Presidente da Câmara dos EUA pede inquérito para impeachment de Biden
O presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, o republicano Kevin McCarthy, lançou nesta terça-feira um inquérito de impeachment contra Joe Biden, impulsionando o Congresso em direção a um esforço de longo prazo para remover o presidente democrata após dois impeachments do ex-presidente Donald Trump.
A ação de McCarthy prepara o terreno para meses de audiências polêmicas na Câmara dos Deputados que podem desviar a atenção e os esforços dos parlamentares para evitar uma paralisação do governo e podem tumultuar a corrida presidencial de 2024, na qual Trump espera vingar sua derrota nas eleições de 2020 para Biden e reconquistar a Casa Branca.
"Estou instruindo nossos comitês da Câmara a abrirem um inquérito formal de impeachment contra o presidente Joe Biden", disse McCarthy aos repórteres.
Muitos no partido de McCarthy ficaram furiosos quando a Câmara, então controlada pelos democratas, votou pelo impeachment do ex-presidente Donald Trump duas vezes – em 2019 e 2021 – embora ele tenha sido absolvido em ambos os casos no Senado. Alguns republicanos de linha dura vinham dizendo que tentariam remover McCarthy da liderança da Câmara se ele não seguisse em frente com um esforço de impeachment contra Biden.
Acusação
Os republicanos, que agora controlam a Câmara por uma pequena margem, têm acusado Biden de lucrar, quando era vice-presidente (de 2009 a 2017), com os empreendimentos comerciais estrangeiros de seu filho Hunter Biden. Mas uma investigação do Senado em 2020 e vários meses de apuração pelos republicanos da Câmara neste ano não conseguiram encontrar evidências de irregularidades cometidas por Biden.
"Iremos para onde as evidências nos levarem", disse McCarthy.
Biden já havia zombado dos republicanos sobre um possível impeachment e a Casa Branca disse que eles não têm base para isso.
"Política extrema no seu pior", escreveu o porta-voz da Casa Branca, Ian Sams, nas mídias sociais.
A investigação se concentrará nos negócios de Hunter Biden na Ucrânia, que os republicanos vêm investigando desde antes de conquistarem a maioria na Câmara, neste ano. De fato, o primeiro impeachment de Trump foi motivado por seus pedidos à Ucrânia para investigá-los enquanto ele se preparava para um desafio eleitoral contra Biden.
Nenhum presidente dos EUA jamais foi destituído do cargo por impeachment, mas o procedimento – que já foi uma raridade – tornou-se comum.
Os republicanos têm investigado as atividades comerciais de Hunter Biden há anos, e um promotor federal também está buscando acusações criminais relativas a impostos.
McCarthy disse que os republicanos encontraram evidências de ligações telefônicas, transferências de dinheiro e outras atividades que "pintam um quadro de uma cultura de corrupção" na família de Biden. Ele não citou nenhuma evidência de má conduta do próprio Biden.
McCarthy disse que sua intenção é aumentar a capacidade dos investigadores de obter informações, e não chegar a um resultado predeterminado. "É só isso que estamos fazendo. Os Estados Unidos precisam das respostas", disse ele aos repórteres.
Eles iniciarão os trabalhos sem uma votação na Câmara, como foi feito antes do primeiro impeachment de Trump. Essa votação não é necessária, mas pode acrescentar legitimidade ao esforço.
Ainda não se sabe se McCarthy terá apoio suficiente da maioria de 222 republicanos a 212 democratas para que a votação seja bem-sucedida.
O senador republicano Mitt Romney, uma das vozes mais moderadas do partido, disse que estava confortável com a medida.
"O fato de a Casa Branca ter permanecido em silêncio e ter afagado Hunter Biden sugere que uma investigação não é inadequada", disse Romney aos repórteres.
Os democratas criticaram o inquérito como um esforço para desviar a atenção das próprias dificuldades dos republicanos para governar, bem como dos problemas legais de Trump, que enfrenta quatro indiciamentos criminais separados enquanto concorre à indicação presidencial de seu partido para enfrentar Biden em 2024.
Trump tem pressionado os republicanos para tentar destituir Biden do cargo. Vários republicanos extremistas disseram que não votariam a favor de projetos de lei de gastos, a menos que McCarthy autorizasse um inquérito de impeachment. Se o Congresso não aprovar esses projetos de gastos até o início do novo ano fiscal, em 1º de outubro, grande parte do governo dos EUA terá de fechar as portas.
A Constituição dos EUA autoriza o Congresso a acusar autoridades federais, incluindo o presidente, por traição, suborno e "outros crimes e contravenções graves". Um presidente pode ser destituído do cargo se a Câmara aprovar artigos de impeachment por maioria simples e o Senado votar por maioria de dois terços para condenar após a realização de um julgamento.
Qualquer esforço pelo impeachment de Biden dificilmente terá sucesso. Mesmo que a Câmara vote a favor – uma perspectiva incerta, dada a estreita margem de votos – é quase certo que a tentativa fracassará no Senado controlado pelos democratas.
Trump é o único presidente dos EUA que teve procedimentos de impeachment abertos duas vezes. Ele foi absolvido em ambas as situações, após julgamentos no Senado, graças aos votos de seus pares republicanos que impediram a Casa de alcançar a maioria de dois terços necessária para a condenação.
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