Vencedor de extrema-direita na Holanda procura coligação para governar
Em sentido contrário às expectativas, o líder da extrema-direita na Holanda, Geert Wilders, venceu as eleições legislativas no país. Esta quinta-feira (23), o anti-islamita e anti-europeísta vai começar a busca por parceiros para uma coligação, procurando obter uma maioria e assegurar, assim, o seu recém-entregue poder.
Superando as previsões e sondagens, o líder do Partido da Liberdade (PVV) conquistou 37 dos 150 lugares no Parlamento holandês, com praticamente todos os votos contados.
Já a coligação entre os partidos Trabalhista e Verde conquistou 25 lugares, enquanto o conservador Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), do ainda primeiro-ministro Mark Rutte, ficou com 24.
Fã assumido do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, Wilders prometeu travar toda a imigração, reduzir os pagamentos da Holanda à União Europeia e bloquear a entrada de novos países no bloco comunitário, incluindo a Ucrânia, que tem neste momento estatuto de candidata. "A era de Rutte chega ao fim com uma revolta populista de direita que abala [Haia] até aos seus alicerces", lê-se na edição desta quinta-feira do diário holandês de centro-direita NRC.
Para assegurar o seu novo cargo, Wilders precisa, porém, de alcançar uma maioria parlamentar, algo que apenas será possível numa coligação entre o seu Partido da Liberdade (PVV), o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD) e o partido Novo Contrato Social (NSC), do legislador centrista Pieter Omtzigt. Essa união resultaria em 81 lugares no Parlamento.
As negociações entre as partes dessa eventual coligação podem, no entanto, demorar vários meses, já que nenhum dos possíveis aliados partilham das convicções anti-UE de Wilders. Antes dos resultados eleitorais, esses três partidos frisaram que não participariam numa coligação com o líder do PVV.
Coligação à vista?
"Estou confiante de que podemos chegar a um acordo", disse, no entanto, o primeiro-ministro eleito no seu discurso de vitória na noite de quarta-feira (22). "Queremos governar e vamos governar", assegurou.
O anti-islamita e anti-europeísta pode não estar errado, visto que, após a surpresa de quarta-feira, a oposição tem alterado o seu discurso. "Este foi um resultado difícil. Vamos discutir na quinta-feira de que forma podemos dar a melhor contribuição", declarou o partido NSC.
Já a líder do VVD, Dilan Yesilgoz, que no início da semana tinha garantido que não se juntaria a um governo liderado por Wilders, disse entretanto que cabia agora ao vencedor mostrar que consegue alcançar uma maioria.
Os partidos vão encontrar-se esta quinta-feira para discutir os próximos passos no cenário político da Holanda. Na sexta-feira (24), os líderes partidários vão eleger uma personalidade política externa independente a quem vai caber ouvir as várias partes, podendo assim retirar conclusões sobre as possibilidades governativas futuras. "A preocupação e o medo são enormes", avaliam.
A vitória de Geert Wilders representa um alerta para os principais partidos dos países da UE antes das eleições para o Parlamento Europeu, em junho do próximo ano, que provavelmente serão marcadas por questões semelhantes às que determinaram os recentes resultados na Holanda: a imigração, o custo de vida e as alterações climáticas.
A surpresa nas legislativas neerlandesas causou, aliás, receios entre organizações islâmicas. "A preocupação e o medo são enormes", disse à agência de notícias ANP Habib el Kaddouri, líder de uma organização que representa os marroquino-neerlandeses. "Temos medo de que ele [Wilders] nos pinte como cidadãos de segunda".
Depois da sua vitória, Wilders comprometeu-se a "devolver os Países Baixos [Holanda] aos holandeses, travando o tsunami de asilo e de migração". O líder tinha anteriormente prometido "encontrar formas de cumprir as esperanças dos eleitores, colocando os holandeses novamente em primeiro lugar".
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