Rio: ex-secretário diz que corrupção envolveu Corpo de Bombeiros
O ex-secretário de Saúde do Rio Sérgio Côrtes disse que o esquema de corrupção e propina no estado envolveu o Corpo de Bombeiros, entidade subordinada à secretaria na época. Ele prestou depoimento nesta quarta-feira (22) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no âmbito da Operação Fatura Exposta, um desdobramento da Lava Jato.
“Eu recebi recursos no exterior, isso ocorreu em 2011. Recursos indevidos da minha atuação na Secretaria de Saúde e Defesa Civil, que engloba o Corpo de Bombeiros”, disse Côrtes, que confirmou ao juiz que recebia propina por negócios nos Bombeiros, que era repartida com outros subcomandantes, responsáveis pelo setor de licitações.
Côrtes disse que o ex-governador Sérgio Cabral peguntou ao empresário Miguel Iskin, réu no processo e que atualmente se encontra preso, se ele conhecia empresas que representavam equipamentos e que, em reunião posterior, ficou definido que Iskin representaria multinacionais de equipamentos nas licitações. Ele disse ainda que o esquema de fraudes continuou após sua saída do governo.
Também foram ouvidos nesta quarta-feira a esposa de Côrtes, Verônica Fernandes Vianna, e os empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita. O advogado de Côrtes, Rafael Kullmann, admitiu que o dinheiro recebido por seu cliente não se tratava de caixa-dois para uma possível candidatura, mas sim de propina ligada à corrupção.
“A origem do dinheiro é de um ajuste ilícito. Corrupção. Não é caixa-dois de campanha, até porque não houve campanha”, disse Kullmann à imprensa, após o interrogatório.
O advogado que representa Iskin e Estellita, Alexandre Lopes, negou que Iskin tivesse pagado propina a Côrtes e que o dinheiro seria para uso eleitoral. Ele também negou que seu cliente tivesse ligação com supostos casos de corrupção nos Bombeiros. “O Miguel Iskin alega que o dinheiro era para uma base parlamentar futura e hoje o Côrtes fala que era vantagem indevida. Na visão da defesa do Miguel, isso não era propina. [Sobre a corrupção nos Bombeiros] o Miguel Iskin desconhece esse fato”, sustentou Lopes.
A Secretaria de Estado de Defesa Civil foi desvinculada da Secretaria de Estado de Saúde em junho de 2011. A corporação informa que desconhece o conteúdo das declarações e está a disposição das autoridades caso seja necessário.
Histórico
De acordo com as operações Fatura Exposta e Ressonância, desdobramentos da Lava Jato no Rio, as fraudes envolvendo contratos no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) tiveram origem em 2002, quando Côrtes assumiu a direção-geral do instituto. Nessa época, cláusulas restritivas de competitividade foram incluídas nas licitações para privilegiar as empresas importadoras de materiais e insumos, de propriedade de Iskin e Estellita.
Posteriormente, quando outras empresas nacionais passaram a preencher os requisitos exigidos, Côrtes adotou a estratégia de realizar pregões internacionais para a compra de equipamentos.
Ao assumir o governo do estado em 2007, Cabral nomeou Côrtes como secretário de Saúde. Na pasta, ele implantou um esquema de corrupção, cartel e fraude em licitações nos moldes similares ao praticado no Into, sempre com a participação de Iskin e Estellita.