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Internacional

ONU alerta para agravamento da situação humanitária em Goma, no Congo

Cidade foi tomada pelo Movimento 23 de Março, após confrontos
Lusa*
Publicado em 31/01/2025 - 10:34
Kinshasa (RDC)
Agentes de segurança de Ruanda recebem pessoal humanitário e suas famílias que fogem de Goma, no leste do Congo
 27/1/2025   REUTERS/Jean Bizimana
© Jean Bizimana/Reuters/proibida a reprodução
Lusa

O coordenador da Organização das Nações Unidas (ONU) na República Democrática do Congo (RDC), Bruno Lemarquis, alertou que a cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, enfrenta situação humanitária "extremamente grave" na sequência dos combates.

Situada no norte da RDC, a cidade foi tomada pelo Movimento 23 de Março (M23) na segunda-feira (27), após vários dias de intensos confrontos bélicos. 

"A situação humanitária é extremamente grave em Goma e exige atenção imediata da comunidade internacional. Em nome da comunidade humanitária na RDC, apelo ao respeito pelo direito humanitário internacional e à proteção dos civis por todas as partes", afirmou Lemarquis nas redes sociais.

Ele advertiu que Goma enfrenta necessidades humanitárias, enquanto a capacidade de resposta está "gravemente afetada" e as instalações médicas encontram-se lotadas. 

Entre 23 e 28 de janeiro, afirmou Lemarquis, os hospitais da cidade - apoiados pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - trataram mais de mil feridos. 

"Muitos feridos civis foram vítimas de tiros e de explosões de artilharia pesada", disse.

Lemarquis avisou que os necrotérios da cidade de Goma "estão transbordando" e que os corpos foram "abandonados" nas ruas da cidade, representando risco para a saúde dos sobreviventes.

Um dirigente da sociedade civil local disse à agência de notícias espanhola EFE que pelo menos 111 corpos de civis, rebeldes e soldados foram recolhidos entre quarta-feira e quinta-feira desta semana nas ruas da cidade.

Por outro lado, Lemarquis denunciou que vários centros de saúde e armazéns foram saqueados, o que compromete a resposta humanitária.

Esses ataques, que, segundo o comissário, visaram o material armazenado das agências da ONU e das organizações não governamentais humanitárias, implicaram a perda de quantidades significativas de alimentos, medicamentos e equipamento médico essencial.

O representante da ONU alertou também para o fato de os serviços básicos em Goma terem sido paralisados, já que a distribuição de eletricidade e de água potável foi cortada durante vários dias, obrigando a população a recorrer diretamente à água não tratada do Lago Kivu, expondo milhares de pessoas ao risco de contrair doenças como a cólera.

O coordenador apelou ainda à "recuperação imediata e sustentada" das operações no aeroporto internacional de Goma, que está sob controle do M23 desde terça-feira.

A atividade armada do M23 recomeçou em novembro de 2021 com ataques contra o Exército de Kinshasa, apoiado por milícias aliadas, no Kivu do Norte e, desde então, avançou em várias frentes até chegar a Goma, a capital da região onde vivem 2 milhões de habitantes. 

Desde 1998, o leste da RDC enfrenta um conflito entre milícias e o Exército, apesar da presença da missão de manutenção de paz da ONU (Monusco).

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