Marcos Pontes inspirou milhares de jovens, diz cientista brasileiro na Nasa
Responsável por mapear a presença de cientistas brasileiros nas unidades da agência espacial norte-americana (Nasa), o pesquisador visitante da Nasa Ivan Paulino Lima avaliou a ida do astronauta brasileiro Marcos Pontes ao espaço como um feito histórico para o país. Às vésperas do dia em que se completam dez anos que Pontes partiu rumo à Estação Espacial Internacional, Lima disse que o astronauta é um “genuíno herói nacional”.
Biólogo de formação, Lima pesquisa a vida biológica no espaço, no Centro Ames, localizado em Moffett Field, na Califórnia. “Eu estudo micro-organismos e suas relações com fatores ambientais extraterrestres, micro-gravidade, radiação espacial e diferentes tipos de atmosferas”, explica o pesquisador brasileiro. A parceria dele com a Nasa é fruto de seu trabalho de pós-doutorado na área.
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O astronauta brasileiro Marcos Pontes, quando foi ao espaço em 2006
Em entrevista ao Portal EBC, Lima avaliou a importância de Marcos Pontes para a história da astronáutica no Brasil e falou sobre seu trabalho de mapear brasileiros que atuam na Nasa. “O astronauta Marcos Pontes é genuinamente um herói nacional, que continua a sua luta independente em prol da educação, ciência e tecnologia. Nós, brasileiros, que conseguimos nosso espaço na Nasa, temos a responsabilidade de contribuir para melhorar essa perspectiva, através da divulgação científica, influenciando a opinião pública e as políticas públicas”, afirmou.
O pesquisador visitante da Nasa Ivan Paulino Lima estuda micro-organismos e suas relações com fatores ambientais extraterrestre. Paralelamente a seus experimentos, ele pretende mapear todos os brasileiros que trabalham atualmente em diferentes centros da Nas
O pesquisador também explicou como é o comportamento de micro-organismos no espaço. Até o momento, Lima já identificou 14 brasileiros, incluindo Ramon Perez de Paula, que trabalha no quartel-general da Nasa, em Washington, e Jacqueline Lyra, envolvida no controle térmico de várias sondas espaciais desde a missão Galileo, que visitou o sistema do planeta Júpiter no início da década de 1990.
Apesar de estar hoje na Nasa, Lima se considera uma exceção. “A exploração espacial ainda é percebida como algo distante para os brasileiros em geral”. Para ampliar o interesse brasileiro, o pesquisador atua na divulgação de um concurso anual da Nasa sobre colonização espacial que recebe inscrições de alunos de todo o mundo com até 18 anos.
Será que há micróbios no espaço?
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A Nasa desenvolve projeto de colonização do planeta Marte para as próximas décadas, tendo como meta levar tripulantes em uma viagem somente de ida
Além da falta de evidências da presença de micro-organismos no espaço, o cientista explica que o ambiente espacial é extremamente inóspito para qualquer forma de vida conhecida. “Além disso, o nível de isolamento térmico e de pressão, tanto dos trajes que os astronautas usam em suas atividades extra-veiculares, quanto da própria ISS, já representa uma grande barreira física para troca inadvertida de qualquer tipo de material [gases ou partículas]", relatou.
Lima disse que os cientistas não conseguiram encontrar relatos convincentes sobre qualquer ocorrência do tipo até o momento. “Os relatos ufológicos são tratados pela comunidade científica como pseudociência, pois não sobrevivem ao crivo científico da avaliação minuciosa”, complementa. Ele lembra também que todos os astronautas que vão à estação espacial carregam consigo trilhões de micro-organismos "como parte da microbiota natural do corpo de qualquer ser humano”.
Depois do espaço, colonizaremos Marte?
A Nasa desenvolve um projeto de colonização do planeta Marte para as próximas décadas. A audaciosa missão pretende levar tripulantes em uma viagem somente de ida. Caso ocorra, os passageiros terão que enfrentar um ambiente de gravidade reduzida e radiação aumentada.
“A gravidade do planeta Marte é cerca de 38% da gravidade da Terra, ou seja, qualquer material lá [incluindo o corpo humano] pesa apenas 38% do peso aqui na Terra”, acrescenta Lima. Se, por um lado, sentir-se mais leve pode ser uma vantagem para o deslocamento, por outro, o risco de câncer aumenta com a radiação cósmica. O pesquisador cita que essas doenças podem surgir após alterações genéticas causadas pela radiação.
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