mil civis já morreram no conflito. Seis mil ficaram feridos
Carla Quirino - RTP
Publicado em 14/07/2023 - 08:43
Lisboa
Cartum/ Sudão. - Fumaça ascende em edifícios após ataque aéreo, em Cartum, Sudão. Foto: REUTERS/Mohamed Nureldin Abdallah
© REUTERS/Mohamed Nureldin Abdalla
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Pelo menos 34 civis sudaneses foram mortos esta semana durante um bombardeio indiscriminado num mercado na cidade de Omdurman, a oeste da capital Cartum, de acordo com o Ministério da Saúde. O ataque foi atribuído ao exército sudanês.]

O Sudão tem sido devastado por confrontos entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF). O conflito começou em abril e já matou quase três mil civis e feriu outros seis mil, segundo médicos que trabalham na região.

Omdurman parece um campo de batalha, descreve a população. O mais recente ataque ocorreu às 8h da terça-feira (11), e durou três horas, de acordo com testemunhas. Fontes médicas afirmaram que os projéteis foram disparados da base militar de Karri, controlada pelo exército sudanês, durante combates com as Forças de Apoio Rápido.

Em comunicado, o Ministério da Saúde confirma a morte de pelo menos 34 civis, entre os quais várias crianças. A maioria das vítimas de Shaabi era formada por comerciantes e proprietários de veículos de transporte. Esse bairro é habitado principalmente por membros da tribo Rizagat, e a ela pertencem Mohamed Hamdan Dagalo, chefe da RSF, e muitos membros de sua força principal, o que o torna um alvo das Forças Armadas.

Os moradores da cidade mais populosa do país descreveram esta semana como “a pior para vítimas civis desde o início da guerra em abril”.

Preços disparam

Com a guerra, os preços dos alimentos aumentaram. Muitas pessoas com parcos recursos econômicos passaram a ter que roubar nos mercados para sobreviver.

Um vendedor de vegetais - citado pelo jornal britânico The Guardian - explicou que “a maioria das vítimas era integrada por pessoas que vieram para saquear o mercado. Esse mercado ficou muito perigoso. Para além dos roubos, as pessoas podem simplesmente ser atingidas por bombas e morrer”, acrescentou.

Outro vendedor do mercado testemunhou que, até quinta-feira (13), alguns dos corpos das vítimas ainda permaneciam abandonados no chão sem qualquer pano por cima e que os “corpos de crianças estavam cobertos apenas por caixas vazias”.

Luta pelo poder

As estradas ao redor do mercado e das áreas residenciais de Omdurman foram ocupadas por atiradores do exército, após os combatentes das RSF terem se retirado das posições que ocupavam desde o início do conflito.

No passado sábado (8), 38 pessoas foram mortas no bairro de Dar es Salaam, em Omdurman, durante um ataque aéreo. As Forças de Apoio Rápido atribuíram o bombardeio aos militares.

“Era início da noite e estávamos sentados do lado de fora com amigos quando um caça se aproximou”, disse Mohamed, uma testemunha que mora em Dar es Salaam. “Vimos a luz e ouvimos as explosões. As casas e carros de outras pessoas foram queimados”, contou ele.

O morador relatou que uma família inteira foi morta enquanto dormia. “O pai trabalhava vendendo e comprando gado, é muito triste”, descreveu.

Mohamed acrescentou que alguns dos familiares dos mortos eram membros da RSF. “Eles às vezes trazem os veículos de combate [para o bairro]”, observou. “Esta pode ser a razão pela qual foram alvo. Muitas famílias já deixaram a área”, salientou.

As famílias da tribo Rizigat, de Omdurman, fugiram da cidade desde as hostilidades de sábado. “Temos que ir”, disse uma mulher que estava indo para o estado de While Nile, ao sul da área das três cidades de Cartum. “Eles [o exército] mataram muitos de nossos parentes. Tememos ser alvo de um míssil dentro de nossas casas”.

Em fuga

Mais de três milhões de pessoas abandonaram a área de Cartum desde o início da guerra, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o equivalente a cerca de 50% da população. Os demais moradores  não podem sair por motivos de saúde ou financeiros ou porque vêm das voláteis províncias de Kordofan ou Darfur, onde os combates também foram intensos.

Na quinta-feira, a ONU relatou que os corpos de dezenas de pessoas alegadamente mortas pelo RSF foram descobertos em uma vala comum no oeste de Darfur. El Obeid, capital do estado de Kordofan do Norte, agora está sitiada pelo RSF, e os civis lutam para obter bens essenciais. Os ataques indiscriminados a civis aumentam.

Vários acordos de cessar-fogo mediados por sauditas e norte-americanos entre os rivais em guerra foram insuficientes para acabar com a violência no país.

O secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, alertou que o conflito no Sudão pode levar a uma guerra civil em grande escala.

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