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Internacional

Cardeal italiano condenado por fraude renuncia à presença no conclave

Comunicado foi feito nesta terça-feira por dom Angelo Becciu
Lusa*
Publicado em 29/04/2025 - 06:55
Roma
FILE PHOTO: Cardinal Angelo Becciu, who was convicted of embezzlement and fraud and sentenced to five-and-a-half years in jail, gestures during the taping of the television talk show
© Reuters/Guglielmo Mangiapane/Proibida reprodução
Lusa

O cardeal italiano Angelo Becciu, condenado por fraude financeira no Vaticano, comunicou nesta terça-feira (29) que não vai participar do conclave para “obedecer à vontade do papa Francisco”.

Becciu tem participado das Congregações Gerais, reuniões de cardeais que são feitas quase diariamente no período de Sede Vacante para fazer a gestão cotidiana do Vaticano, mas, segundo duas fontes contactadas pela Lusa, teriam sido mostradas a ele cartas assinadas por Francisco dizendo que não o queria no conclave.

“Tendo em mente o bem da Igreja, que servi e continuarei a servir com fidelidade e amor, bem como contribuir para a comunhão e a serenidade do conclave, decidi obedecer, como sempre fiz, à vontade do papa Francisco de não entrar no conclave, mantendo-me convencido da minha inocência”, afirmou, em comunicado, o cardeal, de 76 anos.

Becciu, nascido na Sardenha, era muito próximo do papa e foi nomeado cardeal por Francisco, tendo assumido responsabilidades elevadas na Cúria romana, particularmente na Congregação para a Causa dos Santos e na Secretaria de Estado.

Por desvios financeiros, entre eles a aquisição de um imóvel de luxo em Londres com dinheiro de uma coleta anual para obras de caridade, o antigo conselheiro de Francisco foi condenado, no final de 2023, em primeira instância, a cinco anos e meio de prisão, pela Justiça da Santa Sé.

O cardeal recorreu da sentença e aguarda em liberdade o recurso.

Em 2020, foi afastado de quaisquer funções, mas conservou o título de cardeal.

Após a morte de Francisco, na semana passada, o cardeal disse à imprensa italiana que poderia participar do conclave.

Becciu está abaixo do limite de idade de 80 anos e tecnicamente apto para votar, mas as estatísticas oficiais do Vaticano o relacionam como “não eleitor”.

O documento do Vaticano que regula um conclave, conhecido pelo seu nome latino Universi Dominici Gregis, estabelece os critérios para os eleitores, deixando claro que os cardeais com menos de 80 anos têm o direito de eleger o papa, exceto aqueles que foram “canonicamente depostos ou que, com o consentimento do Romano Pontífice, renunciaram ao cardinalato”.

Após a morte de um papa, “o Colégio dos Cardeais não pode readmiti-lo ou reabilitá-lo”, diz o documento.

Em 2020, os serviços de imprensa do Vaticano informaram que Francisco havia aceitado a renúncia de Becciu como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos “e seus direitos ligados ao cardinalato”.

Depois de forçar a demissão de Becciu, Francisco o visitou em algumas ocasiões e permitiu que ele participasse da vida do Vaticano, mas também alterou a lei para permitir que o tribunal criminal da cidade-Estado o processasse.

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