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Internacional

Autoridades líbias receiam que mortos cheguem a 20 mil após inundações

Com corpos em escombros e na água, governo teme risco de doenças
Inês Moreira Santos - Repórter da RTP
Publicado em 14/09/2023 - 07:07
 - Atualizado em 14/09/2023 - 07:19
Trípoli
Pessoas tentam identificar corpos do lado de fora de hospital em Derna, na Líbia 12/09/2023 REUTERS/Esam Omran Al-Fetori
© REUTERS/Esam Omran Al-Fetori

As populações das regiões afetadas pelas inundações na Líbia continuam a procurar os milhares de desaparecidos, e as equipes de resgate pedem mais embalagens para transportar os corpos. Nessa quarta-feira, as autoridades indicavam que o número de mortos era de cerca de 5 mil, mas as estimativas indicam que as vítimas podem chegar até a 20 mil.

As autoridades locais admitem que há a possibilidade de terem morrido aproximadamente 20 mil pessoas na sequência das inundações que assolaram o Leste do país no domingo (10). A informação foi dada pelo prefeito da cidade de Derna à emissora da TV saudita Al Arabiya, considerando as localidades que foram destruídas pelas cheias após o desabamento de duas barragens na noite de domingo.

Ainda não há confirmação de quantas pessoas estão desaparecidas nos escombros ou no mar e as autoridades temem ainda o risco de doenças.

Os dois governos rivais da Líbia – o de Unidade Nacional, reconhecido internacionalmente, e o do Leste do país – têm feito esforços para dar resposta à situação que o país enfrenta e apelado à ajuda internacional, que tem aumentado nos últimos dias.

Nas regiões mais afetadas estão equipes de resgate do Egito, da Turquia e do Catar.

“Na verdade, precisamos de equipes especializadas na recuperação de corpos”, disse o presidente da Câmara de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, à imprensa local. “Temo que a cidade seja infectada por uma epidemia devido ao grande número de corpos sob os escombros e na água.”

Lutfi al-Misrati, responsável pelas equipes locais de resgate, disse à Al Jazeera que o governo precisa de sacos para os corpos”.

Corpos por todo lado

O chefe do Conselho Presidencial – que exerce a função de chefe de Estado – Mohamed al Manfi, declarou, nessa quarta-feira, que "a catástrofe excede a capacidade da Líbia” e insistiu na urgência da ajuda internacional, que começou a chegar progressivamente devido ao difícil acesso à região rodeada de montanhas, submersa e isolada, sem eletricidade nem telecomunicações.

A cidade costeira estava até agora inacessível por via terrestre. As chuvas torrenciais provocaram o rompimento de duas barragens, localizadas a poucos quilômetros de áreas habitadas, despejando 33 milhões de litros de água que varreram bairros inteiros e as quatro pontes que atravessam o Rio Derna até o mar.

O ministro da Aviação Civil afirmou que o “mar está despejando constantemente dezenas de corpos” e que várias embarcações continuam a procurar cadáveres ao longo da costa.

“Os corpos estão por todo lado, dentro das casas, nas ruas, no mar. Onde quer que estejamos, encontramos homens, mulheres e crianças mortas”, disse Emad al-Falah, um trabalhador humanitário de Benghazi. "Perderam-se famílias inteiras".

A tempestade mediterrânea Daniel atingiu muitas cidades do Leste da Líbia, sendo Derna a mais afetada. Enquanto a tempestade castigava a costa no domingo, moradores disseram ter ouvido grandes explosões quando as barragens nos arredores da cidade se romperam.

As águas aumentaram substancialmente o Wadi Derna, um rio que corre das montanhas, atravessa a cidade e deságua no mar.

"Derna foi afetada por ondas de sete metros de altura que destruíram tudo no seu caminho. O número de mortos é enorme", disse Yann Fridez, chefe da delegação do Comité Internacional da Cruz Vermelha na Líbia, à emissora France24.

Derna situa-se numa estreita planície costeira no Mediterrâneo, sob montanhas íngremes que percorrem a área. Apenas duas estradas a partir do Sul podem ser utilizadas, e essas implicam longo e sinuoso percurso pelas montanhas.

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