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Internacional

ONU "chocada" com declaração de ministro israelense sobre fome em Gaza

Smotrich admitiu que Israel usa a fome como arma de guerra
Agência Lusa
Publicado em 09/08/2024 - 11:12
Lisboa
Volker Turk em Genebra
 11/12/2023   REUTERS/Denis Balibouse
© REUTERS/Denis Balibouse/Proibida reprodução
Lusa

O alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos disse, nesta sexta-feira (9), que está "chocado" com as declarações do ministro das Finanças de Israel de extrema-direita, Bezalel Smotrich, que admitiu matar de fome os habitantes da Faixa de Gaza.

Interrogado no início desta semana durante um colóquio sobre o futuro da Faixa de Gaza, onde Israel intervém militarmente há mais de dez meses, Smotrich disse que "poderia ser justificado e moral provocar a morte pela fome de 2 milhões de civis para libertar os reféns" israelenses que permanecem retidos desde o ataque do movimento islamita palestino Hamas em 7 de outubro.

O Alto-comissário Volker Turk, "está chocado e consternado pelas declarações do ministro, segundo as quais seria justificado e moral deixar morrer de fome dois milhões de palestinos em Gaza para libertar os reféns", declarou seu porta-voz Jeremy Laurence, durante a habitual conferência de imprensa.

"[Turk] Condenou com a maior firmeza estas declarações, que incitam igualmente ao ódio contra os civis inocentes", disse, sublinhando que "o fato de provocar a fome a civis como método de guerra é um crime de guerra".

"Esta declaração pública pode incitar que se cometam outros crimes atrozes", insistiu.

O porta-voz disse ainda que "estas declarações, em particular de representantes públicos, devem terminar imediatamente", e "devem ser alvo de um inquérito", em primeiro lugar pelo Estado de Israel.

"Trata-se assim de um apelo imediato às autoridades israelenses para que vigiem este tipo de comportamento (...). É a primeira etapa. É da responsabilidade dos israelenses", afirmou Laurence.

Repercussão

As declarações de Smotrich provocaram reações de indignação entre diversas instâncias internacionais e governos.

Desde o início do atual conflito na Faixa de Gaza, desencadeado em 7 de outubro, que a situação humanitária no pequeno território palestino é considerada desastrosa, com quase todos os 2,4 milhões de habitantes forçados a constantes deslocamentos internas, e confrontados com uma penúria alimentar generalizada.

A guerra em curso entre Israel e o Hamas começou após um ataque sem precedentes do grupo islamita ao Sul de Israel que deixou cerca de 1,2 mil mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelenses.

Segundo o Exército de Israel, entre as 251 pessoas sequestradas, 111 permanecem retidas em Gaza, das quais 39 já morreram.

O Exército israelense respondeu com uma devastadora campanha militar de represálias em Gaza que já provocou cerca de 40 mil mortos -- onde se incluem pelo menos 14 mil crianças --, cerca de 92 mil feridos e um número indeterminado sob os escombros, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

"Repetimos o que já afirmamos por diversas vezes, que deve haver um cessar-fogo imediato, todos os reféns devem ser libertados, e [pedimos] o envio sem restrições de ajuda humanitária a Gaza", afirmou Laurence.